Meus demônios

Capítulo 19 : O peso do passado

O alívio após o ritual de purificação foi breve, mas profundo. Azael e Miftar estavam em um espaço tranquilo fora da caverna, tentando absorver a importância do que haviam realizado. No entanto, a sensação de paz durou pouco antes que memórias dolorosas voltassem a atormentar Azael.

Enquanto refletia sobre o que havia aprendido, algo se desdobrou em sua mente. Fragmentos de memória começaram a emergir, revelando uma verdade devastadora que havia sido há muito escondida. As lembranças de seu passado se tornaram mais nítidas e, com elas, a razão pela qual seus pais haviam apagado sua memória.

Azael lembrou-se de um incidente terrível que havia sido abafado e ocultado. Em um momento de desespero e fúria, ela havia cometido um ato horrível: a morte de seu próprio irmão. Azael estava em um estado de fúria incontrolável, uma consequência de um poder demoníaco descontrolado que ela não conseguia controlar. Naquela época, seu irmão havia tentado impedi-la, mas ela, consumida pela escuridão dentro de si, acabou matando-o.

O impacto dessa lembrança a atingiu com uma força devastadora. Azael caiu de joelhos, seu corpo tremendo com a intensidade da dor e da culpa. A verdade sobre o que havia feito foi um golpe cruel, e o peso da responsabilidade parecia esmagador. O ato que ela havia cometido não apenas destruiu a vida de alguém que amava, mas também levou seus pais a tomar a decisão de apagar suas memórias para protegê-la e a si mesmos da dor insuportável.

Com a revelação do passado, Azael sentiu sua sanidade vacilar. A culpa e a auto-recriminação se tornaram uma tempestade furiosa dentro dela. O controle que ela havia conseguido recuperar parecia estar se desintegrando, e a dor emocional se transformou em um comportamento destrutivo. Em um estado de desespero e raiva, Azael começou a descontar toda a sua frustração e culpa em Miftar.

Miftar estava ao lado dela, oferecendo apoio e tentando confortá-la, mas a intensidade da dor de Azael era avassaladora. Ela o empurrou com força, a sua frustração e raiva transformando-se em palavras cortantes e ações violentas. O amor e a conexão que compartilhavam foram temporariamente eclipsados pela tempestade interna de Azael.

"Por que você está aqui?" Azael gritou, sua voz cheia de um desespero cruel. "Como você pode me amar depois do que eu fiz? Eu sou uma monstra, Miftar! Eu destruí tudo que era precioso para mim!"

Miftar, ferido fisicamente e emocionalmente pela explosão de Azael, tentou se aproximar com uma calma dolorosa. "Azael, não se culpe por algo que aconteceu no passado. Você não está sozinha nessa dor, e eu estou aqui para ajudá-la a superar isso."

Mas as palavras dele não conseguiram alcançar Azael naquele momento. Ela continuava a se afundar na sua culpa, atacando Miftar com uma violência emocional que ela mesma não conseguia controlar. Azael sabia que estava se destruindo, mas o peso do seu passado a empurrava para uma espiral de autodestruição.

Após um momento de confronto intenso, Azael caiu no chão, exausta e em lágrimas. Miftar, ferido e angustiado, se ajoelhou ao seu lado, oferecendo seu apoio apesar do sofrimento.

"Eu... eu não consigo lidar com isso," Azael soluçou. "Eu sou uma ameaça para todos ao meu redor. Eu destruí a minha própria família."

Miftar colocou uma mão reconfortante em seu ombro. "Você está lutando contra uma dor imensa, e é natural que se sinta perdida. Mas você deve lembrar que a redenção é possível. Você tem o poder de fazer as pazes com seu passado e criar um futuro melhor."

Azael olhou para Miftar, vendo o olhar de dor e preocupação em seus olhos. A intensidade do momento começou a se acalmar, e ela começou a perceber a profundidade do amor e do apoio que ele ainda tinha por ela, mesmo depois de tudo.

Com o tempo, a raiva e a culpa de Azael começaram a dar lugar à aceitação dolorosa da verdade. Embora o caminho para a redenção fosse longo e difícil, ela sabia que precisaria enfrentar seus demônios internos para encontrar a paz que tanto desejava.