𝙄

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    Um garoto andava pela densa floresta de Pinus et Abies, com uma grande cesta de fibra manual carregada de amoras fresquinhas tiradas de um arbusto próximo, em direção à uma cabaninha feita de folhas e palha. Assim que chegara ao local, deixara a cesta próxima à porta, se erguera do chão e observou em direção ao céu, que apesar de ligeiramente coberto pelas folhas das árvores, era bastante visível, o menino logo notou que estava perto do meio dia, hora da qual era perfeita para soltar seu guaxinim de estimação para dar uma passeada, e abriu a cortina improvisada da qual saiu um pequeno animal que tinha em torno de 1 ano de vida, e o carregou em direção à um pequeno laguinho quase congelado por conta da quase chegada do inverno.
    Chegando lá, ele soltara o guaxinim, e se sentara à beira do corpo d'água, vendo o animal se aninhando junto ao corpo de seu dono e respirando fundo o gélido ar que continha em volta, o outono era sua estação favorita, era mágico como tudo ficava tão mais fresquinho, como as frutas vinham mais gostosas, como o sol se destacava por entre as árvores com folhas de cores tão diferentes. Ah... As folhas dos pinheiros... Elas ficavam tão coloridas... E vivas! Pensava enquanto acariciava a cabeça de seu pet, e de vez em quando olhava para trás pra ver se não tinha nenhum ladrão de amoras por perto, pois da última vez que se descuidara admirando a paisagem, um casal de esquilos havia comido metade das suas preciosas frutas, e apesar de no episódio ter tido um grande prejuízo com comida nos dias que se seguiram, mas achara que o casal era bastante fofo, quando estivesse crescido ele tentaria arranjar uma parceira também, e começou a dar pequenos risinhos ao recordar o evento, entretanto, lembrando-se também de que o inverno estava chegando e precisava ter bastante coisas em estoque, percebera que não podia ficar lá sentado o dia inteiro, e pela posição do sol já havia dado 1 hora da tarde.
    O jovem havia passado a tarde buscando mantimentos, e assim que fora dado o primeiro veredicto de que iria escurecer, ele se encolhera dentro de sua cabana, pois apesar de saber se virar sozinho, já que fizera isso desde os 7 anos, não havia experiência nenhuma para matar, ou sequer atacar alguém, e atrair um animal selvagem para dentro de sua cabana não era nem de longe uma boa ideia, para dizer a verdade era uma péssima ideia, e sem contestar sua tremenda falta de habilidade em fazer qualquer coisa relacionada a armas, o ruivo se deitara em sua cama, e sonhou que estava brincando com seus pais e irmãos, que, apesar de nunca os ter visto na vida, era gostoso sonhar e imaginar que estavam juntos, talvez devesse tornar seu novo objetivo de vida procurar a própria família, e de repente acordou ponderando que não tinha um objetivo de vida, só tinha alguns sonhos lúcidos e frívolos, mas nenhum sentido, logo percebera que estava pensando demais, o mais sábio a se fazer era simplesmente ir dormir e torcer pra que não ficasse frio até demais, porque apesar de seu pequeno lar ser apto para temperaturas baixas, não era muito confortável ficar lá dentro no frio extremo do inverno.
    Nos dias que se seguiram, o garoto ficara catando de tudo que lhe parecia útil, madeiras, pedras, amoras, muitas amoras, pinhas, porque queria tentar aprender a fazer uma sopa de pinha, pois além de saber que não poderia viver de amoras para sempre, e também teria de saber cozinhar, já que não arranjaria uma esposa tão cedo; pegara também uns tapetes roubados de uma mansão ali perto, mas como os tapetes estavam esquecidos no sótão da casa, eles haviam de ter uma segunda chance se transformando em roupas, entretanto o ruivo recordou-se de que não sabia costurar, mais uma vez era papel de uma esposa, todavia, tinha de aprender, pois não havia uma esposa. Não tinha nem idade pra casar, era só um órfão de 11 anos largado por uma floresta, e refletira que nenhuma mulher iria querer um porco de marido, especialmente por aqueles cabelos ruivos extremamente ridículos, totalmente bagunçados e sujos, e a imagem só piorava na questão de olharem seus olhos e tudo o que vissem fosse um vazio desconfortável que afastava qualquer um, ou até mesmo o fato de não conseguir dialogar com ninguém sem gaguejar (e muito), além de ser magrelo e alto demais para a própria idade, e também de ser extremamente desengonçado andando em meio à sociedade burguesa, então, é, ou aprendia a fazer esses tipos de atividades ou se entregava para a morte por fome ou pela guilhotina por possessão demoníaca, de tão feio e maluco que era. Ficava pensando nisso toda vez que fazia alguma de suas rotineiras atividades, talvez fosse por isso que nunca havia conseguido ser adotado, nem pra ser um serviçal* de uma mansão burguesa.
    Passado um certo tempo, o inverno já havia chegado, estava bastante frio e também impossível sair para fazer qualquer coisa, exceto ficar enrolado em um dos tapetes que foram pegos enquanto ainda era outono, o guaxinim estava mais ou menos hibernando, e por vezes poderia dar umas tremidas por conta do frio, mas nada que fosse sinalizar patologia ou coisas do tipo, também ambos estavam com um bom estoque de comida, pois os dois gostavam de amoras e não tinham problema nenhum com elas, estavam bem, diferentemente de outras pessoas...

*Serviçal: Nessa história, os serviçais são garotos resgatados ou adotados por pessoas ou famílias ricas, que estão automaticamente na obrigação de tomar todas as tarefas domésticas até atingirem a maioridade ou se casarem, independente da condição que estão submetidos. Mas lembrando que nem sempre eles são adotados com esse propósito.

𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉Onde histórias criam vida. Descubra agora