Amor e Dor

Segredos

Minha blusa colada ao corpo fazia com que nosso calor se misturasse, tornando-se, aos poucos, um só. Com os lábios tremendos, perguntei:

- Quem é você?

O homem não respondeu. Ouvi passos se aproximando e rezei para que fosse aquele garoto idiota, mas não foi a voz dele que ouvi. Como uma ordem, a voz do senhor Harris se propagou entre nós:

- Solta ela!

Eles então começaram a falar em uma língua desconhecida para mim, assim como as pessoas na casa de Leonid falavam quando eu fugia. O homem me soltou e eu caí no chão, observando-o voltar para a água. Com as mãos sobre a terra, voltei meu olhar para o senhor Harris, percebendo que ele estava sujo de terra e sangue. Levantei-me rapidamente, tentando passar por ele, mas minha tentativa de fuga foi interrompida por um simples gesto. Segurando firme em meu braço, ele olhou gentilmente para mim e disse de forma calma:

- Desculpe, mas não posso explicar nada agora. Você acabou se sujando, trocou de roupa e volte para o bar.

Ele soltou meu braço e, sem entender o que estava acontecendo, corri o mais rápido que pude. Entrei na casa como um furacão e fui direto para o quarto. No banheiro, ao olhar meu reflexo, vi meus olhos esbugalhados, a respiração ofegante, a boca seca e minha blusa suja de terra e molhada. Retirei-a e a coloquei no cesto, lavei meu rosto mais de uma vez, mas o calor não se dissipava. Peguei outra blusa dentro da cômoda, que eu pensava ser da falecida esposa do senhor Harris, embora ele nunca tivesse dito nada.

Puxei o ar algumas vezes e retornei ao bar. Atrás do balcão, com os pensamentos longos, comecei a ouvir Dennis brigando comigo:

- Onde você estava? Garota! Cadê o gelo?

- Droga - murmurei para mim mesma. - Não sei, garoto, vai pegar você!

- GAROTA! - bufou e saiu do bar em direção ao freezer.

Nessa altura, o bar estava totalmente lotado. Nem sabia se havia alguém esperando ser atendido ou não. Parada atrás do balcão, perdida em meus devaneios, mal respirava, tentando entender quem era aquele homem e o que tudo aquilo significava. Dennis retornou com o saco de gelo e o jogou na pia de modo grosseiro. Sem dizer nada, pegou algumas doses de Whisky e serviu as mesas perto da entrada.

Peguei o triturador debaixo da pia, rasguei o saco e comecei a triturar um pouco do gelo. Ainda no automático, tentava não transparecer o que havia acontecido. Após quinze minutos, o senhor Harris entrou pela porta lateral, olhando em minha direção e sorrindo gentilmente. Meu coração começou a bater de maneira descompassada. Quando ele chegou próximo ao meu ouvido, murmurou:

- Se preferir, pode subir. Eu ajudo o Dennis no resto da noite! - Sua mão sobre minhas costas me fez estremecer.

- Posso ajudar vocês sem nenhum problema...

- Então respire normalmente. Você está com o rosto corado...

- Desculpa!

Ele se afastou, indo para o meio das pessoas que o ovacionaram por ter chegado. Passei o resto da noite apenas no balcão, recolhendo dinheiro e servindo bebidas, enquanto Dennis e o senhor Harris serviam as mesas. O último cliente saiu um pouco depois da 1h. O senhor Harris e Dennis sentaram-se em uma mesa no centro do salão, conversando, enquanto eu terminava de jogar fora as garrafas vazias do balcão. Depois, fui para as mesas. Naquele momento, Dennis levantou e passou a limpar as mesas, enquanto o senhor Harris fechava todas as janelas e portas do bar. Em seguida, ele foi direto para a cozinha, dizendo que iria preparar algo para comermos, pois estava muito tarde.

Eu e Dennis terminamos de limpar as mesas e começamos a varrer o chão mal polido e encardido. Permaneci quase todo o tempo de cabeça baixa, perdida em toda a minha maldita vida. Perguntas infindáveis ​​​​​​​​fazendo com que meu cérebro não se acalmasse um segundo sequer. Estava juntando o lixo com a pá quando Dennis se aproximou de mim, puxou uma cadeira e sentou-se, começando a cantarolar no mesmo idioma que ouvi o senhor Harris e aquele homem discutiu. Sem pensar ou pressupor que ele me responderia, perguntei: