Noites De Confronto.

011

DEMOREI MAS CHEGUEI.
APROVEITEM.

X

Aurora Castellani.

O silêncio dentro do carro já estava começando a pesar, mas de um jeito diferente agora. Roberto tinha essa habilidade de ficar quieto por horas, como se estivesse planejando uma operação inteira na cabeça dele enquanto dirigia. Mas eu não estava a fim de lidar com essa seriedade toda naquele momento. O clima ainda estava quente, e eu queria quebrar essa tensão.

Inclinei-me um pouco na direção dele, observando o perfil fechado, a carranca no rosto enquanto olhava fixo para a estrada. Não resisti.

— Tá me ignorando agora, é? — Perguntei, forçando um tom provocador, o sorriso malicioso já se formando nos meus lábios.

Ele deu uma olhada rápida de canto de olho, mas não falou nada. Sabia que era meu gancho para continuar.

— Nossa, que frieza, hein? — Provoquei, mexendo no ombro dele com a ponta dos dedos. — Depois de tudo o que aconteceu... pensei que eu tinha ganho alguns pontos com você.

Roberto respirou fundo, claramente tentando manter o foco na direção, mas eu não ia desistir tão fácil. Dei um sorriso e deslizei a mão mais para o braço dele, bem devagar, só para ver a reação. Era sempre divertido ver até onde eu conseguia puxar a paciência dele.

— Aurora, para com isso... — Ele disse entre dentes, os olhos fixos na estrada, mas eu percebia o maxilar travado.

— Parar com o quê? Tô quieta aqui. — Respondi, fingindo inocência enquanto me inclinava mais no banco, dessa vez jogando o corpo um pouco mais pra perto dele. — Sabe, acho que você tá muito sério pra uma situação dessas. A gente acabou de... — Deixei a frase no ar, vendo ele tentar ignorar.

Ele bufou, visivelmente irritado, mas eu sabia que no fundo ele estava se divertindo com isso. Ele sempre tentava manter a carranca, mas era questão de tempo até eu conseguir arrancar uma reação.

— Você não vai deixar isso quieto, vai? — Ele finalmente falou, a voz grave, mas com um tom de rendição. Era o suficiente pra me fazer rir.

— Não enquanto você continuar com essa cara de mau aí. — Respondi, cutucando a barriga dele, o que fez ele contrair de surpresa. — Relaxa um pouco, Capitão. A vida não é só missão, sabia?

Ele olhou pra mim de relance, tentando não sorrir, mas os lábios já entregavam. Era essa faísca entre nós que eu adorava. Ele podia ser o mais sério do mundo, mas eu sabia como tirar ele desse pedestal de pedra.

— Aurora, você é impossível. — Ele falou, dessa vez não conseguindo segurar o sorriso completo.

— E você adora isso, não adianta negar. — Respondi, provocando mais um pouco, satisfeita por finalmente ter quebrado aquela pose de durão.

Ele balançou a cabeça, tentando voltar à sua expressão séria, mas já era tarde. Eu o tinha feito sorrir, e sabia que ele não ia conseguir manter a carranca por muito mais tempo.

— Tá achando o quê? Que isso aqui é bagunça? — Ele disse, tentando parecer bravo, mas sem muita convicção. Eu percebia que ele estava relaxando aos poucos.