Capítulo 24 - Término

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JAMES SPIELBERG

Fiquei em silêncio, tentando processar o que Beatrice acabara de dizer. A ideia de perder a nossa "farsa" me afetou mais do que eu esperava. Eu soltei um suspiro dramático, tentando esconder o quanto aquilo estava me atingindo.

- Então, o que você está me dizendo é que meu charme irresistível finalmente encontrou seu limite?

Ela riu, balançando a cabeça, e minha tentativa de humor caiu por terra.

- Algo assim, James. Não é você, sou eu.

Beatrice abaixou a cabeça com um gesto teatral, e eu tentei não olhar diretamente para ela. Era difícil não ver o quão real era a dor nos olhos dela.

- Ai, meu coração. Trocar James, o irresistível, por um cara. Isso dói.

- Ah, para com isso! Você sabe que essa coisa toda foi uma loucura desde o início. E agora as coisas estão ficando complicadas. Não posso continuar fingindo, principalmente porque estou começando a gostar realmente de outra pessoa.

As palavras dela foram como um balde de água fria. A ideia de que ela estava começando a gostar de outra pessoa, alguém que não eu, era esmagadora e eu não sei o porque. A verdade era que, apesar de nossa relação ter começado como uma farsa, eu tinha começado a me importar de verdade com ela.

- Bem, eu sempre soube que seria difícil competir com... quem quer que seja esse cara. Eu só espero que ele saiba o quanto você gosta de séries ruins e livros deprimentes.

- Ei! Minhas séries não são ruins. E meus livros são... profundos.

Ela tentou descontrair a situação com uma brincadeira, mas eu podia ver que ela estava realmente preocupada com o que vinha a seguir.

- Certo, certo. Tudo bem. Se o cara invisível gosta dessas coisas também, ele deve ser alguém especial.

- Ele é. Mas, de qualquer forma, nós precisamos encontrar uma maneira de encerrar isso sem que as pessoas fiquem desconfiadas.

Eu sorri, tentando agir mais relaxado do que realmente estava. A verdade era que eu estava começando a aceitar que a minha farsa estava chegando ao fim. Mas eu não queria que isso acabasse de uma forma dramática. Eu só queria que ela fosse feliz.

- Podemos dizer que você descobriu que sou alérgico a gatos e não podia conviver com seu gato imaginário, Mr. Whiskers. Isso deve ser um motivo válido.

- Ou podemos dizer que você tem medo de compromisso e fugiu para o Alasca para viver como um ermitão. Mais realista.

Eu ri, aliviado por poder fazer uma piada sobre isso. Mas no fundo, sabia que estava me convencendo de que essa era a melhor solução. E ainda assim, havia um buraco vazio no meu peito.

- Falando nisso, James, como é possível você ter tantas meias desparelhadas?

A pergunta dela me fez sorrir genuinamente. Eu sempre encontrava maneiras de me distrair, e meias eram um desses pequenos mistérios da vida.

- Meias são um mistério da vida, Smith. Elas desaparecem. Tenho certeza de que há um buraco negro de meias em algum lugar da minha casa.

- Bem, pelo menos vamos continuar amigos, certo?

Havia algo no tom dela que me fez sentir um alívio misturado com uma tristeza profunda.

- Claro, Beatrice. E, para ser sincero, isso vai me dar mais tempo para me concentrar em minha carreira de astronauta. Quero ser a primeira pessoa a plantar batatas em Marte.

Ela sorriu, e eu vi um brilho de esperança em seus olhos. Parte de mim queria que ela não tivesse esse brilho, queria que ela estivesse triste por me deixar. Mas eu sabia que a felicidade dela era o que realmente importava.

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