- Lia? Sua vez de falar. - A mediadora da sessão pede.
- Passo. - Ela responde com uma voz cansada, como se não quisesse estar aqui.
- Um dia vamos ter que descobrir o porquê de você estar aqui, amor. - Diz Adam. Não gosto desse garoto.
- Se você puder procurar as respostas no inferno eu agradeço. - Ela diz com uma voz entediada. Seu jeito me intriga, de alguma forma.
Então eles realmente não sabem o motivo de ela estar aqui. Achei que todos a temiam por saber, mas a princípio os únicos que sabem são apenas Will, Luke e Ryan. E eu. Quando estávamos terminando o fundamental, Lia era o tipo de menina que todas as outras queriam ser e todos os meninos queriam ter, educada, linda, amável, inteligente... até Anna Berry se sentir atacada por ela. Anna também era uma menina linda, feminina ao extremo e desejada por muitos, mas perdeu seu espaço para Lia quando ela chegou na escola. Todos os meninos se apaixonavam pela confiança, as piadas e as respostas sempre certas dela, inclusive o namorado de Anna, por esse motivo ela começou a praticar bullying com Amélia. Lia nunca ligava, passava de cabeça erguida e olhava a agressora de cima a baixo mesmo quando ela a insultava ao máximo. Um dia tudo isso mudou, Lia bateu tanto em Berry que ela ficou em coma por dois dias, e ela apenas parou porque um menino aleatório a tirou de cima de Anna. O engraçado é que não me mexi ao ver Amélia quase matando minha namorada, mas quis matar aquele garoto por encostar nela.Todos ficaram chocados com a mudança brusca de comportamento de uma hora para outra, menos eu. Eu sempre soube que aquele jeito dela escondia algo sombrio, mas fiquei surpreso com o modo como Lia parecia ter sido renovada depois de ter agido assim tão ferozmente. Até hoje não sei o que Anna sussurrou no ouvido de Lia para que ela mudasse dessa maneira, mas aconteceu.
Faz apenas três dias que o ano começou no Greenville mas já entendi como as coisas funcionam. Durante o período da manhã há o café e as aulas até às três da tarde com pausa para o almoço durante o meio dia. Durante a tarde todos vão para atividades extras - futebol, atletismo, dança - ou para as salas de jogos, uma vez por semana há terapias em grupo separados por "questão social", problemas para ser mais exato. Hoje é o dia dos agressores. Meu dia.
- Tem certeza que não quer dizer nada, Lia? - Senhorita Stone pergunta sem obter resposta. - Ok, então pode ser algum dos novos. Caleb? - Ela me chama. - Quer nos contar o porquê de estar aqui?
Se eu quero?
- Claro. - Me ajeito colocando os cotovelos apoiados nas pernas. - Meu nome é Caleb Adkins, tenho dezenove anos e vim para cá por agredir um menino.
- E qual foi o motivo da agressão? - pergunta a professora.
- Ele estava me devendo algo. - Dirijo meu olhar para Amélia e como se sentisse meu olhar, ela me encara. Faço questão que ela entenda o recado.
- E você se arrepende?
- Não. - Nem preciso pensar, isso me trouxe até Lia. - Existem certos erros que são simplesmente certos.
- Ok, obrigada, Sr. Adkins. - Diz a professora puxando conversa com outro calouro. Mas não presto atenção.
Amélia e eu estamos em uma guerra silenciosa, travada apenas com nossos olhares. Eu sei que ela é tão teimosa quanto eu, mas não a deixarei vencer. Uma guerra é feita de batalhas e vou garantir que ela perca todas, mesmo que sejam apenas olhares. Você vai sofrer, Amélia, porque você me matou primeiro. Lhe dou uma piscadela e um sorriso, fazendo-a desviar o olhar. Sei que ela estava com a guarda baixa quando me viu, o modo como ela saiu correndo da palestra no primeiro dia deixou isso claro, não foi atoa que escolhi este ano para entrar no Greenville.
A reunião acaba e Amélia some nos corredores. Eu sei que meu silêncio depois do encontro que tivemos nos corredores a apavora mais do que minhas ações. Por mais que eu odeie admitir, ela me conheceu de verdade antes de tudo acontecer, ela sabe que não estava blefando quando a ameacei. Quando eu der o primeiro passo, não terá mais volta, a vida de Amélia irá por água abaixo.
Pego meu telefone e ligo para um dos meus informantes dentro do Greenville. Quero encontrá-lo para dizer o que vamos fazer. Ele também quer vingança. Ele não demora mais que dois segundos para atender.
- Diga, meu rei. - Will fala do outro lado.
- Reúna os meninos. Vamos começar.
...
Eu já sabia que Greenville tinha prédios inativos que eram usados por alunos como esconderijo, então foi fácil encontrar um "covil" no prédio E. Era o antigo prédio da administração da escola. Há muitos armários vazios espalhados, pichações, cacos de vidro das janelas quebradas e sujeira, tem um ar de mal assombrado. Nosso esconderijo fica em uma das antigas salas de professores, tem sofás, mesas empilhadas, um quadro e até uma cafeteira. As janelas estão tampadas com ripas de madeira, mas não impedem
a entrada de luz do sol.
- Não acha que está cedo demais? - Pergunta Ryan, o filho do diretor, uma das minhas maiores fontes de informação. - O ano mal começou.
- Amélia espera que eu ataque mais para frente. Quero fazer isso agora.
- Eu concordo. - Diz Will. - Quanto mais cedo acabarmos com isso, melhor. Luke?
- Eu não sei. - Luke é o único que ainda está com um pé atrás. - Ela não demonstrou ser culpada, porque devemos fazer isso?
- Não importa o motivo. - Respondo. - Todos estamos ganhando algo com isso, então apenas faça o que combinamos.
Luke é do grupo que fugia de casa. O pai bebia e era abusivo, então a mãe o enviou para cá como uma espécie de meio para salvar o filho das agressões do pai. Ele não é exatamente um homem frouxo, mas faz muitas perguntas, sempre questionando. Concordei em mandar seu pai para a cadeia depois dele me ajudar com isso. Ryan está aqui por pura diversão, ele é simplesmente um sociopata completo que gosta não se importa de ver os outros sofrerem. Já Will... bem, ele está diretamente ligado à história que nos leva a ter essa conversa.
Quando o desejo de me vingar de Amélia me consumiu por completo, eu tive certeza que nada me pararia até vê-la sofrer como eu sofri. A culpa disso tudo é dela. Se não fosse por ela, Ellie ainda estaria aqui.
- Onde estão os documentos? - Peço e Ryan os joga na mesa à nossa frente, levantando poeira. - São da garota que ficava no dormitório de Lia?
- Sim. - Responde Ryan. - Maya Quinn. Dezessete anos, veio para cá por fugir de casa e da escola. Pediu para mudar de quarto relatando que Lia tem terrores noturnos que a impediam de dormir. - Ele continua. - Parece que quando Maya pediu essa troca, Lia foi até a direção implorar para que não a deixassem sozinha novamente.
- Novamente? - questiono e ele joga mais uma ficha.
- Ayla Gross, dezessete anos, enviada também por fuga de casa, pediu para mudar de quarto dois meses antes pelo mesmo motivo. Lia ficou sozinha por uma semana e teve que ser internada na ala médica por crises de pânico.
Hmm, então ela tem medo de dormir sozinha.
- Ótimo. Já sabemos o que fazer.
Primeiro round, Mel.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Além da Sua Escuridão - L.S. Louise
RomansAmélia e Caleb cometeram traições imperdoáveis e querem a morte um do outro acima de tudo. Agora que Caleb quer vingança e entrou no Instituto Greenville - uma escola para adolescentes com problemas sociais como agressão, depressão, ansiedade, fugas...