Capítulo 9. Lia

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Três anos antes...

Quando disseram que eu poderia vir para os Estados Unidos eu vi como uma chance de recomeçar. Deixar a menina com uma história traumática para trás e fazer uma nova versão de mim mesma. A pior parte depois de tudo o que aconteceu com meus pais eram as pessoas me fazendo lembrar todos os dias sobre a morte deles. "Tadinha, nem consigo imaginar como deve ter sido para ela passar por isso." "O que vai acontecer com ela agora?" "Minha querida, se você precisar de algo, estarei aqui." Vizinhos e amigos de meus pais oferecendo-se para ficar comigo e cuidar de mim. Fui enviada para o acolhimento logo após a morte de meus pais, depois de passar por inúmeros inquéritos e tentativas de entrevistas, terapia todos os dias e dois anos no orfanato, disseram que eu poderia me mudar para os Estados Unidos, já que foi onde nasci. Concordei com a condição de que os professores não saberiam de tudo o que aconteceu comigo.

Apesar de ter o sobrenome de papai, nunca fui muito parecida com ele. Nossos olhos eram mais parecidos quando eu era pequena, mas conforme fui crescendo eles foram se tornando mais como os de mamãe. Todo o resto puxei da genética americana de mamãe. Cabelos castanhos ondulados, olhos castanhos esverdeados, pele levemente bronzeada. Em parte eu agradeço por isso, pois quero esquecer minhas raízes japonesas. Em parte eu amaldiçoo, pois ainda me lembro muito de mamãe.

Sr. e Sra. Jones são muito amáveis. Me cuidam como se eu fosse filha deles desde sempre, me compram roupas e me colocaram em uma escola incrível. Desde o primeiro dia me senti acolhida, os meninos foram legais comigo e os professores me ajudaram quando eu tive dificuldades. Eu estou bem em todas as matérias e sou até um pouco popular. O Ensino Médio está sendo bom. E é claro, tem um menino. Caleb. Ele tem olhos e cabelos pretos, se veste muito bem, é cheiroso e inteligente. Tem um sorriso incrível. Mas namora aquela megera da Anna Berry. Como ele pode gostar dela? E ainda por cima namorá-la? Eles são tão diferentes. Anna sempre faz questão de me deixar de fora das coisas, esbarrando em mim pelos corredores e fazendo piadinhas de mal gosto sobre eu ser metade japonesa. Mas eu sempre saio por cima, sei que sou melhor do que ela.

- Oi, palhacinha. - Escuto a voz estridente e irritante de Anna, mas finjo não ouvir nada. - Comendo sozinha? Achei que você tinha fãs mas parece não ser tudo isso, né, meninas? - Ela faz suas três puxa-sacas rirem.

Pego meu celular e começo a pesquisar e ler em voz alta.

- Crochê, dançar, cozinhar, jogar futebol, vôlei, handebol, basquete, atletismo, aprender outra língua, escalar, andar de bicicleta...

- O que é isso? - Anna pergunta.

- A lista de coisas que você poderia estar aprendendo antes de encher meu saco. - Respondo.

Antes que Anna possa rebater, uma bandeja é colocada ao meu lado na mesa, uma menina de cabelos pretos e olhos castanhos se senta, encarando Berry.

- Se você se dedicasse a qualquer uma dessas coisas do mesmo modo que se dedica a importunar Lia, tenho certeza de que seria campeã mundial.

- Afe, Ellie, você sempre estraga a diversão. - Anna diz, bufando.

- Vaza. - A menina de cabelos pretos diz, fazendo o grupinho sumir.

- Oi? - Pergunto, com interesse em conhecê-la. - Eu sou Amélia Aikyo. - Estendo a mão para ela.

- Elliza Adkins. - Ela aperta minha mão. - Prazer em conhecer, Mel.

- Prazer em conhecer, Ellie.

Atualmente...

Eu sabia que Caleb poderia tentar algo comigo, por isso mantive distância o máximo que pude, mas não esperava que ele usaria meu trauma para me atingir. Sei que Caleb me odeia tanto quanto eu o odeio, mas mesmo tendo motivos para ser uma filha da puta com ele nunca fiz isso. Ele não sabe toda a história sobre o que aconteceu naquela noite em que papai estava preocupado, Caleb apenas sabe o recorte em que meus pais sofreram e eu assisti, mas não sabe nada sobre a minha parte, a parte que realmente importa.

Além da Sua Escuridão - L.S. LouiseOnde histórias criam vida. Descubra agora