106-5 - Capítulo extra 8

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Tem um lugar diferente Lá depois da saideira Quem é de beijo, beija Quem é de luta, capoeira Tem um lugar diferente Lá depois da saideira Tem homem que vira macaco E mulher que vira freira Oh! Comandante, capitão Tio, brother, camarada Chefia, amigão Desce mais uma rodada – Saideira, Skank


(Manaus – 15/07/2014) – 20:10 da noite


(P.V Angel)


Coloquei meus fones e sai de casa ignorando o que meu pai gritava da porta para toda a vizinhança saber.


Pai – Você é uma vergonha seu merdinha!! – Eu o ignoro e aumento o volume da música, a última coisa que eu quero agora é o meu pai acabando com a minha sanidade mental.


Eu moro na vizinhança mais amigável da cidade, as vezes eu me sinto em um país estrangeiro, aqui tem casas com jardins bonitos e famílias com muitos filhos, mas como em qualquer lugar no mundo, sempre vai ter uma desavença ou um probleminha. Mesmo em 2014, a fofoca corre solta pela vizinhança e todos irão julgar você, independente se você for um mendigo ou a porra do Presidente do Brasil!!

Minha família não é das melhores e sempre somos alvos de fofoca, isso é fato, logo eu achei normal quando vi alguns de nossos vizinhos olhando para o meu pai gritando da porta que eu era um resto de...aborto..., vai por mim é melhor do que a vez que ele falou que devia ter me empalado com um cabide quando eu ainda tava na barriga da minha mãe. Agora é colocar a máscara de felicidade, seguir a vida e fingir que não está acontecendo merda nenhuma.

Eu continuo a caminhar pela calçada praticamente vazia, a minha frente, no céu, estava a lua cheia da noite quente de verão, as nuvens rodeavam a esfera branca como arquibancadas de um coliseu. Olho para o lado esquerdo e avisto o parquinho, sinto arrepios percorrendo o meu corpo, tudo é vazio, sem vida e com um ar fantasmagórico, minhas pernas estão doendo pra caralho agora, acho que não vai ter nenhum problema se eu sentar em um dos bancos do balanço.

Sento na pequena tábua de madeira e seguro nas correntes de metal, lentamente começo a me embalar para frente e para trás enquanto eu ouço "Coldplay". Estar sozinho nesse parquinho é algo tão estranho quanto passar a madrugada acordado, acho que estou sendo vigiado por alguém, sinto seu olhar inquietando minhas costas, eu olho para trás e não vejo nada além do solitário escorregador de plástico e metal.

Olho para frente de novo e de soslaio noto um panda ao meu lado, tem cabelos pretos e olhos castanhos sem anseio, tem um físico de fortinho, mas não hesita em esconder a sua barriga um pouco proeminente. Ele encarava a lua sem esboçar nenhuma emoção como um boneco ou um morto...

Espera!! Eu sei quem é esse cara!! Porra, como eu não percebi isso antes?!


Angel – William?! – O panda olha para mim com uma face abatida.

William – Sim?

Angel – É William né? – Ele assente. – Ah tá...

William – Tem algo a dizer?

Angel – Ah não!! Eu só estava confirmando que você é o William mesmo.

William – Ah tá!! E você é o...

Angel – Ambrósio, mas eu prefiro que me chamem de Angel.

William – Angel é mais bonito.

Angel – É, quase todo mundo diz isso... – Exceto a minha família, óbvio.

William – Por que Ambrósio?

Angel – Eu não sei e nem quero saber.

William – Entendi...


Eu conheço o William apenas de vista e histórias sobre, ele é filho único do casal Takahashi, um casal de pandas que possuem antepassados que trabalharam aqui no Brasil nas lavouras de café entre 1893 a 1930, mas para que eu saiba, ele não tem uma vida fácil, já que o pai faleceu no ano passado em decorrência de um acidente fatal de carro.


Angel – O Curtis e a Kate são muito filhos da puta né?


Pela primeira vez desde o momento em que começamos a conversar, eu o vejo arregalar os olhos surpreso, ele até olha para mim.


William – Como é?

Angel – Os gêmeos Bellemonte. Eles deviam pagar pelo que fazem com você.

William – Sim, mas do que adianta né? A escola é uma merda e o bairro também, por isso eu nem ligo para isso.


Hoje é sábado e ontem, sexta-feira, os gêmeos pegaram pesado com o William, fizeram ele cair no chão enquanto comia o lanche, o chamaram de gordo e de burro por não saber matemática e envergonhar os furries asiáticos, claro isso tudo com xingamentos e vaias, pois Kate e Curtis sempre andam com um grupinho.


Angel – Por isso você tá sério?

William – Sério?! Eu?! Eu não tô sério não, só tô quieto...e eu precisava descansar minha mente...

Angel – Hoje foi um dia cansativo então?

William – Sim, até demais...tá eu admito, quero que aqueles dois se ferrem pra caralho!!

Angel – Eu sabia!!

William – Tava na cara né? – Ele sorri de canto.

Angel – Sim, bastante até...

William – Sobre eles se foderem, eu já tenho um plano.

Angel – Quer ajuda?

William – Eu adoraria, quer ir na minha casa?

Angel – Pode ser.

William – Os seus pais não vão se importar?

Angel – Eles tão pouco se fodendo para mim, quanto mais longe eu estiver, melhor para eles!!


Eu e o William saímos do balanço e fomos para a sua casa que ficava há dois quarteirões da minha. Sinto que enfim fiz um amigo, RÁ TOMA NO CU PAI!! QUEM MANDOU FALAR QUE EU NÃO IA TER AMIGOS POR SER UM VIADO!!!


(P.V Angel, acabou)

O Lobo SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora