Batalha

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💙 Riley's POV

Não sei se aguentaria passar mais tempo sozinha com minha Mei.

Minha Mei.

Ela estava com os olhos inchados e a boca mais vermelha que o normal, a cabeça apoiada no punho enquanto encarava o vazio. Seu olhar estava realmente perdido.
Não me importei quando Tyler, o amigo dela que naquele momento trajava uma fantasia estranha repleta de lantejoulas, quis vir conosco.

- Não concordo com o que elas falaram. A Miriam é grande o bastante pra lidar com o que sente sozinha. Se não, ela precisa de uma psicóloga e não de alguém disposto a se forçar a amar ela. - ele disse. Era fato que semelhante atrai semelhante, e Tyler apesar da personalidade ligeiramente irritante e presunçosa, era uma pessoa profunda e reflexiva com sentimentos empáticos, assim como a ruiva.

Nós três fomos até uma cafeteria próxima da escola. Acabei mandando uma mensagem me desculpando com Valentina, mas ela apenas visualizou e não respondeu. Tyler fez um pedido gigante, e ele era o único com apetite naquele momento.
Eu queria sentar mais próxima de Mei, e foi o que fiz. Sentamos lado a lado e deixei ela apoiar a cabeça no meu ombro. Meu coração acelerou quando ela encaixou o nariz na curva entre meu pescoço e minha clavícula. Senti um forte arrepio quando seus lábios me tocaram suavemente na pele. Ignorei a presença de Tyler e fechei os olhos, absorvendo o calor da pequena ruiva. Ela ergueu o olhar para mim, cessando o contato e me fitando intensamente. Meus olhos pousaram em sua boca entreaberta, mas engoli em seco e desviei o olhar.

- Eu tenho namorada. - eu disse. As palavras pareciam pregos em minha garganta.

- Eu sei. - ela disse de forma seca. - O que você está fazendo aqui? - ela perguntou.

- Só estou tentando apoiar minha amiga.

Mei Lee assentiu e, consequentemente, se afastou de mim. Ela segurou o cardápio e o usou para esconder o rosto. Mesmo querendo ajudar, parecia que eu estava piorando as coisas.
Já não era mais uma tarefa difícil assumir o que eu queria com a Mei. Minhas intenções estavam ali, brilhando. Eu só queria fazer as coisas do jeito certo antes. Eu precisava terminar com a Valentina.

Tyler aliviou o clima com piadas e histórias que exalavam a mais pura energia gay do planeta. Basicamente ele se envolveu com um garoto no baile e estava em dúvida entre ele e um membro da 4Town que nem sabia da sua existência. Apenas observei os dois conversarem e rirem, me manifestando só quando as perguntas eram dirigidas a mim. Minha cabeça começou a latejar, e senti que era hora de ir para casa.

Do lado de fora do estabelecimento, Mei me deu um abraço apertado, e só então senti que estava tudo bem entre nós.

- Me desculpe. - ela disse.

- Não tem porquê pedir desculpas. Eu não queria ter estragado sua noite. - eu disse.

- Era só um baile de gincana. Não é baile de formatura nem nada. Além do mais, eu e as meninas meio que estamos acostumadas com todo o drama. Eu acho.

- Acostumadas ou não, não se culpe. Seu amigo esquisito tem razão. Você não pode se forçar a gostar de alguém.

Estaria eu esse tempo todo me forçando a gostar de Valentina? Será que o que eu sentia por ela era tão real quanto o que eu sentia por...

- Eu... Eu não sei o que dizer. - ela disse, e relaxou os ombros. Segurei seu rosto com as duas mãos.

- Eu prometo que vou sempre estar aqui. Pode falar comigo quando quiser, mas se quiser ficar quietinha, pensando, me chame também.

Mei sorriu e meu coração aqueceu.
Eu sabia que tudo ficaria bem.

...

Algo estava errado.
O gelo parecia mais um campo de batalha sangrento do que o meu refúgio de sempre. E o motivo para isso tinha nome: Miriam.

Antes, eu nem notava sua presença. Passei a analisar seus erros e criticar internamente depois de um tempo, mas só pela implicância. Porém agora as coisas estavam diferentes. Estavam mais intensas.
Miriam estava se saindo muito bem. Ela parecia um caçador ágil e furioso, patinando na velocidade de um predador e atacando a equipe rival com tanta aversão que parecia que ia jogar o taco em suas cabeças.
E por algum motivo, eu estava em sua mira. Era só o disco parar em mim que eu já sentia o olhar fulminante de Miriam sobre minhas costas. Éramos da mesma equipe, mas lá estávamos nós competindo pelo domínio do disco. Miriam tentou me empurrar com o ombro, mas resisti até que ela cedesse o disco. Ela me surpreendeu ao segurar meu capacete e empurrar, me desequilibrando um pouco.
Quando recuperei a visão, Valentina estava com o disco. Minha colega me lançou um olhar cúmplice como quem diz "Que droga essa garota tá fazendo?". Dei de ombros e continuei patinando. Senti um fio de saliva escorrer em meu queixo, o protetor bucal estava acumulando baba e aquilo estava me incomodando. Assim que cheguei perto de Miriam, cuspi o protetor perto de seus pés. Miriam patinou para frente e seus patins travaram com o plástico. Sorri de forma vitoriosa.

Mais tarde, fomos chamadas na sala da orientadora. Nossa treinadora não estava de bom humor.

- Seja o que for que estiver acontecendo entre vocês, tem que parar. Vocês precisam se resolver. Somos uma equipe e essas desavenças prejudicam todo mundo! - ela disse, anotando algumas coisas em uma prancheta que eu julguei ser cada erro cometido por Miriam e eu durante o jogo.

- Talvez a Riley não esteja tão focada quanto devia. A mente dela deve estar nos pertences dos outros. - Miriam disse.

Do que ela estava falando? Da Mei? Ela considerava a Mei um pertence seu?

- Eu sei que foi apenas um mal entendido a história de Riley roubar as suas luvas. - disse a treinadora. Olhei para Miriam com as sobrancelhas franzidas. Ela agora ia espalhar mentiras para tentar me atingir? Sorte que eu estava lá a mais tempo que ela, e a treinadora conhecia bem meu caráter para se quer tirar satisfação comigo.

- Eu acho que ela é imatura demais para estar no time. Não devíamos chamar crianças. - declarei, ignorando o olhar furioso de Miriam.

- Se fosse assim, você não estaria aqui hoje. Não esqueça que você era mais nova que a Miriam quando eu te chamei. - a treinadora disse, e senti o sangue ferver quando ouvi Miriam abafar uma risada. - Quer saber? Cansei de vocês. Esse fim de semana eu vou fazer uma trilha com o meu filho.

Dei de ombros, sem interesse na vida pessoal da minha treinadora.

- E vocês duas vão vir comigo!

Agora era a vez de Miriam arregalar os olhos. Eu nem tive tempo para isso, já que minha alma saiu pra passear assim que a treinadora terminou a frase.

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⏰ Última atualização: Oct 04 ⏰

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