Quando voltei para casa naquela noite, encontrei minha mãe na sala de estar, ao lado da lareira. Ela segurava uma caneca e observava o fogo com total atenção.
— Pensei que voltaria mais cedo, filho. — diz, ainda sem me encarar.
Ao me aproximar da lareira, sinto meu corpo aquecido e percebo uma espécie de livro sobre suas pernas. Minha mãe me oferece a caneca de chá que está sobre o móvel, e eu a seguro ao me sentar na poltrona em frente a sua.
— Tive assuntos a resolver, mãe.
Ela me observa colocar um pouco de uísque em meu chá.
— Como seu pai... — comenta, sem piscar, quase como se fosse um pensamento que deixou escapar.
Observo a mulher de cabelos pretos lisos, agora com fios brancos, presos em um coque baixo. Seus olhos são azuis, como os meus, seu vestido preto — cor habitual desde que meu pai morreu — cobre praticamente todo seu corpo.
Ao ver suas íris encherem-se de lágrimas, cubro sua mão com a minha e a aperto tentando passar algum conforto.
— Por que ele não me contou? Eu poderia ter cuidado dele melhor! — sua voz é embargada.
Depois que me tornei Don, Dean Gentle, meu padrinho de batismo e meu conselheiro, me informou que meu pai estava lutando contra o câncer há anos, e apenas quatro pessoas o sabiam: meu pai, Dean, Peter Manzini e seu médico.
Minha mãe ficou devastada ao se deparar com meu pai morto ao seu lado da cama. Ela não esperava por aquilo, afinal ele tinha escondido todos os sintomas da doença.
Ele foi seu primeiro e único amor. Conheceram-se quando ela tinha apenas quinze anos. São mais de trinta anos de casamento.
— Ele só queria te poupar, mãe. — respondi, minha voz saindo mais suave do que pretendia. — Queria que lembrássemos dele como sempre foi: o invencível Don Christian Wayne.
Minha mãe balançou a cabeça, tentando conter as lágrimas que estavam prestes a escorrer por seu rosto.
— Você se lembra que dizia isso a ele, quando era apenas um menino, Chris? — seu sorriso, embora triste, é nostálgico.
Eu deixo um sorriso breve se moldar em meus lábios.
— Dizia que queria ser tão forte e poderoso como seu pai. — respira fundo, encarando o teto com piscadas rápidas. — E ele ficava todo feliz.
— Eu me lembro, mãe. — respondi, olhando para o fogo. — E agora, aqui estou, tentando ser aquele homem.
Ela virou o rosto para me observar, seu olhar se suavizando ligeiramente.
— E você está sendo, Christopher. — disse, sua voz cheia de convicção. — Você está cuidando da família, mantendo o legado dele. Como ele sempre quis.
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FAMÍLIA WAYNE | FINALIZADA
RomanceNa vida de Christopher Wayne, a morte de seu pai não é apenas uma tragédia pessoal, mas uma oportunidade cuidadosamente planejada. Criado desde a infância para suceder seu pai, Christopher retorna a Toronto determinado a não apenas assumir o legado...