Escolhas

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O chão frio parecia me abraçar enquanto o desespero tomava conta de mim. Senti como se o mundo inteiro tivesse desmoronado, como se cada pedaço da minha vida que eu tentava desesperadamente manter firme tivesse se despedaçado. Aquelas palavras ecoavam em minha mente, cada uma delas como facadas afiadas.

Matthew, ainda atônito, parecia lutar contra suas próprias emoções, mas sua impotência só piorava a situação. Seus olhos, antes tão duros e implacáveis, agora estavam cheios de uma tristeza profunda que eu nunca tinha visto antes.

— Eu... eu sinto muito, Bianca. Eu não sabia... Eu deveria ter protegido você melhor — ele murmurou, sua voz cheia de remorso. — Mas não há mais nada que eu possa fazer agora. Temos que sair daqui, temos que ir para um lugar seguro.

Ele se moveu, tentando me ajudar a levantar, mas eu recuei, meus joelhos ainda fracos e minhas mãos tremendo.

— Não quero ir a lugar nenhum! — respondi com uma voz rouca, quase inaudível. — Nada disso faz sentido. Eu já perdi tudo, ele já tirou tudo de mim...

Não tinha mais motivos para respirar, nem forças para gritar. Como aquele ser imundo havia feito isso? Mantive-me firme por todos esses meses apenas pensando que os veria depois de toda a dor e sofrimento, mas agora o único resquício de esperança em meu peito deixará de existir. Esfregando minhas mãos sobre o assoalho, as feri ao ponto de o piso começar a ficar vermelho. Matthew segurou meus braços, virando minhas mãos, que estavam em carne viva. Pude ver o desespero em seu olhar. Ele levantou e saiu correndo do quarto, retornando com vários pacotes de gazes. Com as mãos trêmulas, tentava abri-los.

Envolvendo minhas mãos com as gazes, ele olhava para os meus olhos embaçados que ardiam. Eu já não tinha mais lágrimas para esvaziar toda a minha tristeza.

— Bianca... sei muito bem o que você está sentindo. Eu enterrei minha mulher e tive que ir embora no mesmo dia com a pessoa que ceifou sua vida... então me escuta... vamos conseguir sair dessa. Nunca vou deixar aquele miserável chegar perto de você.

Ele afirmava enquanto segurava minhas mãos, sua voz quebrada e embargada deixando tudo pior. Não queria que nada acontecesse com ele e Dennis. Em meio a todo aquele nervosismo, aquela enxurrada de emoções descontroladas, permiti que meus pensamentos fluíssem em minha voz.

— Só acaba com isso, me entrega para ele. Não quero mais viver nesse mundo maldito. Ele conseguiu levar tudo o que me restava. Não sou a porra da sua segunda chance. Sinto muito por sua esposa ter sido morta por eles, mas você é imundo igual ou pior que eles. Não preciso da sua maldita pena ou de quaisquer sentimentos que tenha por mim. Você é tão cruel quanto ele...

Puxei minhas mãos e, no mesmo instante, levantei e corri o mais rápido que pude. Chegando ao bar, apenas saí, correndo em direção ao grande bosque atrás da propriedade. O vento forte cumpria o dever de secar as lágrimas que ainda insistiam em fugir. O céu, carregado por nuvens cinzas, afogava-se em tristeza juntamente comigo. Meu corpo fadigado puxava o ar com dificuldade. Parei ao ver o primeiro feixe de luz e o estrondo ao fundo.

Só então percebi que a casa não estava mais à vista. Ao meu redor havia apenas árvores; a penumbra estava mais visível, e os raios daquele dia não adentravam mais a floresta. Sentei-me sobre o chão úmido, encostando-me em uma árvore gigantesca, cujas raízes eram visíveis a olho nu. Outro clarão e o barulho estavam cada vez mais perto. Abraçando meus joelhos, com os olhos fechados, ouvi apenas o som do vento percorrendo entre as árvores, os estalos delas enquanto dançavam de modo sincronizado. Estava tão cansada. Meu corpo dolorido queria apenas desfalecer de vez. Inclinei minha cabeça para trás, com os olhos ainda fechados, apenas me entreguei ao que fosse acontecer comigo. Adormeci, pedindo a Deus que algum urso ou qualquer animal tirasse minha vida.

Amor e DorOnde histórias criam vida. Descubra agora