26: Calmaria

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26 de fevereiro de 2022

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26 de fevereiro de 2022

Jão Romania:

Salvador.

Respiro fundo tomando para mim os primeiros ares da capital baiana.

É bom estar de volta em casa.

Cacete, quem eu estou querendo enganar? É bom pra caralho!

Como um garotinho bobo, uma risada nervosa escapa da minha garganta e sinto aos poucos meu estômago embrulhar de nervosismo.

Muitas coisas haviam mudado nesse último ano. O loiro havia sumido das minhas mechas dando lugar aos cachos castanhos um pouco baguçados, no meu corpo, outras tatuagens tinham ganhado espaço. Me sentia mais adulto do que há 1 ano atrás, prestes a acabar a minha faculdade de medicina, cada vez mais apaixonado por crianças e pela minha arte. Em 1 ano pintei tantas telas que era difícil processar na minha mente quantas foram, dias incansáveis de estudo até a exaustão e noites felizes com meus amigos e família me traziam de volta para a minha realidade.

Viver o carnaval é um pequeno recorte da minha vida, como uma única cena ao longo de um filme completo.
Esse período do ano não é a minha realidade e está longe de ser, mas é bom voltar aqui e ser entorpercido com a energia e as pessoas desse lugar até acreditar que minha vida só começa aqui; no carnaval de rua de Salvador.

Os dias se tornaram difíceis ao longo dos primeiros meses, como se constantemente eu estivesse carregando um peso exaustivo nas minhas costas. A qualquer lugar que meus olhos parassem lá estava ele; no tom escuro da tinta que molhava o meu pincel, semelhante aos seus olhos, nas bocas fajuta que eu beijava na tentativa de esquecê-lo, ao encostar a cabeça no travesseiro e não ser tão macio como seu peito, praias idiotas, música da Ivete Sangalo e até a merda das câmeras fotográficas.
Ele estava em tudo.

Aos poucos, quando a minha insanidade já estava tomando conta de tudo, em uma madrugada qualquer de abril eu comprei um voo só de ida para o dia seguinte com destino à Salvador. E quase, por muito pouco, não decolei até aqui. No final do dia apenas desisti e joguei fora a passagem.

Depois desse dia senti que precisava preencher mais o meu tempo, me inscrevi em extensões da faculdade, me ocupei ainda mais com as aulas das crianças, e no pequeno tempo livre que me restava me enfiava no meu próprio quarto com alguma tela mal-acabada ou um projeto novo em mente para fazer.

Com isso, a angústia foi dando lugar ao cansaço e cada vez menos eu pensava nele.

No fim, com a correria do dia a dia nem me dei conta que um ano havia se passado e novamente eu estaria de volta.

Com uma vida inteira para cuidar mas com o coração ainda completamente entregue a um certo moreno de olhos misteriosos e sorriso encantador.

Porque sempre seria assim; não importa o quanto eu tente preencher e enganar o meu cerébro, basta a sua figura brotar na minha mente que tudo parece voltar a fazer sentido.

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