Quarenta e Um

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A chegada à casa de Tayla foi como atravessar um portal para o passado

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A chegada à casa de Tayla foi como atravessar um portal para o passado. Ela me abraçou forte, e por um instante, foi como se tudo fosse mais simples, como se eu fosse apenas a garota de quatorze anos que dividia segredos e esperanças com sua melhor amiga.

Mas, agora, cada abraço continha uma carga de histórias que nunca pensei que contaria — especialmente as que envolviam Christopher Wayne.

Tayla não perguntou nada. Não pediu explicações. Seu silêncio compreensivo era mais acolhedor do que qualquer palavra poderia ser. Eu me afundei no sofá de sua sala, uma taça de vinho na mão, e a cabeça cheia de confusão e raiva.

— Você voltou a Toronto... — ela finalmente comentou, depois de alguns minutos de um silêncio confortável.

Seus pais já estavam dormindo.

— Não acho que tenha conseguido ir muito longe. — murmurei, sem conseguir esconder o cansaço na minha voz. — E também não acho que estou pronta para falar sobre isso agora. — completei, olhando para o líquido avermelhado no copo, tentando encontrar respostas que nunca estariam lá.

Ela assentiu, respeitosa como sempre. Tayla tinha essa habilidade rara de entender o espaço dos outros, algo que eu sempre admirei.

— Você sabe que não precisa explicar nada, Rob. Só quero que saiba que estou aqui pra você. — respondeu, sentando-se ao meu lado e apertando levemente minha mão.

O gesto me trouxe um conforto que eu não sabia que precisava.

Nos dias que se seguiram, me vi tentando me reconectar com quem eu era antes de Christopher Wayne ter entrado em minha vida.

A decisão de voltar ao La Lune não foi fácil, mas era a única coisa que me parecia certa naquele momento. Era um lugar onde, ironicamente, me sentia no controle, onde minha vida ainda me pertencia, mesmo que por poucas horas em uma noite caótica.

O clube estava exatamente como eu me lembrava: a música alta vibrando nas paredes, as luzes coloridas cruzando o ambiente escuro, e a energia frenética que pulsava de cada canto. Quando subi ao palco, o calor das luzes me envolveu, e eu podia sentir o peso das emoções que vinham à tona em cada movimento.

Eu dançava não apenas para entreter, mas para esquecer, para tentar me lembrar de quem eu era antes de tudo aquilo. Com cada movimento, eu tentava apagar o rosto de Christopher da minha mente — sua expressão de culpa quando me implorou para ficar, as promessas vazias de proteção que só me quebraram mais.

Mas, ainda sim, no momento que pisei naquele palco, uma parte minha procurou por seus olhos azuis instintivamente em meio a todos aqueles olhos que não causavam frio na barriga como os dele. Era revoltante e exaustivo, porque minha parte racional repetia a mim mesma que ele escondido de mim algo que podia mudar completamente minha vida; enquanto a parte que o ama apenas repetia que sentia falta de tê-lo por perto e se sentia morrendo aos poucos.

FAMÍLIA WAYNE | FINALIZADA Onde histórias criam vida. Descubra agora