Capítulo 6. Caleb

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Três anos antes...

Não estamos nem na metade do ano e já me arrependi de ter entrado no Ensino Médio namorando. Anna é linda, mas está me estressando, sinto que ela quer me usar apenas para mostrar o namorado que tem. O herdeiro do Império Adkins. Ela é chata, fala como se eu fosse um bebê e honestamente um pouco burra, desligada do mundo, vivendo numa bolha de riquezas. Ela é bonita e é só por isso que o pessoal dessa escola a endeusa.

Começamos o dia com uma aula de filosofia. Detesto essa aula, parece ser um motivo para as pessoas depressivas falarem abertamente sobre suas sofrências, quando na verdade o máximo que acontece é o papai negar dinheiro. O professor está falando sobre aquele mito da caverna. "A verdade representada em forma de luz para aqueles que sempre estiveram na escuridão", uma boa metáfora, mas batida. Alguém bate na porta e abre, revelando ser a coordenadora.

- Licença, Sr. Ferguson. Tenho um recado para a turma. - diz a coordenadora.

- Claro! - Ele diz cedendo espaço.

- Bom dia, pessoal. - ela recebe um "bom dia" cansado. - Tenho uma novidade para vocês. Essa é Amélia Aikyo. - Ela faz um sinal para uma menina de cabelos castanhos entrar.

Inconscientemente, os meninos - incluindo eu - se ajeitam na cadeira, arrumando a postura. Nossa, que menina linda. Ela tem os olhos de um formato que deveria ser asiático porém são grandes e castanhos, com um pouco de verde neles, ela é baixinha e seu cabelo levemente ondulado está solto com algumas trancinhas por eles, são longos. Sua boca é linda, avermelhada e a pele levemente corada, acredito que por timidez. Por que sinto que já te conheço?

Ela acaba de vir do Japão e está se adaptando ao país. Espero que vocês a acolham muito bem. - A coordenadora vai até o professor entregar o histórico de Amélia e se despede da turma.

- Então, Amélia, apresente-se, nos conte algo sobre você. Inteligente já vi que você é, notas impecáveis. - o professor diz se encostando na mesa.

- Bom dia, pessoal. Eu sou a Amélia mas, por favor, me chamem de Lia. - ela diz, sem timidez ou insegurança nenhuma. Wow, acho que meu coração pulou. - Eu tenho quatorze anos, vim do Japão faz alguns meses. - Ela faz uma pausa, parecendo pensar em algo interessante, - E sou adotada.

- Isso não é uma novidade para nós, não é mesmo? - O professor diz apontando na minha direção - Nosso colega, Caleb, também é adotado. - Pela primeira vez sinto uma espécie de conforto sobre o fato de ter perdido meus pais.

Ela dirige seu olhar para mim e por um momento todos da sala somem, há apenas eu e ela. Seu olhar carrega um brilho diferente, como se o mundo estivesse guardando o melhor para ela, mas também há algo por trás, uma espécie de... escuridão?

- Ei. - Anna me chama para sair do transe.

- Sim? - digo, pigarreando.

Não preciso que ela me diga para que eu saiba que está com ciúmes. Será que algum dia eu olhei Anna dessa maneira? Eu duvido. Meu coração nunca reagiu assim a ninguém.

Amélia - ou Lia - senta-se em um lugar vazio mais no fundo da sala, conforme o professor solicitou, tirando seus materiais da mochila. Durante toda a aula, lanço olhares para ela, fingindo pegar algo em minha mochila ou me alongar na cadeira, percebo que ela demonstra estar tão desinteressada quanto eu, parecendo refutar mentalmente tudo o que Sr. Ferguson diz, o que me faz sorrir internamente.

Quando a aula acaba, alguns meninos vão falar com Amélia, claramente com interesses românticos, sendo cavalheiros e se oferecendo para mostrar a escola. Ela os recusa educadamente, sem demonstrar interesse algum. O sorriso que ela me oferece quando estou saindo da sala com Anna me arrastando pelo braço faz meu coração errar uma batida. Tem algo ali, quase como reconhecimento, como se visse através de mim.

Preciso apresentá-la a Ellie.

Além da Sua Escuridão - L.S. LouiseOnde histórias criam vida. Descubra agora