Prologo
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Aurora Castellani"Eu tinha onze anos quando meu pai agrediu minha mãe pela primeira vez. Aos onze anos, testemunhei o primeiro episódio de violência física que ele perpetrara contra ela. Na mesma idade, também descobri que ele estava traindo minha mãe. Sendo apenas uma criança, enfrentei e lidei com essas situações complexas, assumindo a responsabilidade tanto pelos meus próprios problemas quanto pelos de minha mãe. Eu insistia para que minha mãe denunciasse meu pai, mas como denunciar um policial sujo? Ela tinha medo, e eu não a julgava por isso. Aos treze anos, meu pai tentou me agredir pela primeira vez. Também aos treze anos, levei minha mãe ao hospital pela primeira vez, ocasião em que ela tentou me defender de uma agressão, acabando por sofrer as consequências em meu lugar.
Aos quinze anos, meu pai saiu de casa, marcando o que foi o melhor dia da minha vida. Naquele momento, tive de enfrentar a realidade de conviver com uma mãe depressiva. Como consequência, perdi minha adolescência cuidando dela. Nunca reclamei, resmunguei ou gritei. Eu ansiava por acreditar em um Deus, pois no fundo eu queria me apegar a uma entidade divina. Eu precisava de esperança, mesmo que fosse mínima, mas necessitava dessa esperança.
Quando completei 16 anos, presenciei a primeira crise da minha mãe. Ela gritava, chorava e tentava se machucar. Fiquei tão assustada. Lembro que, quando ela finalmente se acalmou, tranquei-me no banheiro e chorei por duas horas seguidas. Apesar de tudo, eu amava minha mãe. Aos 16 anos, minha tia Marli começou a me ensinar a costurar. Inicialmente, eram peças pequenas, e depois, peças maiores. Em alguns meses, eu já estava confeccionando minhas próprias roupas. Eu adorava aquela sensação: pensar em algo, passar para o papel e, em seguida, voilà, um modelito novinho em minhas mãos.
Aos dezoito anos, prestei o vestibular, sentindo uma grande ansiedade. Já havia participado por dois anos consecutivos como treineira, obtendo boas pontuações em ambas as vezes. Ao ouvir o resultado pelo rádio, pulei de alegria, pois sabia que precisava dar orgulho à minha mãe. Apesar de tudo, ela é minha mãe. Eu e tia Marli celebramos a tão sonhada notícia da minha aprovação. Confesso que gostaria de ter comemorado com minha mãe, mas a depressão a impedia de falar. Eu apenas desejava o aconchego do colo dela.
Iniciei a faculdade de moda. Para alguns, esta foi a maior imprudência da minha vida; no entanto, é o meu sonho, e por isso decidi lutar por ele.
Após alguns meses na faculdade, meu pai reapareceu. Nunca senti tanta raiva na vida; meu desejo era fazê-lo pagar por tudo que minha mãe estava passando. Na prática, no entanto, eu chorei de medo. Ele fez promessas e até tentou me dar dinheiro. Eu simplesmente disse-lhe para ir se foder e fui embora.
Os dias passavam, e ele continuava a tentar se aproximar de mim. Foram dias, semanas, meses. Nesse período, ele chorou e me pediu perdão como uma criança. A diferença entre ele e uma criança é que uma criança eu perdoaria; ele, não.
Fiquei ainda mais indignada ao descobrir que ele havia sido promovido a coronel do BOPE. Esse homem desprezível estava prosperando na vida enquanto minha mãe defininhava lentamente. Sociedade fudida. Ele insistia em manter contato, enquanto eu rezava para que ele morresse.
Em alguns meses, consegui um ótimo emprego como secretária em um hospital. O salário era bom, mas a distância até minha casa era grande, então me mudei para Copacabana. Seria maravilhoso morar em frente à praia, mas nem tudo é um mar de rosas. Minha nova residência ficava próxima a uma favela, suficientemente longe para eu poder fugir caso ocorresse algum problema, mas perto o bastante para ser confundida com uma moradora da favela.
JE LEEST
Noites De Confronto.
ActionAurora, uma jovem de 19 anos cheia de sonhos e com um espírito livre, vive sua vida monótona, onde tenta levar uma vida sem complicações. Porém, sua rotina é abalada quando uma operação do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) toma conta...