Capítulo Um

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[...]

Como minha vida se transformou assim tão rápido, ontem eu era uma jovem
universitária e hoje estou arrumando minhas malas, vou me mudar para uma cidade grande e
desconhecida. Vou dormir no meu quarto pela última vez, quero aproveitar cada minuto. Faz uma semana que me formei em jornalismo, estou com meu diploma em mãos e agora nem sei o que fazer com ele. Procurava um estágio na tela do meu computador, e pra minha surpresa uma vaga me chamou a atenção. Não penso duas vezes em me candidatar, claro que não tenho nenhuma pretensão, milhares de estagiárias com certeza já teriam se candidatado.
- Antoinette! - minha mãe gritava da base da escada, com certeza estava irritada, só me
chama de Antoinette quando alguma coisa a incomodava.
- Oi mãe? Estou descendo
- Você já arrumou suas coisas? Seu pai já está pronto para te levar para casa da Elizabeth - minha mãe é tão desesperada!
- Sim mãe, já está tudo pronto, mas a Betty só vai estar em casa à noite, então não
precisamos ter pressa - minha mãe pensa que ainda sou uma criança, ela se esquece de que já
completei 21 anos.
Eu sei por que ela está com os nervos em frangalhos, nós nunca nos separamos, sou
filha única e somos muito amigas, minha mãe é jovem, tem 41 anos, eu até acho ela bem mais
bonita que eu, todos acham que somos irmãs, tem o cabelo longo e preto, alta e por incrível
que pareça não tem uma ruga naquela pele de pêssego. Eu pelo contrário sou baixa, meu cabelo é na altura longo, preto com mexas rosas, diferente da minha mãe, sou morena. Minha
mãe diz que a melhor parte de mim, são meus olhos expressivos. Eu digo que tenho os olhos
grandes.
Nunca me considerei uma mulher bonita, me acho um pouco atrapalhada, estabanada,ao menos sou muito inteligente, isso deve compensar minha falta de elegância.
Minhas malas estão prontas, meus livros estão em uma caixa, encaixotei tudo o que
pude.Meu quarto ficou vazio, um aperto no meu peito me pegou de surpresa, minha vida está
mudando, estou saindo da casa dos meus pais e vou viver por conta própria. Betty me arrumou
um emprego em uma cafeteria, até eu conseguir alguma coisa na minha área.Começo na
segunda-feira estou tão ansiosa, tão nervosa, que parece que vou para outro planeta.
Coloquei a mochila nas costas, fechei a porta do meu quarto e desci as escadas, uma
etapa da minha vida foi concluída. Meu pai colocou minhas malas e caixas na caminhonete e me aguarda atrás do volante, minha mãe está parada na porta com os olhos marejados os braços
cruzados, parece sentir frio.
- Mãe! Eu não vou para marte, são três horas de carro até a casa da Betty, vocês podem me
visitar sempre, eu também posso vir nos finais de semana.
- Eu sei filha - Ela me puxa para um abraço e eu sinto suas lágrimas em meus ombros
Meu pai começa buzinar freneticamente chamando nossa atenção, eu me solto do
abraço da minha mãe com certa dificuldade, quando será que minha mãe me verá como uma adulta, acho que nunca.
A viagem até a casa da Betty foi tranquila, fomos ouvindo música e meu pai foi
pontuando tudo que eu poderia ou não fazer. Alguns tópicos até achei engraçado, veja só, ele
disse que eu só poderia transar depois do casamento. Claro que não sou mais virgem, eu e 
meu namorado da adolescência teve nossa primeira vez ainda no ensino médio, eu pensei que casaria com ele, ele é tudo que uma garota quer, lindo, louro, atlético e popular. Mas as coisas
foram esfriando entre nós até que terminamos, hoje somos bons amigos. Ele também é jornalista
e já está situado na vida, trabalha numa grande empresa de mídia digital.
Chegamos ao apartamento, e Betty pareceu enlouquecer quando me viu, parecia que
não me via há 200 anos, meu pai entrou no apartamento, olhando cada canto, eu o conheço muito bem, ele quer saber em que tipo de ambiente vou ficar. E para sua surpresa o apartamento da Betty,não poderia ser mais chique, na verdade o apartamento é dos pais dela, só que a mãe resolveu passar uma temporada na Itália, onde o marido tem negócios. E a Betty não pensou duas vezes em me chamar para morar com ela e eu não pensei duas vezes em aceitar.
Eu conheci Betty há uns cinco anos quando fui fazer um intercâmbio no Canadá,
pensei que ficaria isolada sem conhecer ninguém, num país estranho, e fiquei bem feliz quando entrei na sala do cursinho, e lá estava ela, falando parecia uma boneca, com o cabelo longo e o rosto delicado.
Perguntei, ela sorriu com aquela boca vermelho escarlate e disse: sim de Miami e ali conheci
minha melhor amiga.
- Senhor Thomas não quer um café? - Betty ofereceu ao meu pai.
- Quero sim filha, obrigado - Betty desapareceu na cozinha e eu fiquei sentada ao lado
do meu pai, ouvindo o restante das recomendações.
Tomamos café e conversamos muito até meu pai se despedir, levei meu pai até a portaria e o abracei muito forte.
- Se cuida filha, eu te amo!
- Eu também pai.
Votei ao apartamento e começamos a desfazer as malas, estou muito animada em
começar uma nova vida, quero que tudo dê certo, é como um sonho realizado. Passamos o final
de semana colocando a conversa em dia, Betty trabalha como estagiária num escritório de um
advogado amigo de seu pai, Betty e eu temos a mesma idade. No domingo fomos à cafeteria em que
eu começaria a trabalhar, fomos de metrô para eu aprender o caminho, quando fui acertar os
detalhes da minha contratação Betty havia me levado de carro.
Na segunda-feira acordei cedo, começaria no trabalho às 10h, preparei o café e quando
Betty acordou o café da manhã já estava na mesa, ela estava uma perfeita advogada, com
aquele terninho elegante. Eu estava de calça jeans e camisa, de qualquer forma iria colocar um avental por cima da minha roupa, então não era necessário nada tão requintado.
Aproveitei a carona de Betty até a estação de metrô, e de lá segui meu caminho,
estava nervosa para cacete, só esperava não derrubar uma xícara de café quente no meu primeiro cliente.
- Boa sorte Toni- Betty tocou o meu braço
- Obrigada! - eu vou precisar.
Cheguei faltando 20 minutos para começar o expediente, fui apresentada a equipe que
me recebeu com simpatia, coloquei meu avental preto, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo
e estava pronta para começar, tive um pequeno treinamento de como usar a máquina de café e
servir bolinhos, não tive grandes dificuldades. Muitos clientes entraram e saíam e praticamente pediam as mesmas coisas, e saíam apressados para seus trabalhos e assim seguiu o restante do
dia. Minhas pernas estavam cansadas de tanto ficar em pé, mas não reclamei eu precisava
daquele emprego.
Após o final do expediente só queria cama e fui direto pra casa, o metrô estava lotado,
quase não consegui respirar, na minha cidade os trens e metrôs são vazios, circulam com meia
dúzia de pessoas, eu realmente precisava me acostumar.
Cheguei em casa exausta, os pés estavam calejados, as costas doíam parecia que eu
tinha corrido uma maratona. Betty já estava em casa de banho tomado esparramada no sofá
assistindo alguma coisa na TV. Peguei meu notebook e me juntei a ela. Abri meus e-mails e não acreditei no que eu vi, eu tinha uma entrevista de emprego.
- Betty, você não vai acreditar.
- O que garota, fala logo! Tá me assustando com essa cara de espanto.
- Eu me candidatei a uma vaga de estágio, e fui selecionada para uma entrevista.
- Isso é ótimo! Qual empresa? - Betty ficou empolgada
- Blossom Jornalismo Empresarial - a boca de Betty se escancarou
- O que foi? - quis saber
- Toni, essa empresa é a top em se tratando de jornalismo! - agora foi a minha boca que
se abriu
- Não brinca!
- Precisamos te preparar pra essa entrevista, esse emprego tem que ser seu! - fiquei feliz
com o entusiasmo da minha amiga
- É uma vaga, e deve ter 200 pessoas fazendo entrevista - falei derrotada.
- Não interessa! Essa vaga tem que ser sua.
Eu não poderia acreditar que em menos de 72h na cidade grande eu estava indo para
minha primeira entrevista de emprego. Peguei uns dos terninhos emprestados do guarda-roupa da Betty, fiz um coque no cabelo e estava pronta. Ok!Talvez pronta seja um pouco demais, eu
estava em pânico.
Cheguei ao enorme arranha-céu, minha nossa nunca vi nada tão incrível, parecia mais
um hotel cinco estrelas, parei na portaria, porta duplas espelhadas, onde um segurança todo de preto pediu para que eu me apresentasse na recepção. Eu fiquei tão boquiaberta, que não prestei atenção nos dois degraus a minha frente, segundos depois estava sendo ajudada por uma mulher elegante de terninho. Senti meu rosto pegando fogo, quando ela me ofereceu a mão, eu levantei. Ela gentilmente pegou minha pasta que estava aberta e os papéis espalhados pelo chão e me entregou.
- Obrigada - falei limpando os joelhos, ela não me respondeu, apenas meneou a cabeça.
Senti-me a pior das idiotas, fui até a recepcionista, que era bonita demais e elegante
demais para o meu gosto, a maquiagem bem feita, os cabelos presos em um coque parecido com o meu. Ela me entregou um crachá me orientando a seguir até o 15° andar. Apertei o botão do
elevador e fiquei aguardando impaciente, as portas se abriram eu entrei. Pareceram horas até aquele elevador panorâmico chegar ao andar desejado.
Ao chegar no 15° andar às portas se abriram e dei de cara com uma segunda
recepcionista atrás de um balcão, tão bonita quanto a primeira e tão maquiada quanto, me
aproximei remexendo minha pasta.
- Eu tenho uma entrevista - me direcionei a ela
- Ah claro! Por favor, aguarde com as demais candidatas na sala 203 - ela apontou uma
sala a esquerda.
Ao chegar em frente à porta respirei antes de abri-la, e para minha surpresa apenas
duas candidatas aguardavam, fiquei ali retorcendo os dedos, aguardando a minha vez de ser entrevistada, quando a recepcionista levou uma das garotas. Uma loira alta de cabelos compridos que desciam soltos até o meio da cintura. Dez minutos depois, a recepcionista levou a morena de olhos verdes e cabelos Chanel. Fiquei sozinha naquela enorme sala gelada, levantei-me e fui até a enorme janela de vidro, a vista era incrível, visualizava prédios enormes, e uma rua larga e
barulhenta.
- É a sua vez - levei um susto com a recepcionista me aguardando com a porta aberta
- Ah claro! Obrigada!
A recepcionista andava em seu enorme salto 15 em sua roupa elegante rebolando,
parecia estar em uma passarela, abriu outra porta pra mim, onde uma mulher de meia idade me aguardava.
- Sente-se, eu sou Hermione gerente do RH - ela disse, eu me sentei um tanto desajeitada.
- Obrigada - cruzei as mãos no colo em cima da pasta para que parassem de tremer
- Currículo - ela me olhava por trás dos óculos de grau.
Comecei a revirar minha pasta em busca do meu currículo, porque eu trouxe tantos
papéis, ela me olhava impaciente, tamborilando os dedos na mesa. Meu rosto estava pegando
fogo e meus dedos tremiam, por fim achei o bendito currículo que entreguei a ela as pressas. A mulher começou a analisar. Recém-formada, 21 anos, fala português fluente, ótimo. Ela
falava consigo mesma, parecia que eu nem estava naquela sala.
- Antoinette, certo? - não que tivesse me deixado responder - Me fale dos seus objetivos e porque escolheu essa empresa, e porque devemos te contratar?
Eu odiava entrevistas de emprego, parece que nada que a gente fala é suficientemente
bom, eu pensei por um momento antes de responder, ela me olhava novamente com ar
impaciente como quem dizia, "não tenho o dia inteiro". Para ser sincera eu não treinei respostas
para essas perguntas, achei que seriam perguntas mais elaboradas, e acho que me ferrei.
- Bem, meu objetivo é ter uma carreira de sucesso, investir em mim para futuramente
ajudar a empresa de alguma forma, vocês deveriam me contratar porque eu tenho sede de
aprender e quero contribuir oferecendo minha garra, eu escolhi essa empresa porque me
identifico com o tipo de jornalismo que ela faz.
A mulher de cabelos pretos atrás da mesa me analisava como se eu fosse um animal
exótico em um zoológico, eu devo ter falado muita besteira, porque ela escreve alguma coisa em
um papel e grampeia ao meu currículo.
- Ok - só isso? Com certeza eu já estou descartada
- Obrigada mais uma vez e...
- Você tem mais uma entrevista com a gestora da área, bem ela é bem mais que gestora, é a
CEO da empresa, claro que ela não precisa fazer isso, mas faz questão de conhecer todos os
funcionários, antes de contrata-lo - Será que eu vou ser contratada?
Minha empolgação se fez parecer, mas também meu nervosismo.Nunca em toda minha vida falei com um CEO, achava que eles eram inacessíveis, e agora ela quer entrevistar
uma simples estagiária.
- Venha comigo - Hermione me fez cruzar um corredor imenso, pode parecer estranho ou
coincidência, todas as mulheres que me deparei nessa empresa usam o cabelo em um coque
elegante, será que era norma?
Eu fiquei aguardando em um pequeno saguão em quanto ela entrava em uma sala.
Peguei um espelho dentro da bolsa e dei uma boa olhada no meu reflexo, ainda continuava com a maquiagem perfeita e o cabelo imaculado.Guardei rapidamente na bolsa quando Hermione me mandou entrar na sala.
- A senhora Cheryl está aguardando - Ela deve ser uma velha de uns 100 anos
- Ok, muito obrigada.
Eu entrei e fiquei parada na porta, visualizei uma mulher de terno elegante em pé em
frente a enorme janela de vidro, estava com as mãos nos bolsos olhando alguma coisa através da vidraça. Tive que pigarrear para ser notada. Foi quando ela se virou e eu pude perceber ela não
tinha 100 anos, ela tinha no máximo 30, a pele era branca e os olhos,aqueles olhos, aquilo sim era expressivo. A mulher era alta e eu demorei alguns minutos para analisar todo seu belo corpo em forma, eu tive impressão de que conhecia aquela mulher de algum lugar, e não precisou puxar muito pela memória para lembrar, foi a pessoa que me ajudou a levantar na entrada do prédio.
Eu deveria estar com a cara de tola, porque a mulher a minha frente me analisava, ela estava andando lentamente até mim, eu não conseguia respirar direito,
minhas pernas e mãos não obedeciam, fiquei com medo de dar de cara no chão uma segunda vez.
Juntei o pouco de dignidade que tinha e a cumprimentei com um sorriso, que é claro
ela não retribuiu, apenas deu a volta pela mesa e se sentou. Fez um gesto para que eu me sentasse também, e foi o que fiz, antes que meus joelhos fraquejassem. Os olhos dela não encontraram os meus nem por um segundo, ela analisava meu currículo e por fim falou.
- Me fale um pouco de você? - ela colocou a mão no queixo e começou a me analisar,
espero não falar nenhuma bobagem, minha boca estava seca, e pensei por um minuto, parecia que havia esquecido quem eu era.
- Tenho 21 anos, sou recém-formada, atualmente estou morando com uma amiga e... - ela não esperou que eu terminasse e já passou para próxima pergunta. Que espécie de entrevistadora é essa que não me deixa concluir minhas respostas.
- O que faz no seu tempo livre? - o que importa o que eu faço no meu tempo livre?Que
raio de pergunta é essa?
- Gosto de ler, assistir filmes, saio de vez em quando com amigas, nada em especial - ela
pareceu mais interessada, uma de suas sobrancelhas se curvaram.
- Como você lidaria com a pressão no trabalho? - Eu nunca trabalhei sobre pressão, na
verdade nunca trabalhei de verdade, então tive que improvisar.
- Procuraria me manter calma e concentrada, para desenvolver um bom trabalho e... -
mais uma vez ela me interrompeu, acho que devo ter falado asneiras. Com certeza ela quer
encerrar logo essa entrevista, ela deve ter coisas mais importantes a fazer.
- Qual seu diferencial? E porque você deve ser contratada? - como eu odeio entrevistas
odeio ser avaliada de todas as formas.Com certeza essa mulher está me avaliando, agora está
com o olhar atento, os olhos dela tem um brilho diferente, me deixa vidrada. Respondo a
pergunta que nem me dou conta. Nem sei que maluquice falei, foi como se eu tivesse sido
hipnotizada.
- Ok, você começa na segunda-feira, esse será seu salário - ela me empurrou um papel
rabiscado com um valor, melhor do que eu imaginei para uma simples estagiária, ela se levantou seguindo em direção à porta e eu fiquei feito uma babaca sentada na mesma posição, no mínimo com a cara de idiota, foi quando ouvi falar.
- Senhorita Antoinette por hoje é só - levantei com tudo da cadeira, tropeçando na mesa e
derrubando um porta lápis, olhei sem graça e achei ter visto um sorriso naquela boca perfeita.
- A claro obrigada, foi um prazer senhora...
- Cheryl, eu me chamo Cheryl - tenho certeza que jamais vou esquecer.
Saí daquele arranha-céu tão deslumbrada que sorria sem parar, primeiro porque não
acreditava que estava empregada, tive muita sorte, só precisei trabalhar um dia na cafeteria, já começaria com o pé direito, na minha área. Na segunda-feira levaria os documentos e assinaria o contrato. O meu sorriso também se devia a ter conhecido uma mulher tão interessante, na verdade nunca havia visto uma mulher tão bonita. Claro que aquela delícia toda jamais olharia pra mim. Sonhar ainda é de graça.
Chegando em casa caí de costas no sofá, chutando os meus sapatos longe, a Betty estava
trabalhando então aproveitei para descansar um pouquinho, no mesmo instante levantei em um pulo e resolvi pesquisar a minha mais nova empregadora. Corri no quarto e peguei meu notebook,digitei o nome Cheryl Blossom, que nome mais sugestivo. A primeira página que abriu tinha
uma manchete em destaque:

A jovem empresária Cheryl Marjorie Blossom, apoia causas humanitárias.

A empresária e filantropa Cheryl  Marjorie Blossom de 30 anos dedica parte de seu tempo a
causas das mais variadas, como combate contra a fome e proteção ao meio ambiente.

Quer dizer que além de linda é bem feitora, ela pousava na foto com um homem
lindíssimo que mais parecia um deus grego. Deveria ser um modelo de alguma agência ou
algo do tipo, os dentes eram tão brancos que deveria cegar qualquer um que olhasse para ela. O corpo era perfeito, os cabelos nem se fala. Os dois pareciam o casal perfeito.
Fechei o notebook e me deitei novamente no sofá, em algum momento peguei no sono, só
despertei quando Betty abriu a porta.
- Boa noite! - Betty falou animada, jogando a chave na bancada.
- Boa noite - respondi sonolenta
- E aí me conta as novidades? - ela colocou os pés em cima da mesa de centro
Eu comecei o desenrolar da minha história e Betty aos poucos foi escancarando a
boca, parecia não acreditar que eu estava empregada assim tão depressa, ficou bem interessada
quando falei dos atributos da minha chefe, que ela sem dúvida já ouvira falar, mas que sempre
achou aquela beleza toda surreal.
- Aquela mulher nem parece de verdade - ela falou dando de ombros
- Pois te asseguro que ela é de verdade, um pouco intimidadora eu confesso - um suspiro
me escapou e Betty riu.
- Ok, ela é muita gata, quem sabe um dia você terá uma chance com ela - ela abafou um sorriso.
- Só se for nos meus sonhos - eu joguei uma almofada nela que se esquivou.
Tenho o restante da semana antes de começar a trabalhar, vou conseguir colocar minhas coisas no lugar, desempacotar o restante dos meus objetos, colocar meus livros na estante
que a Betty colocou no quarto, eu sempre amei ler, e não suportaria deixar minhas preciosidades pra trás. Liguei para minha mãe e contei que estava empregada, ela falava sem parar, e dizia que estava morrendo de saudades, não fazia nem uma semana que ela havia me visto.Minha mãe sempre exagerada. Eu amo minha mãe, por isso, a ligação foi encerrada, dei boa noite para Betty e fui para o quarto tentar descansar e tentar assimilar todos os acontecimentos do dia.
Naquela noite, demorei pegar no sono virava de um lado para outro, ansiosa, nervosa,
não sabia o que estava acontecendo comigo, não conseguia tirar aquela imagem da minha
cabeça, Cheryl aquela mulher que olhava através da vidraça, parecia ser a dona do mundo. E os olhos, o que tinha naqueles olhos que me enfeitiçavam.Nem consigo me lembrar da última resposta que dei a ela na minha entrevista. 
Nunca me senti tão vulnerável, de alguma forma eu me sinto ligada a ela, sei que estou sendo uma garota estúpida, mas é assim que eu me sinto. Não vai ser nada fácil estar no mesmo ambiente que ela, espero não protagonizar mais nenhuma cena vergonhosa.

Vampira CEO Onde histórias criam vida. Descubra agora