Capítulo 17. Caleb

25 3 6
                                    

Não sei se vou ter outra oportunidade de ver Amélia assim. Ela parece feliz, alegre, sem pensar muito no que está fazendo. Tudo bem que Mel nunca pensa muito nos outros, normalmente ela pensa em seu próprio bem estar e não está nem aí para o resto, mas hoje ela parece estar fazendo coisas que ela quer sem pensar no amanhã, e eu estou amando isso.

Mal consigo pensar em Mel dirigindo em meu colo que fico excitado. Porra. Ela estava linda pra caralho, poderosa, livre, feliz. E o beijo então...

A porta de meu quarto abre de repente, revelando Lia e cortando meus pensamentos.

Lia sai secando seus cabelos com uma toalha, vestindo minha camisa branca parcialmente abotoada e minha cueca que fica parecendo uma calcinha em volta de suas coxas grossas.

Minha nossa...

Ela me encara com o rosto quase entediado, como se não estivesse ativando todos os meus sentidos com apenas um olhar. Passo minhas mãos pelos cabelos, respirando fundo e a encaro, apoiando o braço na bancada.

- O que? - Ela pergunta, sem entender minha reação, olhando para si mesma. - Eu nem estou com roupas sensuais.

- Você poderia estar vestindo a capa do Harry Potter e ainda assim me deixaria excitado, amor. - Respondo, a deixando vermelha. - Venha comer. - A chamo, levando os pratos até a ilha da cozinha.

Amélia se senta e ataca os hambúrgueres caseiros juntamente com as batatas como uma doida, o que me faz rir. Ela está tão absorta em comer que nem se dá ao trabalho de me responder.

Ela é tão linda...

Comemos em silêncio, um silêncio confortável. Quando pergunto se ela gostou ela apenas acena a cabeça em concordância. Ela analisa o apartamento, olhando para o teto, as paredes, os móveis.

- Está confortável? - Pergunto.

- Por incrível que pareça, sim. - Ela responde sem hesitar, dando sua última mordida.

- Você sempre fica tão sincera na Sweet Night? - Pergunto.

Ela pensa por um segundo.

- Eu acho que sou muito fechada o ano todo, como se houvesse uma barreira, mas me permito ser eu mesma nesse fim de semana. - Ela empurra o prato. - Você... - Ela pigarreia. - Não mora mais na casa por conta de Ellie?

A pergunta me pega de surpresa, porém não fico com medo ou triste em respondê-la. Algo que aprendi depois da morte de Ellie é que falar dela é o melhor para manter a memória dela viva, evitar apenas afasta minha irmã de mim.

- Sim. - Começo, também empurrando meu prato e indo para o sofá, sendo seguido por Lia. - No início eu fingia que apenas morávamos em casas diferentes, sabe? Mas fui superando isso. Hoje eu lido bem com o silêncio.

Mel sorri, perdida em pensamentos.

- Ellie era barulhenta. - Ela diz, sentada de frente para mim no sofá. - Sempre feliz, com aquelas músicas altas, dançando. A casa de vocês era sempre animada. - Os olhos de Lia ficam marejados, mas não tristes. - Sinto tanta falta dela.

- Eu também. - Digo.

- Aquele dia... quando nós assistimos filmes na sala, eu senti como se fosse uma despedida, mas não disse nada por achar que era coisa da minha cabeça, sabe? - Ela encara um ponto fixo, como se estivesse puxando memórias. - Ela era alegre mas não era tão carinhosa e afetuosa como estava naquele dia, principalmente com você. - Ela ri.

- Ela disse incontáveis vezes que nos amava. - Eu rio, mas o riso morre no meio do caminho. - Eu deveria ter percebido o que ela estava passando. Fiquei tão apegado a animação de Ellie e a felicidade que ela aparentava que acabei deixando-a de lado e focando na minha própria dor. - Digo, agora eu quem estou perdido em pensamentos.

Mel me tira de minha própria cabeça quando toca minha mão. Seu toque me paralisa, é quente e reconfortante. Sinto como se todo meu corpo se eletrizasse com um simples gesto. 

- Sabia que ela também me deixou uma carta? - Ela diz e eu a encaro. - Te disse isso no cemitério mas não disse o que estava na carta. 

Lia se levanta e vai até a bancada onde está seu celular, retira a capinha escura e pega de lá um papel. Senta-se novamente e abre, começando a lê-lo.

- Querida, linda e doce Mel... Acho que você não vai entender quando receber isso, mas se está lendo deve ser porque já não estou mais com vocês... - As palavras de Mel começam a se embolar enquanto ela lê, o choro está preso em sua garganta. - Sabe aquela história de que as pessoas a nossa volta nunca são o que parecem?  Pois é, eu não era tão feliz assim. Depois da morte de mamãe eu fiquei arrasada porque senti que agora eu era a mulher da família. Depois que o papai se foi e Eddie chegou, me senti responsável por Caleb e nunca consegui demonstrar o quanto eu realmente estava sofrendo. - Mel respira antes de continuar e eu já estou quase chorando. - Quando você apareceu eu sabia de alguma forma que minha hora estava finalmente chegando pois eu não deixaria Leb sozinho, você estaria lá e não a insuportável da Anna. Eu não vou estar aí para cuidar dele então te deixo dois pedidos: 1- Cuide de Leb por mim. Ele quer demonstrar ser machão mas na verdade é um menino que teve que crescer muito rápido e está aprendendo a amar. - Mel está chorando quando volta a ler. - 2- Cuide de si mesma. Você quer ser feliz e alegre e eu respeito isso, mas não perca sua essência de lutadora e menina forte. Seja Mel, não Amélia ou Lia. Seja você e nunca se esqueça o quanto eu te amei. Lembre meu irmão das vezes em que fui feliz e fiz vocês rirem, de quando eu deixava vocês sozinhos e ficava incomodando ele sobre ele ser apaixonado por você. Lembre-se de mim, não da minha partida. 

Com amor, Ellie. 

Amélia para de ler e me encara, limpando as lágrimas dos olhos. Eu não sei o que dizer. Tive uma visão dessa história por três anos e então eu volto e era tudo mentira. Amélia sofreu sozinha e eu também, porque eu não falei com ela. Estou com raiva de mim no momento, mas feliz por ter minha Mel de volta.

Aperto sua mão e encaro seus olhos e em um movimento a puxo para meu colo. Ela ri com a rapidez e ficamos abraçados por um tempo, sentindo o cheiro um do outro. Espero que ela entenda que é um abraço de perdão.

- Eu te perdoo. - Ela sussurra contra meu pescoço.

Então eu a beijo. A beijo com perdão, a beijo porque sei que ela não era a vilã e agora eu não preciso odiá-la. A beijo com toda a saudade que senti dela mesmo antes de conhecê-la. A beijo porque ela é minha e porque eu posso admitir que eu a amo.

Porra, eu a amo.

Além da Sua Escuridão - L.S. LouiseOnde histórias criam vida. Descubra agora