✨ "Amizade" ✨

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🩵 Riley's POV

Naquela tarde, Miriam não apareceu no treino. Não que eu me importasse, era visível que essa sua paixão por hockey não chegava a ascender nem um palito de fósforo e logo ela iria desistir. Ela não era empenhada como as outras, e não chegava nem aos meus pés.

Sua falta repentina gerou assunto com a ruiva, através de mensagens de texto claro. Ela mandou uma foto em grupo com várias pessoas segurando microfones e devorando hambúrgueres, não ao mesmo tempo. Na mesma hora mostrei a foto para Valentina, para expor o motivo da novata não ter dado as caras, mas ela riu e disse que parecia divertido. Ao menos, Valentina passou a maior parte do dia de bom humor, e me tratou com gentileza igual no começo da nossa amizade. De forma inconsciente, segui os conselhos da ruivinha e tentei ignorar um pouco a Valentina, o que era difícil já que no gelo éramos uma dupla imbatível. Acabei jogando sozinha, sendo acusada de egoísmo o tempo inteiro, mas Valentina me deu atenção então posso dizer que valeu a pena as brigas pelo disco.

Quando o treino acabou, fui encher a minha garrafinha com água da pia do banheiro. Aproveitei para soltar os cabelos e pentear. Apesar de estarem meio oleosos pelo suor, tive a ideia de fazer uma trança.

- Quer ajuda? - Valentina entrou no banheiro. Ela lavou as mãos para tirar o excesso de sujeira, afinal as nossas luvas tinham um odor terrível de meias molhadas.
Valentina deslizou as mãos entre minhas madeixas loiras e começou a trançar meu cabelo.

- Pulseira maneira. - ela disse.

- A amiga da Miriam que me emprestou. Acho que vou devolver quando ver ela de novo.

- Ah, ela que deu? Que legal. Ela é legal. - Valentina disse, assentindo rapidamente. Ela sorriu e se despediu de mim dando um soco em meu ombro.
Puxei o celular e contei tudo para Mei Lee. Ela mandou vários emojis com olhos de corações e algumas flores cor de rosa, extremamente gay.

"Bem que você podia passar aqui pra me contar melhor como foi".

Mei Lee não esperou minha resposta e já enviou a localização do tal Karaokê. Pensei um pouco e decidi que não era de todo mal conhecer um lugar diferente antes de ir para casa. Avisei meu pai por mensagem, porque sabia que ele não teria problema em sua filha saindo de última hora pra um bairro desconhecido, agora meu pai, ele sim teria problema com a esposa mais tarde. Mas eu já teria saído, não teria nada a ser feito.

Chegando lá, fiquei encantada com as luzes roxas que iluminavam o ambiente, que mais parecia o quarto de um adolescente emo do que uma lanchonete. Assim que me viu, a ruiva sorriu e levantou do sofá de couro que estava sentada. Miriam estava entretida cantando "That Should Be Me" do Justin Bieber, que no fundo eu também gostava, mas escondia essa informação a sete chaves de todos.

- Quer cantar uma música com a gente? - ela perguntou com um brilho inocente nos olhos.

- Eu não vou ficar. Só estava passando por aqui e decidi dar um oi. - menti. A verdade é que eu queria vê-la. Até porque, ela precisava tirar da cabeça a imagem patética que passei outro dia. Queria mostrar que nem sempre eu era assim, que foi apenas um deslize mas Riley Andersen sabe ser uma pessoa mais centrada e racional. Por que eu queria me provar para uma pirralha feito ela? Aí não sei responder.

- A Valentina que fez esse penteado. Sinceramente eu não gostei muito, mas se foi ela que fez está perfeito.

- Eu entendo. É assim mesmo. Ela podia até dar comida demais ao seu cachorro que você não ia se importar.

- Esse exemplo foi bastante específico.

- Nunca me ocorreu! Acredite!

Eu ri e coloquei as mãos no bolso. O atendente perguntou se eu ia querer alguma coisa, e Mei Lee respondeu por mim dizendo que não.

- Se você fosse ficar eu poderia oferecer alguma coisa a você. - ela disse.

- Não, imagina. Não tem necessidade nenhuma. Não aceito que paguem as coisas para mim.

- Nem se for uma amiga?

- Quem disse que eu sou sua amiga? - eu disse, brincando.

- Você veio de ônibus até aqui só para me dar um oi e não considera que somos amigas?

- Como sabe que vim de ônibus?

- Até vindo de carro ou bicicleta, não importa. O que interessa é que você veio me ver. Na hora exata em que pedi.

Arqueei a sobrancelha para ela, provocativa.

- Então você admite que estava praticamente implorando para eu vir?

Mei Lee revirou os olhos e mordeu a boca que brilhava de gloss e exalava um cheiro bem docinho. Só então reparei que ela tinha lábios carnudos que preenchiam quase todo seu rosto, e seu rosto até que era bem bonito. Ela parecia uma boneca, bochechuda com olhos pequenos e um sorriso largo. Senti meu coração bater um pouco mais depressa, mas ignorei.

- Acho que eu vou indo. Vai lá com os seus amigos.

- Onde você mora? - ela perguntou.

- Avenida Calgary Stephan, numa lomba. É só procurar a casa mais feia que você acha a minha.

- E você vai voltar andando ou de ônibus?

- Isso é algum interrogatório? - perguntei.

- Só estou preocupada. Não é bom voltar sozinha a essa hora.

- Não está tão tarde. Nem escureceu ainda, você que é uma bebezinha mesmo.

Ela bufou e, com as mãos na cintura, bateu o pé e começou a fazer um discurso sobre os perigos que habitam as duas da nossa cidade.

- E também, eu já estava de saída. Ia oferecer o prazer da minha companhia.

- Ah, claro. Assim se algum ladrão aparecer você pode bater nele com a sua bolsinha minúscula.

Mei Lee começou a me dar vários tapas nos ombros e nas costas, e eu não parava de gargalhar.

- Mei. - chamei sua atenção e ela ficou imóvel na mesma hora, como se eu tivesse dito uma palavra mágica. Não foi intencional parecer tão séria, mas devo tê-la intimidado, talvez.

Como era quase impossível vencer um debate contra aquela garota, acabamos indo embora juntas.

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