Capítulo 5

167 36 16
                                    




Ela se mexeu sob a colcha de algodão levemente desbotada, um raio de sol brilhante entrando pela vidraça e aquecendo seu rosto e pescoço. O cheiro de panquecas pairava no ar, fazendo cócegas em seu nariz e despertando-a de um sono agitado. Ela rolou de costas na cama, piscando lentamente enquanto seus olhos se ajustavam à luz.

O quarto desconhecido que a cercava era simples e esparso, com paredes brancas e um guarda-roupa alto de pinho no canto. Um vaso de planta no parapeito da janela acrescentava um toque de cor, mas havia poucas outras pistas sobre sua localização. Em seu estado ainda tonto, levou vários segundos para se orientar e lembrar onde ela estava.

Casa de Jeremiah e Eliza.

Porque quando Kara exigiu que todos saíssem de sua cabana na noite anterior, ela incluiu Lena nessa lista.

Que coragem daquela mulher ridícula!

O fato de Lena ter sido chutada para o meio-fio menos de uma hora depois do sexo mais alucinante que ela já teve já era ruim o suficiente, mas outra coisa havia cortado Lena profundamente. Kara Danvers ousou sugerir que faltava ética de trabalho a Lena.

"Eu levo meu trabalho a sério," Lena anunciou para o quarto vazio enquanto se sentava com um grunhido, o colchão macio suspirando embaixo dela. Como Kara ousa insinuar que Lena seria o tipo de pessoa que não tinha ética alguma?

"Falha e sem substância?" ela murmurou para si mesma enquanto abaixava as cobertas alguns centímetros. "Ela não me conhece de jeito nenhum."

Lena fez uma careta para a camisola antiquada que ia do pescoço até os dedos dos pés. Eliza forneceu a roupa depois de descobrir que toda a bagagem de Lena havia sido levada pela enchente. Lena quase desejou que ficar nua fosse uma opção.

O estilo veio direto do século 18, feito de flanela creme com pequenos cardeais vermelhos por toda parte. Pode ter parecido fofo quando novo, mas o tempo e cem voltas na máquina de lavar reduziram o padrão a algo parecido com gotas de sangue na neve suja.

Pareço uma vítima de guilhotina durante a Revolução Francesa.

Uma coisa era certa. Se alguém além de Eliza ou Jeremiah visse Lena nesse traje, ela viveria em uma caverna pelo resto da vida.

Lena esfregou os olhos sonolentos, vendo-se num espelho na parede oposta. Suas ondas escuras eram uma bagunça emaranhada, uma lembrança indesejável das atividades proibidas da noite anterior com Kara. O que Lena estava pensando, deixando as coisas ficarem fora de controle daquele jeito?

Ela sabia a resposta, é claro. Depois de uma experiência de quase morte, Kara ficou irresistível. Inferno, com aqueles olhos azuis ardentes e sorriso diabólico, não era preciso um encontro com a mortalidade para explicar a atração.

E o sexo foi incrível.

Mas além de ser filha de uma amiga da mãe, o que tornava as coisas estranhas, Kara era uma cliente em potencial. Lena nunca se perdoaria por cruzar essa linha, nem cometeria esse erro novamente. Isso poderia custar-lhe não apenas o tão necessário bônus de final de ano, mas também sua carreira.

Kara Danvers estava estritamente fora dos limites. Para sempre. Ponto final.

Lena suspirou e balançou os pés sobre a borda da cama, os dedos dos pés enrolados contra as tábuas de madeira enquanto o ar frio batia na pouca pele nua que ela tinha à mostra, enviando um arrepio por todo o seu corpo. Seus pés procuraram os chinelos felpudos que Eliza lhe havia emprestado, junto com um roupão que parecia pertencer a um marshmallow rosa gigante.

As vestes ridículas pareciam ser uma característica da família Danvers.

Mas voltando ao assunto em questão. Ficar longe de Kara Danvers não seria grande coisa, porque Lena sempre foi boa em compartimentar suas emoções. Com pais viajantes que estavam sempre em algum sítio arqueológico ou outro, Lena tinha experimentado mais do que seu quinhão de babás e aprendeu desde cedo que se apegar demais ou investir emocionalmente em alguém ou em alguma coisa era uma maneira segura de se machucar. Suas paredes eram impenetráveis.

KARLENA - Tudo, queijo!Onde histórias criam vida. Descubra agora