8 restantes...
A atmosfera estava pesada, mas havia algo nos olhos de Apuh que brilhava com uma intensidade nova, algo determinado, resoluto. Era como se, ao mesmo tempo que ele sentia uma pontada de dor, também fosse movido por uma necessidade urgente de entender as origens de quem ele era - ou pensava ser.
Enquanto eles caminhavam pela floresta em direção à casa de Clara, cada passo parecia ecoar com o peso das perguntas não respondidas. O silêncio entre os dois era agora cúmplice, cada um perdido em suas próprias reflexões, mas compartilhando a mesma meta: descobrir a verdade por trás daquele mistério que os assolava.
Apuh mantinha o olhar fixo à frente, sentindo uma mistura de ansiedade e curiosidade. Ele sabia que o que encontraria poderia abalar tudo o que acreditava, mas estava pronto para encarar o que fosse. Lg, por outro lado, sentia o coração pesado. Ele entendia que, embora essa busca por respostas fosse necessária, poderia revelar coisas que Apuh talvez preferisse não saber. Mas estava ao lado dele, disposto a enfrentar qualquer verdade, por mais dura que fosse.
Finalmente, as luzes da casa de Clara surgiram entre as árvores, cintilando através da escuridão. Ao se aproximarem, Apuh sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele respirou fundo e apertou a mão de Lg, que retribuiu o aperto com força, como se dissesse silenciosamente: - Estou com você, não importa o que me aconteça.
Eles pararam diante da porta. Apuh hesitou, mas a determinação prevaleceu. Ele bateu. A casa parecia envolta em um silêncio inquietante, e por um momento ele pensou que Clara poderia não estar lá. Mas então, passos se aproximaram, e a porta se abriu, revelando uma mulher com uma expressão aflita, os olhos preocupados.
Ela olhou de Apuh para Lg e pareceu entender, sem que nenhuma palavra fosse dita, o motivo de estarem ali naquela hora.
- Clara... - Apuh começou, tentando manter a calma em sua voz, mas as palavras mal saíram, carregadas de emoção. - Você precisa me contar a verdade... Eu preciso saber quem realmente sou.
Clara ficou em silêncio, olhando para ele, como se estivesse ponderando se estava preparada para dar as respostas que ele procurava. Finalmente, ela suspirou e assentiu, abrindo a porta para que eles entrassem.
Assim, eles se encaminharam para dentro da casa, onde, finalmente, Clara começaria a revelar o que há muito tempo guardava como seu segredo mais doloroso. Fora orientado para que os dois se sentassem, a mulher também sentara, e começou.
- Então você já deve ter entendido que sou sua mãe não é?... - Ela perguntou em um tom melancólico, e Apuh assentiu com a cabeça, com uma mistura de perplexidade, tristeza e raiva. - Você foi sequestrado muito novinho... Quase foi morto por uma católica por causa das origens de seu pai e da cor de nossos cabelos... Ela dizia que você carregava demônios, era louca...
As palavras de Clara caíram como uma avalanche sobre Apuh. Ele olhou para ela, tentando digerir aquela revelação perturbadora. A ideia de ter sido sequestrado, de quase ter perdido a vida por algo tão absurdo, o deixava atônito. Sentia uma dor profunda ao imaginar os perigos e o ódio que o cercaram ainda tão pequeno. O choque, a tristeza e a raiva se misturavam em uma confusão de sentimentos difíceis de processar.
- Sequestrado?... - O rapaz olhava para Clara, absorvendo cada palavra como se cada uma delas fosse um golpe que o atingisse em cheio. A revelação de que ela era sua mãe, de que ele havia sido sequestrado e quase morto por motivos absurdos, mexia profundamente com tudo o que ele acreditava. Era como se o chão lhe faltasse sob os pés, e ao mesmo tempo ele sentia um alívio inexplicável por finalmente estar diante da verdade, por mais dolorosa que fosse.
Ele então se lembrou da senhora que o criou. Uma mulher fria, distante, e cuja partida não lhe causara grandes dores. Não havia carinho ou cuidado genuíno, apenas a imposição de regras e de uma moralidade que ele, desde cedo, achava contraditória e desagradável. A lembrança dela o fazia sentir uma angústia mesclada de desprezo e repulsa, como se aqueles anos de vida com ela não passassem de uma sombra desprovida de calor humano.
Lg, percebendo o conflito de emoções no rosto de Apuh, colocou uma mão firme em seu ombro, trazendo-lhe algum conforto, como se lhe dissesse que ele não estava sozinho naquela dor.
Clara, com a voz embargada, continuou:
- Eu e seu pai procuramos você por tantos anos... Nunca desisti, sempre tive esperança de encontrá-lo. Mas quando soube que aquela mulher te levou para Pinus et Abies... Bem, a floresta não é conhecida por ser acolhedora, e depois de um tempo eu já não sabia se deveria continuar buscando. Achei que você talvez tivesse encontrado os leitos de seu irmão... - A voz dela falhou, e ela desviou o olhar, tentando conter as lágrimas.
- Não foi uma vida segura... - Apuh respondeu, a voz dura. - Foi uma vida cheia de dúvidas e solidão. Mas agora, finalmente, estou aqui. Quero entender tudo. Por quê? Por que alguém faria isso?
Clara suspirou profundamente, como se reviver aqueles momentos custasse uma grande dor. Ela lançou um olhar distante, lembrando-se do passado.
- Seu pai era um homem de muita fé, mas nossa fé era diferente. Somos Wiccas, e muito tradicionais em nossas crenças, o que assusta algumas pessoas. Essa mulher... ela nos via como um perigo, algo que não cabia na visão de mundo dela. Ela se convenceu de que você era... - Clara hesitou, engolindo em seco - amaldiçoado.
Apuh sentiu a raiva crescer dentro de si. Era absurdo pensar que alguém pudesse ser capaz de tamanha violência e intolerância. Lg permaneceu ao seu lado, o olhar cheio de empatia e apoio. A história se desenrolava como uma ferida antiga sendo finalmente exposta ao ar.
Clara então, com um olhar firme, colocou uma mão sobre a dele, como se aquele toque fosse uma promessa silenciosa de que ela não o abandonaria mais.
- Eu não posso te devolver esses anos perdidos, mas agora que você está aqui, Apuh, nós podemos reconstruir o que foi tirado de nós. Vamos honrar as memórias do seu pai, de seu irmão e as nossas raízes. E tudo o que você quiser saber, estarei aqui para te contar.
Podia-se dizer que uma parte da dúvida fora retirada, entretanto ainda haviam buracos naquele roteiro, dos quais Apuh iria atrás em outro momento...
Chegou-se a primavera de maneira definitiva, e Apuh já estava nos seus 18 anos. No quê importava? Não sabia, talvez o fato de ser aniversário. Lg se distanciara um pouco com a coisa de Wicca, o que o ruivo acabou estranhando... Mentira, apenas uma ironia, Lg gostara mais da tradição Wicca até mais do que Apuh se duvidar, o que deu um alívio enorme em todos os dois, já que brigas naquele momento não estavam na cogitação, eles gostavam de evitá-las... Porquê tanto Apuh quanto Lg sabiam que os dois eram sensíveis a discussões. Claro, todos os dias eles conversavam um pouco sobre as tradições, limitações e as raízes familiares, brigas eram desnecessárias, mas conversas e comunicação eram essenciais.
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𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉
Fanfiction"-𝙊𝙝! 𝙈𝙚𝙪 𝙨𝙚𝙣𝙝𝙤𝙧, 𝙢𝙚 𝙙𝙚𝙨𝙘𝙪𝙡𝙥𝙖! 𝙉𝙖̃𝙤 𝙥𝙧𝙚𝙘𝙞𝙨𝙖 𝙨𝙚 𝙞𝙣𝙘𝙤𝙢𝙤𝙙𝙖𝙧! 𝙀𝙪 𝙡𝙞𝙢𝙥𝙤...- 𝘿𝙞𝙨𝙨𝙚 𝙘𝙤𝙢 𝙤 𝙨𝙚𝙢𝙗𝙡𝙖𝙣𝙩𝙚 𝙦𝙪𝙖𝙨𝙚 𝙚𝙢 𝙡𝙖́𝙜𝙧𝙞𝙢𝙖𝙨, 𝙚 𝙤 𝙤𝙪𝙩𝙧𝙤 𝙜𝙖𝙧𝙤𝙩𝙤 𝙡𝙝𝙚 𝙧𝙚𝙨𝙥𝙤𝙣𝙙𝙚�...