Capítulo 2 - Seis por meia dúzia

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Se eu tivese um rabo ele com certeza estaria abanando agora.

A vista desde o helicóptero chegando a base do quartel general era simplesmente um sonho. Um lugar que eu pensei em pisar, agora pedia por ajuda e eu "humildemente" aceitei.

O primeiro desafio talvez seria me integrar a equipe, o contrato dizia que eu já faria parte dela a partir do momento que assinasse o papel, mas as relações humanas são mais complexas que isso. Já na área de pouso, eu podia ver 2 pessoas me esperando em frente e mais alguns 3 soldados mais atrás armados.

- Tudo isso só pra mim.- Eu digo para descontrair enquanto solto um sorriso de canto, oque faz o guarda que estava me acompanhando no helicóptero me olhar torto e franzir o cenho.

Apesar de que estive ativamente 2 anos nesse mundo de armas e adrenalina, meu conhecimento militar era escasso, trabalhar em equipe então seria um fracasso. Nos meus negócios era eu quem mandava e desmandava e sempre deu certo, agora seria um desafio me acostumar a ser subordinada de alguém que eu nunca vi na vida e confiar minha vida a pessoas que provavelmente meteriam uma bala na minha cabeça sem hesitar.

Eles não poderiam esperar muito de mim, que em meus dias de glória tinha 100% do meu corpo, porém depois daquele tiro que recebi antes da minha prisão, o movimento na minha perna esquerda foi reduzido em 50%. Eu poderia correr mas bem pouco, linha de frente então nem pensar, mas eles não precisavam saber disso porque eu não planejo ficar muito tempo aqui.

- Bem vinda Olivia, eu sou o capitão Price, líder da força tarefa 141. Espero ansiosamente trabalhar com você. - Ele diz me dando um aperto de mãos firme e eu retribuo, e observo o homem atrás dele fazer uma cara de quem comeu e não gostou.

Apesar das palavras gentis, era visível a tensão no ar. Se eu fosse líder de uma equipe militar também repudiaria ter que aceitar alguém do baixo mundo como aliado, mas aquela mulher era meu caminho para ser livre novamente e independente de quem gostasse ou não eu continuaria até alcançar meu objetivo.

Eu sabia que não poderia contar com ela para me tirar de qualquer problema aqui dentro, mas acredito que ninguém iria buscar problema comigo sabendo que foi ela quem me mandou aqui, eu poderia evitar problemas internos por enquanto até conhecer meus colegas.

Depois de andar por alguns corredores, eu me dou conta que ainda estava algemada e com a focinheira. Oque era meio humilhante, mas se eu quisesse a liberdade eu lamberia o sapato de qualquer um aqui e jogaria meu orgulho no ralo se fosse possível.

Logo atrás de mim estava o guarda da prisão que estava acompanhando para reportar meu comportamento durante o início da minha estadia aqui, e a minha frente caminhava Price me guiando até a sala de reunião onde meus supostos colegas de trabalho estariam.

- No pienso trabajar con ella! - Eu escuto do outro lado da porta uma voz exaltada por telefone.

Nós paramos na porta e Price entra fazendo sinal para eu esperar, enquanto isso eu estico meus braços para que o guarda possa retirar minhas algemas e logo eu jogo fora a focinheira. Bem mais refrescante assim.

Amarro meu cabelo em um coque e a sala que antes estava bem barulhenta agora só se ouvia a voz de Price. Eu toco a porta antes de entrar e ver alguns rostos sentados espalhados pelo local.

- Bom, essa é Olivia, que vai trabalhar com vocês de agora em diante, queirão ou não. - Ele enfatiza a última parte.

Eu caminho até uma cadeira ao lado da janela na primeira fila um pouco separada e me sento ali mesmo, e sinto minhas costas pegarem fogo, parecia que eu tinha sido jogada no meio da cova dos leões... Ou melhor, entrei na cova por livre e espontânea vontade.

A essa altura o guarda já tinha ido embora e eu estava sobre os "cuidados" da força tarefa.

Depois do que parecia uma reunião de rotina, disseram coisas como relatórios de missões passadas, e finalmente o tema do suposto fugitivo. Hassan.

- Se não o capturaram até agora como pensam  que vão fazer isso com uma detenta? - Um homem com barba e bigode protesta. Pensei que o primeiro dia eu ia passar ilesa no radar mas parece que não é o caso. - Ela não vai fazer nenhum milagre Capitão!

- Como eu disse antes, queiram ou não, vão trabalhar com ela. São ordens de cima. - Eu só me apoio na cadeira sem dizer nada e apenas observo a discussão.

- Como vamos saber se no meio da missão ela não vai tentar matar algum de nós e tentar fugir? Quem vai ligar pra ela no meio do caos que vamos enfrentar nas missões?? Igual Alejandro disse mais cedo, eu não estou aqui para ficar de babá de presidiária! - Era esperado que eles pensassem as mesmas coisas que eu sobre eu fugir em uma missão, mas era bem óbvio também essa possibilidade.

- Já chega, ou aceita ou tá fora da missão, isso vale para todos. Agora saiam, Menos você, e você espera lá fora. - Price aponta para mim e para mais um no fundo mas eu nem me dou o trabalho de olhar, e saio na hora.

- Capitão, pensa bem eles têm razão, quem vai garantir que-

- Haah... Eu sei Soap, mas Laswell garantiu que ela não seria problema.- Price diz um poco penoso.

 Eu apoio minha cabeça na parede e solto todo meu peso na minha perna direita enquanto espero no corredor eles acabarem essa discussão sem futuro deles, até que esse "Soap" sai da sala e caminha o corredor sem nem olhar para trás, ele tinha um moicano engraçado.

- Eu quero que você me reporte diariamente oque ela faz aqui na base enquanto não sairmos para a missão Ghost. É o único que eu confio que vai sair ileso se ela tentar algo. - Ele diz mais baixo a última parte mas eu ainda ouço.

- Haah... - Eu só escuto um suspiro. - Entendido. - E logo depois ele sai da sala e dá de cara comigo escorada na parede esperando.

Ele tinha uma máscara de caveira que o fazia parecer que estava em algum festival mexicano, vestia uma camisa preta de manga comprida e calças militares, era bem alto e chamava bastante atenção e ao contrário de John, ele não falava muito.

- Vamos. - Ele começa a andar. - E não tente nenhuma gracinha. - Eu levanto as mãos em sinal de rendição.

Ser vista como uma ameaça era oque eu menos queria agora mesmo, quanto mais eles estiverem confortáveis com minha presença, menos eles me notariam. E melhor seria. 

Nós andamos até um setor que havia dois andares e dois corredores cheio de portas. 

- A maioria dessas portas são quartos vazios, seu quarto é aqui e o meu é duas portas a esquerda. - Eu o observo enquanto abre a porta para me mostrar o interior. - Só mais uma coisa. 

Ele entra rapidamente e retira a chave da porta.

- Você não vai mover um dedo nesse lugar sem eu saber. - ele se aproxima. -  você vai sair para comer quando eu vier te buscar, os banhos são até ás 5 da tarde e na hora de dormir eu vou trancar e abro no dia seguinte. Você entendeu? - Ele me encarou esperando uma resposta. - Eu não vou repetir.

Ele tinha essa máscara mas era notável a carranca que ele estava fazendo, eu tinha certeza absoluta que ele odiou as ordens de Price, eu achava até melhor não ver o rosto dele para não arruinar meu humor também. Mas eu não tenho culpa que a superior dele me fez uma proposta tão boa, e não iria deixar que qualquer rabugento me fizesse voltar para aquele inferno tedioso.

- Eu entendi. - Eu finalmente respondo, esse cara tinha uma aura sombria que me dava arrepios.- Senhor ...

- Tenente pra você. - Ele diz e faz sinal com a cabeça em direção ao quarto. - Entra.

Assim que eu entrei e ainda estava observando o quarto, ele fecha a porta atrás de mim e eu ouço a tranca.


- Uau, de uma prisão a outra. Emocionante.


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