3: Vivendo No Aguardo

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| 14 de fevereiro de 2021

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| 14 de fevereiro de 2021

Jão Romania

Eu nunca pensaria que diria essas exatas palavras mas o carnaval estava um saco.

Já estávamos no domingo e eu simplesmente não conseguia me divertir. Sem dúvidas alguma, o João Vitor de anos atrás estaria me amaldiçoando até a nossa décima quinta geração se pudesse, e para piorar por completo toda a minha vida, inegavelmente, meus motivos para estar nesse estado não são nada plausíveis.

Normalmente desconto todas as minhas frustrações nesse período do ano, aproveitando tudo de melhor que Salvador tem a me oferecer. Estou no último ano de medicina duramente fazendo alguns estágios e quando me sobra tempo, o que é bem difícil, dou aulas particulares de desenho ou pintura, e por mais que eu ame o que eu faço, conciliar meus estudos, trabalhos e hobbies é frustrante e desafiador nas mesmas proporções que me fazem bem e aquieta a minha alma.

Me encontrar aqui com os meus amigos durante quatro dias é uma maneira válida que eu havia encontrado de relaxar antes de encarar o estresse do resto do ano, mas sem dúvidas, agora as coisas estavam um pouco estranhas.

Não são os últimos estágios de medicina na obstetrícia, meu TCC ou os garotinhos gêmeos que eu dou aulas de pintura que me roubam a atenção do período festivo, e sim o misterioso moreno de sorriso bonito e terrivelmente casado que faz isso.

Eu sabia que era meio humilhante, principalmente porque isso já foi superado, ou bem... deveria ter sido naqueles exatos 4 meses intensos, porém, a certeza que Malu tinha me dado ao retomar o assunto fez ascender algo dentro de mim que queria acreditar que eu o encontraria novamente.

Por isso, nos últimos dois dias de festa meus olhos passeiam por todos os cantos em meio a multidão, observando a toda parte na esperança constante de que entre tantas bocas desconhecidas eu encontraria o caminho de volta para o gosto da sua.

— Se continuar desse jeito a Malu vai ganhar de lavada.
Giovana, minha prima, profere apontando com o queixo para a nossa amiga não tão distante da gente, atacando a boca de um ruivo bem bonito.

Dou de ombros. Amanhã eu dava um jeito nisso, no momento eu estava mais preocupado em pegar outra caipirinha que serviam de graça no camarote.

—  Você quer alguma bebida? To indo pegar mais.

— Outra cerveja.
Balançando o seu corpo totalmente sorridente, a mais baixa me responde entretida demais com o grupo que se apresentava não tão distante de nós.

Apesar de hoje termos optado pelo camarote, isso não garantia nada que iríamos passar uma noite mais tranquila, a festa privada poderia ser tão agitada e cheia quanto alguns blocos tradicionais de rua.

Fixo meus olhos em algumas cabeleiras castanhas no meu caminho até o bar. Era preocupante, quase no nível de uma obsessão, eu precisava parar o mais rápido possível com isso antes que meus amigos percebam e eu vire motivo de chacota no grupo.

Entretanto, era difícil me despedir da sua boca quente e macia que tomava os meus pensamentos, ou então da sua voz que tinha chegado aos meus ouvidor de uma forma tão doce e delicada como um acariciar. Quanto mais eu tentasse tirá-lo de mim mais infiltrado ele parecia permanecer.

A brisa suave refresca o meu rosto com o camarote tão próximo a praia de Ondina, o vento intenso se mesclava com a música que já não estava mais tão alta assim após a substituição do grupo de samba pela voz tão conhecida da cantora carioca Ludmilla, atraindo a maior parte do público para perto do palco.

Momento perfeito para encher a cara enquanto se vive no aguardo.

Foram necessários três passos para a minha respiração travar tão rápido quanto os meus pés.

De uma forma estranha o ar tinha se tornado espesso demais para ser filtrado pelos meus pulmões e o ruído dos instrumentos havia ficado em segundo plano, muito abafado para me chamar atenção. Não existia mais multidão quando meus olhos encontraram ele.

O homem mais bonito e apaixonante que eu já pude presenciar.

Ele exibia um sorriso largo, cabelos selvagens provavelmente causados pelo vento intenso vindo da praia, lábios inchados e vermelhos, além dos três primeiros botões da sua camisa abertos revelando o seu peitoral queimado.

Sem conseguir impedir, ele passa pelo meu campo de visão, exatamente na minha frente, não era um sonho nem algum tipo de jogo mental tentando me enlouquecer, Pedro Tófani tinha mesmo passado a poucos metros de mim e eu não havia feito nada, nem sequer movido um músculos ou chamado o seu nome na esperança de atrair ele de volta para mim.

Ele desfila apressadamente com uma cerveja na mão e logo desaparece.

Pisco algumas vezes.
Será mesmo que eu não estava sonhando?
Eu o venerei por tanto tempo, que agora tendo noção que estamos no mesmo ambiente, e a pouco tempo atrás, em uma distância curta um do outro, eu não sabia mais como reagir.

Deveria correr atrás e não deixa-lo desaparecer da minha vida outra vez.

Eu realmente deveria tentar, principalmente após a conversa que tive com Maria Luísa naquela sexta-feira mas o medo da rejeição parecia vencer os meus pensamentos.

Nunca fui o homem do tipo que se preocupa em receber um fora, mas um fora do Pedro Tófani seria diferente, principalmente após idealizar um reencontro tantas vezes em meio a noites de insônia. Não gosto da ideia de ser frustrado e trazido de volta a realidade caso tudo não seguisse o roteiro das minhas fantasias, por isso, a comodidade e o medo se fazem presentes o suficiente para os meus pés se fixarem no chão até eu ter certeza que ele de fato tinha se misturado com as demais pessoas.

Volto para perto de Giovana somente dez minutos depois, mais exasperado do que quando eu havia saído, alheio a minha realidade, sem bebidas e com o peito sendo bombardeado pelo pulsar intenso do meu coração.

Se eu tivesse muita sorte, talvez sobrevivesse até o final daquela noite.

n/a: sempre fui acostumada a escrever capítulos mais longos nas minhas outras obras, mas decidi trazer uma escrita mais dinâmica em coeternos, com atualizações em uma maior frequência, espero que gostem desse novo estilo🫶🏻

Com carinho, ninaꨄ

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