Capítulo 11 : A questão da verdade

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Após o confronto com Kareth e a dolorosa revelação sobre sua infância, Azael se retirou para um local solitário fora da cidade, procurando um momento de paz para refletir. A verdade sobre seus pais e o impacto de suas ações passadas a deixaram profundamente perturbada. Sentia como se sua vida estivesse desmoronando, e a sensação de culpa e confusão era esmagadora.

Ela se encontrou em um antigo bosque, longe das ruínas do teatro e das ruas turbulentas de Vandelar. A tranquilidade do lugar oferecia um breve alívio para a tempestade interna que a atormentava. Sentada sobre uma pedra, Azael observava o fluxo calmo de um riacho próximo, tentando ordenar seus pensamentos.

A pergunta que a atormentava era: *"Será que eu sou a vilã de toda essa história?"* O conceito de vilania era algo que ela sempre tentou evitar, mas agora, com o peso das memórias apagadas e as revelações de Kareth, sua visão sobre si mesma estava em crise. Ela se questionava se suas ações, mesmo que inconscientes, eram a causa de todo o sofrimento que havia se desenrolado.

Azael fechou os olhos, tentando relembrar as intenções que havia tido em sua juventude e suas ações ao longo dos anos. Ela refletiu sobre seus momentos de bondade, suas promessas de proteger a cidade e seus esforços para resolver a maldição. Aquelas lembranças se misturavam com os fragmentos de memórias apagadas e a culpa pelo que Kareth havia sofrido.

Enquanto estava imersa nesses pensamentos, a voz de Kareth ecoou em sua mente, repetindo suas palavras sobre o caos e o sofrimento resultantes de sua identidade demoníaca. Azael começou a questionar se, de fato, suas ações, mesmo que não intencionais, haviam contribuído para o sofrimento dos outros.

A voz do próprio Kareth interrompeu seus pensamentos. Ele apareceu diante dela como uma figura espectral, sem a presença imponente do teatro. Seu olhar era menos ameaçador e mais introspectivo. "Você está se culpando demais, Azael. Não é a vilã dessa história, embora suas ações e decisões tenham desencadeado eventos complexos."

Azael o encarou com uma mistura de raiva e tristeza. "Então, o que eu sou? Eu não posso negar que minha identidade demoníaca e as ações passadas tiveram um impacto profundo na vida dos outros. Eu sou responsável pelo caos em Vandelar e pelo sofrimento de muitos."

Kareth deu um passo à frente, seu olhar era um misto de empatia e dureza. "Você não é a vilã, Azael. O que você está enfrentando é uma série de circunstâncias complexas que você não pode controlar totalmente. A verdadeira vilania reside na escolha consciente de causar dano aos outros sem remorso. O que você está vivendo é uma consequência de escolhas passadas e de uma identidade que está lutando para se encontrar."

Azael suspirou, a tensão em seus ombros aliviada apenas um pouco. "Mas como posso redimir-me de tudo isso? Como posso fazer o certo agora que sei a verdade?"

Kareth observou-a com uma expressão que misturava respeito e desafio. "A redenção não vem apenas da ausência de culpa. Ela vem do reconhecimento dos erros e da ação para corrigir o que pode ser consertado. Você ainda tem a chance de fazer a diferença, de proteger Vandelar e encontrar um equilíbrio entre sua identidade e sua missão."

Azael sentiu uma leve onda de esperança em meio à sua dor. As palavras de Kareth ofereciam uma forma de enxergar a situação sob uma nova perspectiva. Ela percebeu que, apesar das revelações dolorosas, ainda havia um caminho a seguir e uma oportunidade de enfrentar a verdade e fazer o bem.

Com uma nova determinação, Azael se levantou. Sabia que a jornada pela redenção não seria fácil, mas estava disposta a enfrentar seus próprios demônios, tanto literais quanto figurativos. O caos na cidade precisava ser contido, e a maldição precisava ser enfrentada com coragem e sabedoria.

Ela decidiu retornar a Vandelar, não como uma demônia perdida em sua própria culpa, mas como uma protetora disposta a corrigir os erros do passado e lutar pela justiça e pela paz. Azael estava pronta para enfrentar o desafio de equilibrar sua identidade demoníaca com sua missão, e, finalmente, fazer a diferença na cidade que havia jurado proteger.

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