Além da Sua Escuridão - L.S. Louise

Capítulo 3. Lia

 Seis anos antes...

Papai parece preocupado hoje. Ele está com aquela marca na testa de quando está preocupado, passando a mão pelos cabelos enquanto olha os papeis na mesa do seu escritório. Seus olhos asiáticos estão sem aquele brilho de sempre. Meus olhos são parecidos com os de papai mas todo resto é da mamãe, ela não é do Japão como ele, ela é dos Estados Unidos, na Carolina do Sul.

Papai acha que não sei porque ainda sou criança, mas ele está preocupado com dinheiro. Ouvi ele dizer para mamãe que precisamos de dinheiro para pagar o homem que vem às vezes conversar no escritório de papai.

Subo para meu quarto e pego meu porquinho, isso pode ajudar. Corro pelas escadas até chegar perto do escritório, mas paro quando escuto a conversa que vem de dentro.

- Devemos mandá-la para ficar com Aidan, ele pode nos ajudar. - disse mamãe com voz chorosa.

- Não podemos. - Papai suspira.- Aidan acabou de perder a esposa, não posso pedir algo assim para ele, o colocaria ele e o filho em perigo também.

- Mas se ele fizer algo, o que faremos, Michael? - mamãe está chorando.

- Ele não vai. Podemos apenas... - alguém bate na porta.

Mamãe começou a chorar mais forte agora, o que aconteceu? Papai sai do escritório e me encontra.

- Amélia, sabe aquele esconderijo que nunca te acho quando brincamos de esconde-esconde?

Atualmente...

A vida não nos avisa quando vamos cair. Ela simplesmente joga as informações e espera que aceitemos. Eu agradeço o fato de já ter escutado essa palestra três vezes, caso contrário eu não saberia nada. O passado está se passando repetidamente na minha cabeça, cenas e mais cenas que eu bloqueei por tanto tempo. Minha perna está tremendo e meu dedo está a ponto de sumir de tanta pele que arranquei com meus dentes. Caleb Adkins voltou e estava vestindo o uniforme do Greenville, a camisa, a gravata, as calças, o terno todo. Caleb não é apenas parte do meu passado, ele é um fantasma. Meu fantasma.

Levanto tão bruscamente que recebo alguns olhares. Não me importo, apenas preciso sair daqui e voltar ao meu dormitório, ir ao banheiro ou algo assim. Preciso pensar. Desço as escadas e corro pelos corredores até o banheiro mais próximo. Entro na primeira cabine e vomito tudo o que comi na noite passada.

Deus, por favor, não me permita voltar a ser aquela menina.

Fico sentada ao lado do vaso sanitário e seguro os cabelos com força. Meu Deus, não. Por favor, me acorde desse pesadelo.

Perco a noção de quanto tempo fico fora. Todas as possibilidades, os "e se" que se passam pela minha cabeça. Levanto caminho para a pia para lavar meu rosto. Sinto que estou ficando febril. Meu olhar está com medo. Não! Eu não serei essa menina novamente. Pego meu celular e olho o horário, faltam apenas dez minutos para o café da manhã ser liberado. Arrumo meu cabelo e visto a máscara fria novamente. Ao empurrar a porta do banheiro e virar a esquina do corredor duas mãos me agarram e me prensam na parede mais próxima. Olhos negros como a noite. Tento gritar mas minha boca e pescoço estão envolvidos por Caleb, seu corpo cobrindo totalmente o meu. Bato em seu rosto e tento empurrá-lo, mas é como se ele não sentisse. Eu reconheço esse olhar, olhar de quem quer matar, os vi muitas vezes através do espelho.

- Você não sabe o quanto eu estou me segurando para não manchar essas paredes com seu sangue, Amélia. - Amélia. Ele nunca me chamava assim. - Mas seria fácil demais. - Seu tom possui um ódio palpável. Caleb é a personificação de todos meus terrores noturnos. Sei que meu olhar deve estar transparecendo medo nesse momento, mas não posso deixar isso me dominar. Não consigo chutá-lo, seus joelhos estão segurando minhas coxas, não posso gritar ou correr. Estou presa. O pânico começa a se instalar rapidamente.