Jogo da Conquista

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🩵 Riley's POV

O sapato da ruiva batia forte na calçada emitindo um trote levemente irritante. Porém, era muito complicado sentir raiva dela enquanto praticamente saltitava feito um pônei nas nuvens.

- Tudo isso é felicidade em andar comigo? - pergunto. Sinto meu rosto esquentando devagar. Deve ser o sol, que agora está bem nos meus olhos, se escondendo cada vez mais depressa.
A ruiva para com os pulinhos, meio sem graça, e solta uma risada forçada.

- Até parece que eu ligo tanto assim. - ela diz, mas não sei se acredito.

- Não precisa parar. Só estou brincando.

- Não, não. Às vezes eu me empolgo demais mesmo. Não por sua causa, antes que fale alguma coisa. É que meu dia com o pessoal foi tão incrível que as músicas ainda estão tocando na minha cabeça!

Mei Lee subiu numa elevação de pedra ao meu lado, dessa vez se tornando mais alta. Era estranho tê-la naquele ângulo, considerando seu tamanho. Ela se equilibrava entre as rochas, cambaleando um pouco para desviar de formigueiros. Não pude deixar de achar a cena muito fofa.

- Quais músicas você cantou? - perguntei. A ruiva apertou ainda mais os olhos puxadinhos enquanto sorria, listando nomes de cantores extremamente bobinhos e melosos.

- E a Valentina? Me conta de novo como foi quando ela trançou o seu cabelo! - ela disse, logo quando terminou de cantarolar.
Por um instante eu havia me esquecido de falar sobre a Valentina.

- Foi bom. Ótimo na verdade. - disparei, tentando recordar da sensação de ter Valentina acariciando meus cabelos. Lembro do arrepio na nuca e do coração acelerado, mas sinto vergonha alheia só de me imaginar falando isso em voz alta. Ainda mais para alguém que não disfarça as emoções afloradas nem um pouco.

- Você é tão sem graça. - ela disse fazendo um biquinho. - Mas ela com certeza está mal com você a ignorando. Ela deve sentir sua falta.

- Você acha?

- Sim, com toda certeza. Agora, ela sente saudade de conversar com você ou da sua atenção constante sobre ela?

- Lá vem você de novo...

- Só estou sendo racional. Você precisa abrir os olhos se quiser realmente conquistar ela. Ela já está acostumada com várias pessoas na volta dela, igual um bando de urubus sedentos. Você precisa ser diferente, se destacar. Isso vai fazer ela notar você realmente.

- Mei... - eu tentei chamar sua atenção.

- Gestos são muito mais importantes do que palavras, mas para o jogo da conquista, tem que saber algumas palavrinhas mágicas sim senhora! - ela continuava, me ignorando.

- Mei. - chamei de novo. Acontece que o degrau de pedra estava chegando ao fim, mas ela não havia reparado e seguia andando.

- Tem que ter um certo charme, sabe? Não pode parecer desesperada demais. É como se esse fosse o gol da vitória, e para marcar você precisa de uma boa estratégia e...

- Mei Lee! - gritei, mas ela já havia pisado em falso e ia cair no chão.

Meu corpo se moveu sozinho. Tão rápido que não parei em uma posição confortável, uma perna esticada e a outra dobrada, senti que ia morrer de cãibra.
Os olhos de Mei Lee tinham uma luminosidade desconforme, alarmada porém... Céus, encantadora. Ela estava ali, sã e salva, em meus braços. Nossos rostos estavam próximos, ela tinha a boca entreaberta e respirava devagar, me fitando fortemente. Eu a agarrei pela cintura, com seus pés a alguns centímetros de distância do chão e suas mãos segurando firme meus ombros. Engoli em seco, porque hesitei em soltar. Finalmente, desci ela delicadamente, a tirando de seu transe.

- Você precisa tomar mais cuidado. - Eu disse, aproveitando para remover uma folha que pousou de forma graciosa no topo de sua cabeça.

- O...Obrigada... - ela agradeceu, tímida.

O clima entre nós ficou muito esquisito. Passamos uma parte da caminhada em silêncio, até a ruiva encontrar com uma professora de sua escola e começar a papear. Depois ela começou a compartilhar algumas histórias hilárias de escola, como quando sua mãe anunciou para toda sua sala que ela havia esquecido seus absorventes. Senti um leve aperto no peito, porque minhas melhores lembranças ainda eram de Minessota. Tive meus momentos com as garotas do novo time, mas só de lembrar que mudaram de escola sem me falar nada e depois simplesmente se afastaram, bom...
Fui tomada de repente por uma onda de remorso. Eu queria rir e ficar feliz por Mei Lee, mas eu sentia como se minha infância toda fosse um amontoado de solidão e angústias.

Quando eu deveria estar brincando, eu estava isolada em um canto, almoçando sozinha na sombra do pátio ou até dentro do banheiro. Quando devia ser grata por minha família, eu fugi de casa, porque queria desesperadamente evitar a mudança de vida. Quando tentava me aproximar de qualquer pessoa, meus defeitos eram apontados imediatamente e ninguém parecia confiável o bastante. Sempre tinha alguém para sussurrar uma coisa ou outra pelas minhas costas. Aprendi a ser melhor sozinha, mas eu não queria isso. Mas querer outra coisa era só um jeito mais fácil de me machucar. Se eu aceitasse e abraçasse a solidão, não haveria expectativas. Eu seria feliz.

- Você não quer jantar na minha casa? - a ruiva perguntou, meio de repente.

- A casa da sua mãe, você diz? - zombei, e ela me mostrou a língua.

- O meu pai é um ótimo cozinheiro. Hoje ele vai fazer rolinho primavera e uma sopa de camarão com brócolis que fica perfeita com um pedaço de pão caseiro. Pode admitir, parece gostoso, não é?

- Na verdade não muito. Não sou chegada em brócolis.

- Mas também tem Yakisoba! Ah, e os rolinhos! Eu posso espremer algumas laranjas e fazer suco para nós! Você é uma atleta, não quer viver de refrigerante e cerveja, quer?

Aquilo pareceu tentador demais. Percebi também que me afastar de Mei Lee estava ficando cada vez mais trabalhoso.

Ninguém é como você Onde histórias criam vida. Descubra agora