A felicidade que se espalhou juntamente com o frio na minha barriga, por estarmos indo para longe de Leonid, tomou conta de todo o meu coração. O voo foi tranquilo, e, quase quatro horas depois, estávamos pousando em uma pista particular. Ao olhar pela janela, tudo o que eu conseguia ver eram poucas luzes e muita neve cobrindo quase todo o lugar. Já em solo, comecei a cutucar Dennis:
- Garoto! Acorda! Como você consegue dormir numa hora dessas? - Perto dele, consegui ver suas raízes loiras surgirem.
- Se tivesse sido criada com o velho, entenderia por que consigo dormir em qualquer situação! - ele segurou minha mão e abriu os olhos.
- Preciso trocar de roupa. Parece que está congelando lá fora, e eu não sei onde seu pai está...
- Tudo bem - ele respondeu, desacoplando o cinto e se levantando. Ele mexeu no bagageiro acima de nossas cabeças.
Dennis tirou uma mala, maior que a minha, colocou-a sobre a poltrona e a abriu. Em seguida, retirou uma calça jeans, duas blusas e um casaco de pele preto. Ele me entregou tudo, dizendo que o banheiro ficava na cauda da aeronave. Com as roupas no braço, entrei no banheiro minúsculo e, com muito esforço, troquei de roupa, deixando lá o roupão, a meia-calça e a cinta-liga. Saí do minúsculo banheiro com o casaco sobre o braço.
O garoto havia vestido um casaco igual ao meu, só que marrom, junto com luvas e um gorro preto. Observando-o de perto, analisei cada detalhe do seu belo rosto. Dennis era um rapaz muito bonito. Tinha covinhas que apareciam sempre que sorria, um rosto quadrado e um nariz que faria inveja a qualquer cirurgião de rinoplastia. Sempre que o observava, me perguntava com quem ele parecia mais, com o pai biológico ou com a mãe? Será que ele tinha irmãos? E o nome dele seria realmente Dennis, ou outro? Nunca tive coragem de perguntar isso a Matthew, e muito menos a ele.
Me aproximei com um sorriso no rosto. Ele terminava de arrumar a mala, colocando as minhas coisas e as dele em uma só. Nesse momento, Matthew entrou junto com Christophe.
- Muito bem, já estamos prontos. Precisamos ir antes que as pessoas comecem a se movimentar!
- Como assim? - Olhei pela janela. Ainda estava escuro. - Não vejo sinal de sol no horizonte!
- Nem vai ver, Bianca. Estamos no período que os antigos chamavam de solstício. Não haverá sol pelos próximos dois meses - disse Christophe, lançando um olhar rápido para mim.
- Sempre vai ser noite? Sempre? Achei que isso acontecia apenas um único dia! - Meu coração começou a bater descompassadamente.
- Calma, aqui eles já estão acostumados. Tudo funciona normalmente, mesmo sem a presença do sol - explicou Matthew, pegando a mala que ainda estava no bagageiro.
Assim que a porta se abriu, o frio tomou conta do ambiente. Respirei fundo, deixando aquele ar gelado preencher minha alma. Descemos. Havia um carro parado, um sedan bonito de cor vinho. Christophe entregou a chave a Matthew, se despediu e voltou para o jato.
- Vamos, daqui em diante somos apenas nós - disse Matthew, sorrindo para mim e para Dennis.
Entrei no veículo enquanto eles guardavam as malas. Sentada no banco de trás, vi a nevasca finalmente desabar sobre a cidade de Barrow, uma cidade costeira com pouco mais de quatro mil habitantes, bem maior do que onde vivíamos.
Seguimos em direção ao centro da cidade. O vento forte dificultava a visão da estrada, e em alguns trechos, Matthew foi obrigado a parar, pois a neve estava densa, criando uma parede nas encostas da estrada. Depois de alguns minutos, chegamos à frente de uma casa. Mal conseguia ver sua cor, pois a neve a cobria completamente de branco. A entrada da garagem estava quase sem neve, como se tivesse sido limpa no dia anterior. Matthew abriu o portão, e finalmente entramos.
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Amor e Dor
RomanceDedico essa história às vozes da minha cabeça, pois foi a primeira que me deram, mas não tive coragem de escrevê-la até agora. Dedico também a todas que sempre sonharam com um homem gostoso e mais velho, para proteger vocês de tudo e todos. Bianca f...