Capítulo 72 - Encontro Marcado

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O retorno foi silencioso.

Os portões se abriram e, apesar da vitória sobre os orcs, não houve comemoração, pois, o resgate não fora bem-sucedido e houve a perda de outros quatro homens. Gloradan se recuperara do pior com o auxílio de Yurgan, mas ainda possuía outros ferimentos que precisavam de tratamento. O restante do dia foi marcado por discussões sobre o ataque e pelos cuidados com os feridos.

Yurgan deitou-se, exausto. Cuidara de tantos feridos quanto pôde e de suas próprias feridas no último momento. Ainda sentia seu corpo dolorido. O sono o alcançou rapidamente, mas logo os sonhos inundaram sua mente.

Viu-se nu, deitado em um catre simples, e sentiu a aproximação de alguém, ainda que os passos fossem suaves e silenciosos. Não ouvira os passos, mas sentira a vibração da pessoa que adentrava. Apenas a luz de Candra e Dokhavani iluminava o local, e os olhos da figura esguia brilhavam enquanto o observava. Ele ergueu-se, sentando-se no catre, e a figura se aproximou, ficando a centímetros, quase podia sentir seu cheiro. O corpo esbelto estava coberto por seda vermelha que contrastava com a pele alva, e era possível ver todos os contornos da silhueta delicada. Os braços esguios e pálidos se estenderam, rodeando a cabeça do jovem e o trazendo para junto de si. A face de Yurgan foi ao encontro do peito da figura. Ele fechou os olhos, sentindo-se confortável naquele abraço. Levara as mãos grandes e calejadas até o quadril feminino. Os dedos delicados da figura corriam através dos cabelos do jovem, enquanto as unhas longas lhe arranhavam o couro cabeludo de maneira delicada. Yurgan abriu os olhos e olhou para cima, vendo o rosto de Victoria. A jovem o olhava sem expressão, então baixou a face e encostou seus lábios nos de Yurgan, enquanto pegava uma das mãos dele e a guiava até seu peito, sobre o coração. O jovem permaneceu imóvel e, quando ela encerrou o beijo, olhou para o próprio peito. Yurgan seguiu o olhar e viu sangue escorrer de um enorme ferimento. Assustado, tentou socorrê-la, então ela sorriu, tocando-o no peito nu. Ao olhar para a mão delicada que o tocava, Yurgan viu seu próprio coração na mão da jovem. Foi nesse momento, onde Victoria sorria segurando seu coração que ele acordou, exasperado, respirando com dificuldade.

Ainda era muito cedo, mas o jovem não foi capaz de voltar a dormir. Vestiu-se, porém, não usava armadura, apenas colocou o escudo às costas, preso por uma tira de couro, e levou a espada presa ao cinto. Saiu da tenda e se dirigiu a uma pilha de troncos para lenha que haviam sido trazidos em algum momento do dia anterior. Pegou o machado e começou a descarregar sua frustração contra a madeira. Passou um bom tempo ali até que todos os troncos se transformaram em lenha para as fogueiras. Resolveu caminhar um pouco pelas ruas da cidade, que era bastante grande. Nunca havia explorado o local. Ele e Maxine haviam dito que o fariam, mas acabaram se envolvendo em outros assuntos. Seus pensamentos estavam nebulosos. O sonho o havia afetado mais do que gostaria de admitir. Até então, não havia sonhado com Victoria uma vez sequer.

Chegou a um local onde o Último Pico projetava uma de suas paredes, mais próximo da cidade. Ali havia uma construção muito antiga. Yurgan não possuía esse tipo de conhecimento, mas se fosse arriscar, diria que havia algo da cultura anã ali. Estava em frente à Grande Oficina, a maior forja de Yogratax e dos reinos humanos. Esse era o motivo de Balmora ser tão importante: o minério e a forja. Yogratax e Urunir eram os reinos onde as melhores armas forjadas por humanos eram encontradas.

— Não fique parado no meio do caminho, garoto! — disse uma voz grossa e arranhada.

Yurgan viu um anão de barbas brancas carregando uma trouxa nas costas e um martelo na mão livre.

— Yurgan! O que faz aqui tão cedo? — Arkhon apareceu logo atrás do anão, falando muito alto, como sempre.

— Estava apenas caminhando pela cidade e parei aqui. Ainda não tinha visto a Grande Oficina.

A Chama de UrunirOnde histórias criam vida. Descubra agora