Além da Sua Escuridão - L.S. Louise

Capítulo 14. Lia

Seis anos antes...

Mesmo que eu seja criança, eu não sou boba. Papai e mamãe estavam escondendo alguma coisa de mim, pois papai disse para eu ficar no esconderijo, mas ele não está brincando. Aqueles homens gigantes estão aqui para machucá-lo, eu sei disso. Escutei o barulho das escadas do porão há mais ou menos dez minutos e ouvi mamãe gritar algumas vezes, mas agora ela parou.

Caminho devagar até o telefone da casa. Quando eu era menor, mamãe me fez decorar todos os números que me deixam segura, o da polícia, dos bombeiros, dos médicos... agora eu preciso do número dos policiais. Pego o telefone e começo a discar, o telefone chama, mas antes que alguém atenda, alguém me tira do chão.

- Olha só o que temos aqui, Jeff. - O gigante grita para o porão, me levando até lá.

Eu grito até minha garganta doer, estou chutando ele mas não o homem não me solta.

- Não, Amélia! - Papai está gritando, ele está com medo e quando papai está com medo eu também fico. - Por favor, deixem ela em paz, ela é apenas uma criança!

- Papai! - Eu grito quando o homem me joga no chão.

Caio em cima do ombro e dói muito. Olho para o porão, está muito escuro, há apenas uma lâmpada ligada. Mamãe está dormindo, com o rosto sangrando, jogada no chão, e papai está amarrado perto dos canos, com as mãos para trás. O homem que me trouxe se abaixa e me olha, ele é loiro, tem olhos verdes e uma cicatriz enorme no rosto. Ele pega meus braços e me amarra na parede longe de papai, ao lado da mamãe. Estou chorando muito e meus olhos estão embaçados.

- Caio, deixe ela ir. - O outro homem que estava no porão diz. - Ela é só uma criança, não tem nada a ver com a dívida.

- Cala a boca! - Ele grita e eu me assusto, chorando mais. - Ela é uma garantia.

- Por favor, eu faço qualquer coisa para você deixá-la ir, Jeff. - Papai está chorando.

- Papai, não chora! - Eu grito para ele. Quando ele chora eu fico com medo.

- Meu amor, vai ficar tudo bem, OK? - Papai fala. 

- O papai fez algo que não é legal, pequena. Então ele deve pagar. - O monstro da cicatriz fala, ele tem algo nas mãos. Uma arma.

- Você pode levar a minha casa, fique com tudo! Apenas deixe minha filha...

- Cala a boca, porra! - Ele vai até meu pai. - Isso não é mais sobre dinheiro, são princípios.

- Jeff, a criança. - O outro moço fala.

- Deixe ela aí, porra! - Ele parece um louco. - Ela deve aprender desde cedo o que acontece com quem mexe comigo!

O gigante da cicatriz pega a arma e coloca na cabeça do papai, e ele me olha com olhos arregalados. Começo a gritar para que ele não faça nada, mas ele não me escuta.

- Espera... - ele para. - Tenho uma ideia melhor. - Ele diz vindo até mim e se abaixando na minha altura. - Apenas matá-lo seria muito fácil não é?

- Jeff, isso está indo longe demais. - O amigo fala. - Ela é só uma criança, porra!

- Então vá embora! - Ele grita. - Quando você entrou para esse mundo eu lhe disse que coisas assim aconteceriam!

- Você passou dos limites. - O outro gigante diz indo embora.

O homem da cicatriz chuta alguma coisa. Eu continuo chorando até minha cabeça doer. O homem procura nas ferramentas do papai algo e encontra um frio com a ponta desencapada, pega e vem até mim.