Ella

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Quando aquela porta foi fechada, um zumbido alto tomou conta dos meus pensamentos e congelou meu coração. Eu nunca fiquei sozinho durante todos esses meses. Parada, ainda olhava fixamente para a porta, enquanto ouvia as batidas fortes do meu próprio coração. Perdida em pensamentos, fui levada até a voz de Leonid, que congelou minha alma instantaneamente. Não queria que a voz dele dominasse minha mente, então fui até o quarto de Dennis. Peguei o rádio que ele havia deixado no chão onde estávamos deitados na noite anterior. Desconectei-o da tomada e levei-o comigo até a cozinha.

Coloquei o rádio sobre a bancada, liguei-o e deixei na mesma estação em que Dennis havia deixado. O locutor falou sem parar sobre as promoções de fim de ano, e isso acalmou um pouco meu coração. Fiquei parado por longos minutos no centro da cozinha, apenas ouvindo aquele homem falar sem parar. Por fim, resolvo fazer algo para o café da manhã.

Ao abrir a geladeira, vi que estava bem abastecida de comida. Peguei alguns ovos e um suco de mamão. Demorei uns cinco minutos só para encontrar uma frigideira e um fósforo, até que, depois de procurar em cada canto daquela cozinha, percebi que o fogão era elétrico. Senti uma raiva enorme por não ter percebido isso antes.

Preparei ovos mexidos na manteiga, coloquei-os numa pequena vasilha e sentei-me à mesa. Quando provei o suco, quase vomitei. Tinha gosto de tudo, menos de mamão, por fim desisti e comi apenas os ovos, e bebi água. Iria fazer o garoto depois de cobaia para provar aqueles sucos.

 Quando terminei de comer, limpei a cozinha. Não havia muito o que fazer, a não ser cozinhar, e foi o que fiz. Estava cansada de comer as comidas industrializadas do Matthew. Não eram ruins, mas nada se comparava à comida fresca. Voltei para a geladeira e encontrei algumas verduras que estava acostumada a usar: cebola, pimentão e tomate. No armário, encontrei arroz e feijão enlatado. Nunca que eu comeria aquilo! Nunca entendi como os americanos conseguiram comer algo assim.

Achei uma carne que parecia bife, então decidi preparar isso. Passei a manhã cozinhando para que, quando Dennis chegasse, não precisasse comer as porcarias que ele sempre comia. Quando a carne descongelou, cortei-a em tiras e fritei junto com as verduras. Também fiz arroz frito com cebola, o que me deu água na boca, pois fazia meses que não sentia aquele cheiro doce da cebola caramelizando junto com o arroz na panela.

Quando tudo ficou pronto e arrumado sobre a mesa, percebeu que o relógio já marcava 13h. Dennis só sairia da escola às 15h30. Pensei em comer algo enquanto esperava, mas então o telefone começou a tocar.

Saí da cozinha me perguntando quem poderia ser, já que, ao que me parecia, ninguém nos conhecia. Meus pensamentos começaram a vagar e lembrei-me do senhor Lennox.

— Alô? — Atendi com a voz receosa, temendo quem poderia estar do outro lado.

— Bianca, você já comeu? — Aquela voz preencheu todo o meu ser. Era o senhor Harris.

— Sim! — Respondi, retraída ao lembrar do acontecido pela manhã.

— Está tudo bem? — Sua voz ficou mais firme.

— Está, sim. E você, já comeu? — Minha voz saiu embargada.

— O que aconteceu? — Seu tom aumentou.

— Nada, só não gosto de ficar sozinha..., mas está tudo bem! — Coloquei a mão sobre o telefone e respirei fundo, tentando me acalmar.

— Liguei para saber como você estava e para avisar que um rapaz vai até aí buscar você às três, para você ir trabalhar... Tudo bem?

— Sim, mas como o Dennis vai entrar? — Só de falar o nome dele, as lembranças de tudo voltaram à minha mente.

— Deixe a chave embaixo do capacho ou simplesmente deixe a porta aberta, não tem problema... Ah, e eu acho que hoje não vou pra casa, então vou ligar pra você às 23h em ponto. A essa hora, você já deve estar em casa.

Amor e DorOnde histórias criam vida. Descubra agora