Capítulo 7. Lia

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- Não pense que não sei seu esquema, Amélia. - Diz a psicóloga sentada na cadeira à minha frente. - Aparece uma vez por mês para constar em sua avaliação final, mas falta o resto das consultas.

Eu não sou boba ao ponto de pensar que ela não perceberia isso logo, mas esperava que ela não tocasse no assunto. No ano passado tivemos uma conversa parecida, sobre minha resistência a falar sobre o passado, não deu em nada, pois continuo sem vontade de falar. Ou melhor, com medo de falar.

- Precisamos falar sobre isso? - pergunto. - Podemos apenas ficar cada uma mexendo em seus celulares, você ganha seu salário normalmente e eu fico quieta.

- É esse tipo de profissional que você pensa que sou? - Ela pergunta, não ofendida, mas curiosa. - Eu estou aqui com um único objetivo: conhecê-la e ajudá-la com os problemas que você está passando. Assim, você sai daqui melhor e livre.

- O problema não é você, Dra. Lopez. Eu só não quero falar sobre o passado. Me pergunte sobre outras coisas. Minha cor favorita, meus hobbies...

- E que tal o ocorrido da semana passada? - ela pergunta. - Você não falou sobre. Fiquei em silêncio sobre o assunto esperando que você comentasse. - Ela me analisa por um segundo. - Os professores disseram que você parecia atordoada ao sair de lá. Quer falar sobre isso?

Encaro ela, analisando suas feições, parece descontraída e curiosa, mas a expressão de esperança como se estivesse ansiando para que algo dê certo a entrega. Algo interessante sobre mim é que sempre consigo dizer se a pessoa está falando a verdade, mesmo que eu não confronte sobre o assunto, eu sei se estou falando com ou mentiroso ou não. E Dra. Lopez não está sendo verdadeira. Deve ser um daqueles truques de dizer algo que poderia ser verdade para que a pessoa responda exatamente o que você quer ouvir. Ela quer saber se o suicídio de Olivia me afetou, provavelmente tentando pescar algo sobre meu passado. Dra. Lopez é mexicana, tem dois filhos, está casada com um americano há dez anos e está aqui há dois, substituindo a outra que estava se sentindo sobrecarregada demais para lidar com nossos problemas. Ela tem uma pele bronzeada, olhos verdes e cabelos pretos, pintados. Nessa sala, com livros e suculentas penduradas pelo teto, ela até parece confiável. Decido cair em seu jogo.

- Sim, eu fiquei um pouco tonta. - respondo com um suspiro, isso realmente é uma verdade. - Em um minuto estava na sala e no outro corri pelos corredores procurando por quem poderia ser a vítima da vez. Fiquei preocupada de ser Camila.

- Camila? Sua colega de quarto? - Eu concordo e ela anota algo em seu caderno. - Por que você acha que poderia ser ela? Viu algo diferente nesses últimos dias?

Os remédios. Mas não posso falar sobre isso, caso contrário vão chamar os pais dela e Camila iria detestar isso.

- Nada. - minto. - Mas é sempre bom ficar de olho nos depressivos. - rio um pouco, mas ela não gosta da piada. - Brincadeira, doutora, brincadeira. Eu me importo com ela.

- Eu sei, é perceptível. - ela anota algo e seus grandes olhos verdes se conectam com os meus. - Nosso tempo está acabando, mas gostei de você ter falado algo hoje, Lia.

- Que bom. - digo me levantando. - Até mês que vem, doutora. - Vou até a porta e a encaro com um olhar brincalhão. - Estou brincando, vamos nos ver antes. Não morra de saudade. - Deixo um beijo no ar e saio da sala, encontrando mais algum pessoal que está esperando para sua consulta.

Por mais que eu não admita com frequência, minhas conversas com a psicóloga me ajudam bastante. Falo sobre coisas que normalmente não digo em voz alta, pensamentos e ações que tive em segredo, sem medo de ser julgada por ser louca. Falo sobre o fato de eu amar Camila e gostar da companhia de Luke e Ryan, mas ter um pouco de desconfiança de Will. Falo sobre os professores que me estressam e meu medo de escuro, apesar de ser apenas isso que comento relacionado ao tema "medos". Mas não falo sobre o que aconteceu com meus pais, o motivo que me levou a quase matar Anna Berry ou Caleb. Caleb. O vejo nas aulas mas desde que trocamos olhares quando ele estava no prédio em que Olivia se matou Caleb não me olhou mais. Isso deveria me aliviar, mas está me assustando. De alguma maneira, eu sei que em algum momento ele vai me atacar novamente. Luke, Ryan e Will estão estranhos comigo, despejando desculpas para não nos encontrarmos e sempre pendurados com Caleb.

Além da Sua Escuridão - L.S. LouiseOnde histórias criam vida. Descubra agora