Ciúmes

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🩵 Riley's POV

Respiro fundo o ar gélido da quadra, ofegando uma fumacinha úmida devido ao frio. Já estou tão acostumada com essa sensação que, quando não estou jogando, meu corpo estranha o calor. Sempre coloco quatro pedras de gelo em meu copo, não importa o que vou beber. Sempre durmo com o ventilador ligado, de preferência fixo nos meus pés, e sempre uso o mesmo casaco azul porque, além de ser o meu favorito, ele não é do tipo que esquenta o corpo, serve mais para amenizar ventanias.

Quando o jogo começa, tudo ao meu redor desaparece. Só existem o gelo, as possibilidades de marcar baliza e as possibilidades de meu time perder, que farei o possível para se tornarem nulas. A garota da equipe rival rouba o disco de mim, porque não notei que ele estava comigo só para começar. A única coisa capaz de me distrair é um par de olhos cor de chocolate e um sorriso lascivo, pertencentes a Valentina. Droga.
Antes de confiar o disco a mim, ela fez uma careta tão concentrada que afetou meu senso de direção.
Rosno para a minha adversária e patino feito louca atrás dela. A garota já passou o disco para sua colega, mas não importa. Continuo atrás dela. Finjo esbarrar acidentalmente em seu ombro e a empurro, ela cambaleia mas recupera o equilíbrio rapidamente.

- Você vai pagar por isso Minessota!

Balanço a cabeça, rindo. Então minha reputação me persegue agora? De qualquer maneira, eu sabia que não demoraria para que conhecessem meu nome.
Como esperado, recuperei o disco e o conduzi até o lado oposto da quadra. Fiz uma manobra de costas para enganar duas adversárias que se aproximaram, lançando o disco entre minhas pernas e o capturando em seguida. Perdi a conta de quantas vezes fiz baliza naquele jogo.

Fazia um tempo que eu andava confiante sobre o hockey. Me sentia inabalável, e a única pessoa acima de mim continuava sendo Valentina, mesmo depois de quase quatro anos.

- Você foi incrível! - a garota nova disse, se aproximando com vários gestos expressivos e animados. Eu não lembrava qual era o seu nome. Milena? Mirela? Micaela?

- Valeu, hã... Parceira. - decidi não arriscar. Dei um soquinho amigável em seu ombro, e ela pareceu gostar pois sorriu feito boba. Às vezes, a postura dela me trazia um sentimento nostálgico, porque antigamente era eu quem tinha os olhos brilhando para minhas colegas jogadoras.

- E aí Mendelsohn! Bom jogo hoje né? - Valentina se aproximou de nós, e só então senti o cansaço bater com tudo, minhas pernas enfraqueceram e tive que me apoiar na parede para não cair.

- Não precisa me chamar pelo sobrenome, Val. Só Miriam está bom.

Então esse era o nome dela! Espera, ela deu um apelido para a Valentina? Minha Valentina? Quem essa garota pensa que é?

- É, Vaaaal, não precisa ser tão formal. - praticamente cuspi as palavras, mas tentei soar descontraída. Valentina franziu a testa para mim e me ignorou.

- Vamos comer pizza na minha casa para comemorar. Gostaria de vir? - Valentina a convidou. Fuzilei a tal Miriam com os olhos, numa tentativa de intimidar, mas não acho que ela tenha se quer notado pois não parava de sorrir.

- Eu ia adorar! Mas eu trouxe minha amiga hoje pra assistir ao jogo, seria vacilo da minha parte.

- Não seja por isso! É só trazer ela!

- Sério?

Como sempre, Valentina sendo a melhor pessoa que existe. Miriam se afastou e, uns minutos depois, estava de volta com uma garota pequena de cabelos ruivos. Suas roupas eram monocromáticas, usava rosa da cabeça aos pés. Ela a princípio parecia meio tímida, mas aos poucos foi se soltando e parecia tão empolgada com a ideia de sair com a Valentina quanto sua amiga Miriam. Revirei os olhos e fui me trocar, afinal a minha presença ali não estava fazendo a menor diferença.
Bufando, atirei meu taco no chão do vestiário e esfreguei as têmporas. Era horrível sentir ciúmes de alguém que eu não namorava. Tudo que eu podia fazer era me sentar e ver a garota por quem sou apaixonada escapando entre meus dedos, de conversinha com qualquer uma. Tá certo que ela era legal com todos, mas parecia que na minha frente ela sempre ficava ainda mais simpática. O que isso poderia significar? Será que era coisa da minha cabeça? De um jeito ou de outro, decidi que estava na hora de descobrir. Talvez naquela noite.

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