Capítulo 13 - Sem saída

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Eu não conseguia mais ler nada, só corria meus olhos por cada relatório e me deparava com o nome do mesmo alvo em todas, Hugo Satra.

Ele tava trabalhando junto com o cartel mexicano e El Sin Nombre mas como caralhos ele chegou aqui?

Eu disse pra ele ter sua própria vida esperando que ele saísse desse mundo e fizesse uma faculdade, arrumasse um emprego, tanto faz mas que saisse dessa vida. Oque aconteceu nesse tempo com ele que tá tudo virado de cabeça pra baixo?

- Porra Hector... - Eu guardo o documento de volta e passo a mão pelo rosto tentando achar algum sentido pra tudo oque eu li.

De repente é possível escutar alguns passos lá fora e eu me escondo com dificuldade embaixo da mesa que havia perto da entrada e a porta se abre.

- Mariano dejaste la luz prendida de nuevo cabrón! - O guarda começa a caminhar para o fundo do último corredor e nota alguns documentos que eu acabei deixando no chão e se agacha para inspecionar.

Eu aproveito que ele estava de costas e dou o fora dali, e por sorte o tal do Mariano já havia chegado no outro lado do pavilhão e eu estava fora da sua visão. Enquanto eu caminhava apressadamente eu olhava freneticamente para trás para ter certeza que eles não haviam me notado quando sinto alguém me puxar para dentro de uma das várias salas do corredor.

Ao mesmo tempo que foi um puxão brusco, a pessoa teve o cuidado de não me desequilibrar.

Quando olho percebo que era Ghost, e ele não estava com uma cara nada boa, dava pra ver o mau humor através do pano.

- Eu me perdi. - Já começo na defensiva.

- Se perdeu depois de perguntar todas as direções possíveis para a enfermeira? - Ele diz com uma voz baixa enquanto ainda segurava meu braço.

- Eu me confundi. 

- Você vai responder cada uma das minhas perguntas, e se você demorar mais que 3 segundos pra responder eu vou fazer você precisar de outra muleta. - Ele se senta na cadeira de ferro na pequena mesa redonda que tinha no centro da sala ignorando minha resposta.

Era uma sala de equipamentos bem pequena, tinha muitas caixas de munição espalhadas pelo chão e algumas estantes com pistolas penduradas. A única luz era uma pequena luz bem em cima dessa mesinha.

Ele vestia uma balaclava toda preta e uma camiseta verde escuro, e uma calça militar padrão junto com a botina de sempre, estava bem casual, a única coisa chamativa ali era a faca de combate no seu cinto colado a sua perna.

- Mas Ghost eu n- 

- Tenente. - Ele resmunga. 

- Tenente. - Eu repito e engulo seco.

- Tem alguma coisa que eu precise saber sobre você, Lobo? - Era a primeira vez que ele me chamava pelo apelido... Eu estava realmente fudida.

- Alguma coisa como-

- Eu não vou repetir. - Me interrompe cortante.

- Três.

Ele queria saber da minha perna? Minha relação com Hugo?

- Dois.

Ele sabia que eu passei pela sala de documentos? Ou ele tá jogando verde?

-  U-

- Eu tenho trauma de nadar. - Decido chutar que era a parte do rio, e ainda por cima minto.

Ele se levanta e vem na minha direção me deixando presa entre ele e a porta.

- Parece que você tem muitas respostas pra dar e não quer dar nenhuma delas. - Ele apoia o antebraço na porta. - O que eu quero saber, é o porquê que você tava mancando enquanto desciamos a montanha depois de sairmos do primeiro local em que procuramos Hassan.

- Eu tinha levado um tiro de rasp-

- E não minta pra mim Lobo, os caras do exército nem chegaram a encostar na gente lá dentro.

Caralho esse cara era bom.

Eu mordo o lábio ao perceber que eu estava encurralada, eu precisava pensar em alguma coisa.

- Eu to dê olho na sua perna desde que estivemos naquele ringue. Quem protege mais a perna que o tórax ou a própria cabeça?

- Eu não sei do q-

Ele me agarra pela cintura de repente me erguendo com uma facilidade inacreditável e eu solto a muleta que cai no chão. Ele me coloca sentada em cima de um balcão colado na parede que me fazia ficar da mesma altura que ele e eu me seguro firme em seu pescoço com o susto.

- Eu vou te ajudar a lembrar de algumas coisas que parece que você esqueceu.

 Sem soltar sua mão da minha cintura ele se curva um pouco e agarra gentilmente meu tornozelo esquerdo com a mão direita enquanto mantinha seu rosto muito próximo.

Como reflexo eu firmo minhas mãos em seu ombro ao sentir seu toque na minha perna.

- Algumas horas depois do ringue eu pensei que tinha te machucado na rasteira que eu dei e resolvi checar, mas foi uma reação um pouco exagerada pra um sustinho não?

- Eu tava sob o efeito do analgésico. - Eu respondia o mais rápido possível pelo nervosismo.

Eu sentia todo meu corpo quente e meu rosto queimando, já não conseguia pensar em desculpas tão elaboradas.

- Bom... Voltando á missão, no penhasco eu vi você fazer uma cara feia pra pular no rio. - Ele sobe o agarre para minha batata da perna e eu podia sentir o ar quente sair da sua máscara batendo no meu rosto quando ele falava.

- E-eu disse que tinha medo de altura. - Eu comecei a me atrapalhar.

- Uhum... - Ele nem tenta me corrigir porque sabe que eu mesma me enrolei com minhas mentiras. - E até quando saiu do rio já dava pra notar você mancando bastante. - Ele agarra meu joelho ao mesmo tempo que aperta minha cintura.

- E-eu...- Se eu fosse uma panela de pressão nesse momento eu já teria explodido.

- Quando estávamos avançando para o complexo você sempre ficava atrás, preocupada demais com a "retaguarda". - Ele me interrompe com uma voz calma. - E o seu rosto de alívio quando aquele cara te esfaqueou na perna nem se fala... 

Eu sinto ele lentamente colocar mais pressão no meu joelho, o qual já estava começando a doer bem levemente.

- Você ainda acha que pode mentir pra mim Lobo? - A pressão aumenta. - Eu vou fazer as coisas do seu jeito então.

Eu me sentia encurralada.


Como se eu fosse uma ovelha indefesa recebendo um abraço de uma serpente que me estava apertando cada vez mais me deixando sem ar.

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