Capítulo 7 - Ligação inesperada

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O tempo passava e eu oscilava entre oque era realidade e oque era sonho, não tinha mais noção de tempo e nem fazia questão de checar o horário.

Os analgésicos funcionaram muito bem, tudo oque eu sentia era uma sensação de tontura e um pouco de fome por ter pulado o almoço. De resto não conseguia nem sentir que tinha pernas nem costelas. A bolsa de gelo já havia derretido e era só água agora.

Eu decido dormir novamente quando eu sinto alguém puxar meu lençol bruscamente e só pelo tom de voz eu já sabia quem era.

- Acorda. - Ghost diz em um tom autoritário.

Eu ignoro a ordem porque eu estava me sentindo muito grogue e meu corpo pesado, quando eu sinto ele agarrar meu tornozelo esquerdo de leve, mas em um reflexo eu chuto seu peito com a direita e encolho minha perna.

Depois de me dar conta do que eu tinha feito, eu levanto em um pulo e observo a situação. Ele me encarava de pé na frente da cômoda enquanto passava a mão aonde eu havia chutado, com certeza o pegou desprevenido e deve ter doído.

- Me desculpa foi por reflexo eu-

- Se veste e vamos. - Ele joga minha camiseta no meu rosto e assim eu faço. Depois de ter levado uma surra naquele ringue, a última coisa que eu queria era ele irritado.

Graças aos analgésicos de Soap, eu fui capaz de andar novamente pelos corredores sem nenhuma dor. E eu noto que estávamos pegando um caminho diferente do refeitório.

- Onde estamos indo ? - Eu pergunto ingenuamente.

- Pra enfermaria. - Depois de ouvir isso eu paro na mesma hora. - Oque foi? Não vai me dizer que tem medo de agulha.

- E-eu não posso Tenente. - Meu desespero começa a apitar. - Eu só precisava de um descanço, estou novinha em folha.

Ele se aproxima de mim e eu me encolho um pouco me afastando, em um movimento ele levanta minha camisa na parte lateral.

- Você nem se viu no espelho né? - Eu olho para baixo notando as protuberâncias de sangue que estavam minhas costelas, que graças aos analgésicos eu não pude sentir dor. Todo esse sangue coagulado tinha que sair e o jeito mais fácil era enfiar uma agulha e sugar tudo para fora.

- Merda... 

Sem muitas opções eu o sigo silenciosamente até chegarmos na porta da enfermaria. Ele entra diretamente enquanto eu enrolo alguns segundos.

Ele se senta em um banco perto da porta enquanto o médico me guia para uma maca, eu nem prestava muita atenção no que ele estava fazendo nas minhas costelas porque essas paredes brancas afogavam qualquer sentimento existente em mim. A única coisa que eu sentia era ânsia de vômito.

Sou tirada dos meus pensamentos mórbidos pela presença de Price que aparece na porta dando um tapinha no ombro de Ghost e sussurrando algo que eu não pude escutar.

Depois de todo procedimento terminar eu já estava mais calma e ansiosa para sair de lá o mais rápido possível, e já do lado de fora da sala, Ghost se aproxima.

- Laswell tá te esperando lá na sala do Price, vamos.

Mas oque merda aquela loira iria querer comigo? Já ter me oferecido nesse inferno não foi o suficiente?

Eram tantas dúvidas e teorias que em um pulo já estávamos em frente a sala de Price. Eu toco a porta delicadamente e ouço sua voz mandando entrar, e diferente do que eu esperava, ele segurava um telefone nas mãos, provavelmente a Laswell.

- Laswell. - Eu indico que estava escutando.

- Olá Olivia, fiquei sabendo que seus dois primeiros dias foram um pouco turbulentos.

- Não, foi tudo bem calmo já que meus colegas de trabalho sempre foram tão acolhedores. - Eu sorrio de canto de boca do meu sarcasmo e lembro da presença de Price por um momento. - Mas que devo a honra de receber uma ligação sua?

- Eu não sou injusta a ponto de falar que esses incidentes foram culpa sua, mas eu só te liguei pra te dar mais uma razão para se comportar, ainda mais agora que sua primeira missão com a equipe está se aproximando. - Eu tinha um mau pressentimento.

- E oque seria? - Eu não poderia imaginar algum motivo que me fizesse não sair da linha.

- Hugo Satra, conhece? - Filha da puta. - Acredito que ele seja uma boa razão para que você coopere.

- Quem? -Eu tento despistar qualquer relação que tinha com o garoto.  - Se está tentando fazer um refém pra me assustar escolheu a pessoa errada. Eu não o conheço.

- Não se preocupa, ele é bom igual você, tá foragido. Só queria te mostrar que temos um amigo em comum.- E desliga. 

A minha sorte é que estávamos por telefone, porque minha cara tinha mudado para algo sombrio e sentia as veias do meu pescoço pulsarem.

- Porra... - Eu devolvo o telefone a Price que me observava em silêncio.

- Ela disse que você ia gostar de ver isso. - Ele me entrega uma pasta laranja com um único nome em cima dela.

Hugo Satra.

Oque me faz sentir um gelo na espinha, pego o documento e saio calada da sala. Não tinha coragem nem de olhar essas páginas.

Nem espero Ghost e passo direto por ele indo em direção a meu quarto já fechando a porta atrás de mim.

Como merda eles sabiam de Hector? Ele sobreviveu? Como ele tá vivendo? Todos esses anos que eu enterrei ele na minha memória para não me afogar nas dúvidas vieram a tona nesse momento. As lágrimas que faz tempo que eu não derramava saíam sem controle, mas silenciosamente.

A única coisa que eu sabia é que ele estava vivo, mas como? Vivendo como Hugo ou Hector? O teatrinho foi suficiente para que ele conseguisse escapar de todo esse mundo de crimes com o amanhã incerto? Eu não conseguia imaginar, então decido olhar a pasta.

Felizmente ou infelizmente só haviam fotos de Hector, ele estava mais velho com um capuz e um óculos escuro atravessando a rua, ou andando casualmente por uma calçada, e a última foto  me alarmou. Ele estava com um uniforme que eu não conseguia reconhecer de onde, rodeado de outras pessoas que tinham o mesmo uniforme, todas segurando um fuzil e alguns pacotes de droga espalhados pelo chão.


Eu tinha 3 fotos e inúmeras dúvidas.

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