Blue Spring

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A viagem demorou bastante. Observei as árvores passarem de maneira fugaz por mim na maior parte do tempo. Tudo em mim doía, ardia ou coçava de alguma maneira. Durante o tempo que fiquei trancada naquele porão, tinha visto algumas pessoas: dentro e fora daquele porão, as quais falarei conforme me lembrar, mas os que mais via era o homem que me raptou, cujo nome era Leonid, e seu irmão mais novo, Sergey.

Quando conheci Leonid naquele bar, ele foi gentil, educado e muito extrovertido. Tudo nele me chamou a atenção: seu belo sorriso, sua altura, seus olhos azuis e profundos e seus cabelos loiros quase brancos. Sua máscara caiu assim que ele me levou para aquele lugar maldito. Ele se tornou frio, calculista, vívido com a expressão vazia, apática e quase não abria a boca.

Sergey, seu irmão mais novo. Ele se parecia muito com aquele ser repugnante, exceto pelo rosto gentil e toda a bondade que demonstrou durante minha permanência ali. Temia pela vida de Sergey e não queria que nenhum mal acontecesse a ele.

Eu queria muito que o trem chegasse ao seu destino final. Não consigo descansar; o medo de que aquele maldito surgisse a qualquer momento era constante. Fiquei mais de três horas encolhida na cadeira, sem olhar para ninguém. Finalmente, o trem começou a parar. Havia apenas uma plataforma, e o lugar estava totalmente deserto. Não restavam muitas pessoas dentro do trem. Coloquei a bolsa nas costas e saí lentamente do meu lugar.

Ao lado de fora, vi um letreiro pequeno e tímido perto de uma recepção, dizendo "Bem-vindo a Blue Spring". Não sabia que lugar era aquele. Perguntei ao guarda onde havia uma pousada, repetindo a pergunta mais de quatro vezes até ele me entender. Por fim, ele disse que não havia nada do tipo ali, e que o máximo que eu conseguiria seria indo ao bar do senhor Harris.

Agradeci e comecei a caminhar na direção que ele havia indicado. Por ter corrido muito, minha perna travava a cada passo, o pé descalço latejava e doía. A cidade era minúscula, com um pouco mais de duzentos moradores. Olhando ao redor, via apenas árvores e uma grande estrada à minha frente. O tal bar localizava-se no fim da estrada, longe de tudo e de todos. Achei que nunca iria chegar lá. Não aguentava mais; a estrada escura, o vento forte e gélido, meus pés cada vez mais cansados e dolorosos, em algumas partes parecia que andava por cima de cacos de vidros, e a noite sem luar tornavam tudo ainda pior.

Andava olhando constantemente para os lados, mesmo sabendo que era impossível aquele ser asqueroso surgir do nada. Mesmo assim, temia pela minha vida.

Arrastada apenas pela minha determinação, avistei ao longe uma pequena luz fraca na varanda de um sobrado. Ver aquilo me deu um pouco de ânimo. Mesmo com os pés cansados ​​​​​​​​​​e os tornozelos inchados, apertei o passo. Ao longe, o som de uma coruja piando fez meu coração estremecer. Murmurava para Deus me ajudar a chegar naquela casa. Por fim, estava diante da porta. Era uma casa típica americana, de madeira rústica e sem pintura aparente. Tudo estava escuro. Encostando a testa no vidro de uma das várias janelas ao redor, vi que o primeiro andar se tratava de um bar. Estava vazio, e não ouvi nenhum som.

Procurei por uma campainha ou interfone, mas nada consegui. Passei a bater e chamar pelo nome que o segurança havia mencionado. Em menos de um minuto, ouvi passos rápidos pela casa. Afastei-me da porta quando o senhor Harris a abriu.

- O que aconteceu, criança? Está perdida? - sua voz grave, com um tom de preocupação, chegava até mim.

Olhando para aqueles olhos castanhos intensos, eu esperava por um senhor de meia-idade, com cabelos grisalhos e um bigode largo, e um sorriso bondoso. Mas o homem à minha frente não parecia ter mais de quarenta anos. Alto, forte, de ombros largos e peitoral protuberante, com uma barba bem feita, cabelos de tom de mel com fios grisalhos, ele vestia um pijama, com uma expressão caridosa. Perguntou novamente:

Amor e DorOnde histórias criam vida. Descubra agora