Capítulo 90 - Marca

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Lia entrou na tenda de comando, sabendo que encontraria Argos ali. Ele analisava os planos que haviam sido traçados desde o início daquela contenda.

— Sabia que estaria aqui. — disse a elfa, se aproximando. Sentou-se em uma das cadeiras e esperou que o homem fizesse o mesmo. Logo que ele o fez, ela ofereceu um odre, belo como o que era élfico costumava ser.

Argos o aceitou e bebeu um gole. Abriu os olhos, surpreso com o sabor magnífico da bebida.

— Hidromel Rubro, de Galavária. Um pequeno tesouro. — A elfa sorriu e aceitou o odre para um gole, quando o patrulheiro lhe ofereceu.

— Qual o motivo para beber essa preciosidade? — perguntou Argos, enquanto esfregava a perna, logo acima da prótese de madeira que usava.

Lia observou os movimentos do amigo.

— Lamento por sua perna.

— Eu não. Foi um preço pequeno a pagar pela segurança de Max. — disse de forma muito natural.

— Você é um homem bom, Argos. Um bom pai. — Um momento de silêncio se fez, enquanto ambos trocavam o odre mais uma vez. — O motivo da bebida é a verdade, ainda que não seja revelada.

Lia encarou Argos, que não pôde sustentar o olhar.

— O que quer dizer?

— Argos, eu o conheci quando ainda era muito jovem. Um jovem amargurado pela perda da esposa e filho, que se lançou furiosamente em qualquer perigo que pôde. Um jovem que amadureceu e se tornou um guerreiro valente, um patrulheiro preciso. O melhor do reino, em seu tempo. Lembro acolhê-lo e ver você se tornar o que é. De quando esteve cansado de atender a nobreza e disse que ia nos esperar em Marco da Floresta Velha. Lembro, também, de pouco tempo depois você mandar uma mensagem dizendo que não deveríamos ir, pois você havia saído para uma missão pessoal e avisaria quando retornasse. Essa contenda levou meses. A próxima mensagem era a de sua saída da Irmandade. Então, o visitamos em uma noite quente e você nos explicou que precisava cuidar de sua sobrinha. Você havia mencionado um irmão, certa vez, e isso foi o suficiente para Gloradan. Arkhon não aceitou bem, não gosta de mudanças. Belfuor lhe desejou sorte e abençoou a menina, que dormia. Eu lhe olhei com dúvida, mas o abracei e desejei o melhor... também abençoei a menina, em segredo. — Lia olhou nos olhos de Argos e ele tinha uma expressão confusa. — Sim, eu voltei, depois de ter executado um complicado ritual. Provavelmente o mais complexo que realizei em toda minha longa vida. Uma magia de proteção. Achei que vocês iriam precisar, ainda que eu não soubesse de nada. No entanto, meus instintos me fizeram agir. Isso tem muito tempo e a proteção vai enfraquecendo com o passar dos anos. Hoje, depois de ver Maxine crescida, eu penso naqueles dias. Penso na estranheza de suas ações.

Argos ficou tenso e Lia pegou a mão do patrulheiro e a apertou.

— Estamos em tempos difíceis. Tudo está mudando. Dentro desses muros, muito está acontecendo. — continuou a elfa. — Hoje tive outra visão. Algo que me fez recordar tudo isso. Algo que me assusta se vier a acontecer. Vi o príncipe Tristan em uma sucessão de acontecimentos, difíceis de definir, mas todos estavam relacionados a Maxine. Ele teme algo, uma promessa acredito, e não apenas isso. Parece estar lutando contra algo a mais e tudo envolve Maxine.

Nesse momento Argos se levantou e caminhou de um lado a outro, inquieto.

— O que viu sobre a minha garotinha?

— Há coisas que posso relatar, outras são muito difíceis. Maxine se afastava do príncipe. Primeiro pela escuridão, depois pela luz. O príncipe lançava palavras carregadas, como flechas, que a feriam.

— Desculpe, mas não tenho grande interesse na parte que diz respeito ao príncipe. — interrompeu Argos e passou a mão na barba farta, já quase completamente grisalha, em um gesto de frustração.

A Chama de UrunirOnde histórias criam vida. Descubra agora