Quando a pandemia de COVID-19 começou a se espalhar pela Europa, a vida mudou de forma abrupta e drástica para todos. No início, as restrições foram graduais, mas logo a situação se tornou séria.
A emissora me liberou para fazer home office por tempo indeterminado. Para Benji, os jogos e viagens ficaram suspensos por tempo indeterminado.
Além disso, o Governo alemão instruiu para que saíssemos o mínimo possível, para evitar propagação. Somente atividades essenciais, como comprar alimentos e medicamentos, eram permitidas, e mesmo assim, com diversas restrições e medidas de segurança.
Com essas mudanças drásticas e a incerteza pairando no ar, Benji me chamou para conversar uma tarde na casa dele.
— Meine Liebe... eu estava pensando — começou ele, com um tom sério, mas carinhoso. — o que você acha de morarmos juntos? Eu sei que talvez pode parecer meio cedo, mas com essas restrições é difícil ficarmos saindo para nos ver. Além disso, eu sinto que vou enlouquecer se ficar sozinho tanto tempo
Fiquei surpresa com a sugestão, mas também senti uma onda de alívio. A ideia de enfrentarmos aquele período de incerteza juntos, ao invés de separados, era reconfortante.
Então, o nosso relacionamento que durante um ano foi à distância, tinha passado por duas mudanças em 6 meses: morar na mesma cidade e agora morar juntos.
Com a quarentena, passamos a viver juntos em tempo integral, o que inicialmente parecia uma bênção, mas logo se mostrou um teste para nossa convivência e paciência.
No começo, parecia uma lua de mel. Estávamos juntos o tempo todo, fazendo atividades que nunca tínhamos tempo de fazer antes. Aproveitamos o tempo extra para cozinhar juntos, assistir filmes e séries, e até começamos a fazer exercícios em casa. Mas com o passar das semanas, a pressão e o estresse da situação começaram a se manifestar. Benji sentia falta dos treinos e dos jogos, enquanto eu tentava conciliar meu trabalho remoto com as demandas do dia a dia.
Em um desses dias difíceis, eu estava no meio de uma reunião online quando ouvi um barulho na cozinha. Encontrei Benji tentando fazer uma receita complicada de pão, coberto de farinha da cabeça aos pés, mas determinado a fazer algo especial.
— O que você está fazendo? — perguntei, rindo da cena
— Tentando fazer um pão caseiro — ele respondeu, com um sorriso — achei que seria uma boa distração e uma surpresa para você.
— Você é incrível — sorri, beijando-o na bochecha — mal posso esperar para provar.
O pão não saiu perfeito, mas o gesto foi o que mais importou. Esses pequenos momentos de carinho e esforço mútuo nos ajudaram a superar os dias mais difíceis.
No entanto, nem tudo eram flores. Apesar de tentarmos manter a positividade, a incerteza e o isolamento começaram a pesar sobre nós.
Eu mentiria se dissesse que não senti os efeitos da pandemia. Uma noite, enquanto fazíamos mais um jantar de pizza e vinho, comento com o Benji:
— Tô me sentindo feia... acho que engordei
— O quê? — disse ele, com um tom suave — Sophia, você é linda, sempre foi...
— É só que... essa incerteza toda, a falta de rotina, está me afetando. E comendo pizza e bebendo vinho... bem, não é exatamente uma dieta.
— Estamos todos tentando lidar com isso do melhor jeito que podemos — disse ele, com uma voz firme, mas carinhosa — o que importa é que estamos aqui, juntos. E você sempre será perfeita para mim.
— Te amo — digo dando um beijo nele
— Também te amo — ele sorri
Com o passar do tempo, Benji começou a mostrar sinais de depressão. Ele claramente estava mal sem os jogos e os treinos regulares. Sua energia e entusiasmo foram substituídos por uma melancolia constante.
À medida que os dias se transformavam em semanas e as semanas em meses, vi Benji começar a se fechar. Ele passava mais tempo no quarto, jogando videogame ou navegando na internet, tentando preencher o vazio deixado pela ausência do futebol.
— Benji, vamos fazer algo juntos? — perguntei uma tarde, tentando animá-lo — podemos assistir a um filme ou jogar um jogo de tabuleiro.
— Não estou no clima, Sophia — ele respondeu, sem tirar os olhos da tela — desculpa.
— Amour — começo, tentando ter cuidado com minhas palavras — estou preocupada com você... você não parece o mesmo. Será que... você pode largar o videogame um pouco para gente conversar?
Ele suspirou, desligando o console e se virando para mim. Seus olhos estavam cansados e cheios de uma tristeza que ele tentava esconder.
— Eu sei que não estou bem — admitiu ele — mas eu não sei como lidar com isso, Sophia. Sem os jogos, sem os treinos... sinto que perdi uma parte de mim. E eu to me sentindo inútil
— Benji, você não é inútil. Essa situação é difícil para todo mundo, mas especialmente para você, que sempre foi tão ativo e dedicado ao esporte. Eu entendo o quanto isso é importante para você... tem qualquer coisa que eu possa fazer para você se sentir melhor?
— Eu não sei, meine Liebe... eu só... sinto que estou perdendo meu propósito. Agora, tudo parece vazio.
— Olha, nós estamos vivendo um momento muito difícil e fora do comum. É normal sentir-se perdido e desmotivado. Mas talvez, ao invés de tentar preencher esse vazio com algo que não está funcionando, possamos encontrar novas maneiras de lidar com isso.
— O que você sugere? — ele perguntou, com um tom de curiosidade misturado com cansaço
— Podemos procurar ajuda profissional, alguém para conversar — sugeri, segurando sua mão — não precisamos passar por isso sozinhos.
— Talvez seja uma boa ideia — ele admitiu, finalmente — não quero te preocupar, mas realmente estou lutando.
Felizmente, a combinação funciona bem. Me esforço para me fazer ainda mais presente na vida de Benji. Ele começa a fazer terapia duas vezes por semana e percebo que isso realmente melhora a forma que ele lida com isso tudo. Por fim, gradualmente, os treinos voltaram e até os jogos, mesmo que sem torcida.
Foi um alívio ver Benji voltar a fazer o que amava. Eu continuava trabalhando remotamente e cobrindo os jogos à distância, mas ver meu namorado em campo, mesmo pela TV, me trouxe uma sensação de normalidade e esperança.
Além da Bundesliga, ganhamos também a Pokal, em uma final contra o Leverkusen. Estavam fazendo de tudo para ajustar o calendário e terminar a temporada.
Mas a vida ainda estava longe do normal...
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Sprechen Sie Deutsch? - Benjamin Pavard
Hayran KurguSerá que um amor de Copa de Mundo sobrevive ao fim da competição? Benjamin Pavard, campeão do mundo, se apaixonou por Sophia, uma jornalista alemã, ao longo da Copa de 2018. Agora, eles querem continuar juntos, mesmo tendo que conciliar duas carreir...