Capítulo 10. Lia

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Seis anos antes...

Papai e eu sempre brincamos de esconde-esconde, é nossa brincadeira preferida de todas, além de quando ele me coloca no colo dele para dirigimos juntos. No começo eu não era tão boa e ele sempre me achava, acho que eu o deixava triste por isso, pois ele ficava com aquela cara de preocupado, então eu comecei a treinar sozinha por nossa casa. Testei muitos esconderijos: meu closet, o closet de papai, o porão, os armários que eu conseguia entrar... até que achei um perfeito: a porta escondida no armário debaixo da escada. Acho que esse esconderijo sempre esteve lá, mas eu demorei para achá-lo. No fundo, atrás das vassouras e baldes há uma pequena maçaneta, que se empurrar um pouco para dentro encontramos o esconderijo. Lá tem uma lâmpada e um tapete, e eu também deixei alguns brinquedos para mim para quando o papai quiser brincar novamente, pois ele demora muito para me achar. Nossa casa é muito grande e tem uma floresta grande em volta. Ela tem decoração de madeira e muitas paredes vermelhas - tirando meu quarto que é verde claro, como eu pedi para a mamãe pintar.

- Amélia, sabe aquele esconderijo que nunca te acho quando brincamos de esconde-esconde? - Papai pergunta.

- É claro, papai. Vamos brincar? - Pergunto animada.

- Sim. - Ele responde, olhando para a direção da porta impaciente. - Mas dessa vez você não pode sair até ouvir uma sirene, OK?

- Igual as de polícia? - Pergunto.

- Isso, igual as de polícia. - Escutamos uma batida na porta e papai me abraça forte.

Mamãe está com cara de choro e vem correndo me abraçar, se abaixando até ficar da minha altura.

- Mamãe...

- Shiu. - Ela diz. - Faça o que papai está dizendo, OK? - Mamãe tira um papel de seu casaco. - Essa é uma recompensa para que você fique no esconderijo até ouvir as sirenes, está bem? - Eu aceno. - Muito bem, minha linda. Mamãe e papai te amam muito, OK? - Ela beija minha testa e eu corro para o esconderijo.

Ouço um estrondo na porta antes que eu entre no esconderijo e vejo dois homens tão grandes que eu acho que podem ser os gigantes dos livros que mamãe lê para mim. Eles usam roupas pretas e jaquetas de couro, um deles está fumando e joga o cigarro no chão, pisando nele. Que mal educado. Um dos gigantes agarra papai pelo pescoço antes de arrastá-lo para o fundo da casa.

Desculpa, papai... não vou entrar no esconderijo hoje.

Atualmente...

Nem acredito que te convenci a vir se divertir. - Diz Camila enquanto entramos no porão do prédio D, onde acontecem festas clandestinas.

- A escola não faz nada a respeito disso aqui? - Falo um tanto alto, a música nos alcançando mesmo ainda não chegando perto da escadaria que leva para o porão.

Me recuso a acreditar que uma escola tão grande, influente e com uma puta segurança como o Instituto Greenville não monitora seus prédios abandonados, seria piada.

- Sei lá. Eles não empacam nossa foda. - Responde ela se afastando, e adentrando a festa, cumprimentando todos que vê pela frente.

Desço as escadas atrás dela e paro analisando a festa. Apesar de estar sendo realizada em um porão de uma escola, parece uma boate. Possui luzes piscantes, mesa com bebidas, caixas de som, decoração neon e o pessoal caprichou nas roupas. Nada de uniformes, mas muitas saias curtas e croppeds. É como se fosse uma palinha das festas da Sweet Night, mas não chega aos pés. No fim do ano passado fomos parar nos jornais com a manchete "Fantasmas de Greenville" pois a polícia não conseguiu pegar ninguém que estava envolvido nas corridas e nas brigas, apenas algumas pichações e artes fazendo referência a psicose e transtornos mentais. As meninas estão muito bem arrumadas, com vestidos colados, muito brilho e maquiagem forte, já os meninos vestem jeans e jaquetas de couro.

Além da Sua Escuridão - L.S. LouiseOnde histórias criam vida. Descubra agora