Capítulo 61 - A história de Andrew

202 29 0
                                    


A enfermeira acaba por lhe dar uns comprimidos para a ressaca e obriga-o a descansar. Levo-lhe a casa segundo as suas indicações e deito-o na sua cama. Ninguém estava em casa de Andrew. Apenas eu e ele. Obrigo-lhe a adormecer pois ele precisava de repousar, tal como Emily tivera dito. 


- Descansa, está bem?


- Sim. Eu vou descansar. - Andrew concorda, ainda um pouco atordoado com os efeitos do álcool.


Andrew adormece tal como me prometera que ia fazer e assim deixo a sua casa. Volto à escola e tenho as minhas habituais aulas. 


As aulas decorrem como normalmente. Calmas e serenas. Passei o dia com a companhia de Alexa. Quando saio da minha última aula, decido dirigir-me a casa de Andrew mas os meus planos desvanecem quando vejo os rapazes sentado à minha espera dentro do carro. Aproximo-me do carro em que se encontrava Luke e Calum também. 


Cumprimento Calum com dois beijinhos e Luke com um beijo rápido. 


- Estás estranha hoje. - Luke comenta.


- Não é nada. - respondo.


- Eu conheço-te. Posso não conhecer há anos, mas conheço-te o suficiente para saber que me escondes algo. Conta-me, afinal sou o teu namorado. Não há segredos entre nós, lembra-te.


- Bem...prometes que não te chateias comigo? - pergunto-lhe a medo. 


- Sim, eu prometo.


- De certeza? - pergunto novamente e Luke assente que sim com a cabeça. - Bem, eu queria ver como Andrew estava. Ele chegou bêbado à escola e estava mesmo mal, sabes. Além de tudo, eu preocupo-me com ele. Sabes bem que não consigo não ajudar alguém. Eu quero ter a certeza de que ele está bem. 


A expressão de Luke é incompreensível. Não consigo entender se está triste, desapontado ou simplesmente um sentimento de neutralidade. Ou será que está numa luta interior pensando se me deveria levar a casa de Andrew ou não.


- Diz-nos onde é e nós levamos-te lá. - Luke decidi num tom frio depois de vários momentos em que permaneceu calado.


- Obrigado. - agradeço-lhe e depois indico-lhe o caminho. - Esperais por mim cá fora? Eu não demoro muito. 


- Nós esperamos. Vai lá. - Calum responde.


Entro em casa dele e dirijo-me ao seu quarto onde ele estaria a descansar. Quando chego ao seu quarto, Andrew estava deitado sobre a sua cama apenas de boxers e confesso que isso foi constrangedor, por mais bonito e musculoso que ele seja, é um momento constrangedor. 


- Vieste! - Andrew exclama feliz e sorrindo de orelha a orelha.


- Sim, eu vim. Queria certificar-me que estavas a recuperar.


- Eu estou melhor, obrigado.


- Já me podes contar o que se passou?


- Sim, eu conto. - Andrew fala num tom bastante receoso. - Bem, ultimamente o ambiente aqui em casa tem andado pesado. Os meus pais desde que me lembro discutiam muito, mas nestes últimos dias tem sido demais. O meu pai é dependente de drogas e já há algumas semanas que anda a receber ameaças dos traficantes dizendo que fazem mal à sua família senão lhes pagar as suas dívidas. O meu pai não sabe o que fazer. Ficou desempregado à 10 dias e por isso não sabe onde buscar o dinheiro. A minha mãe sempre esteve desempregada e por isso também não ganha nada. Assim sem o dinheiro do trabalho do meu pai, com as dívidas dele e mais o dinheiro que temos que gastar em comida, na luz, na água e no gás, estamos perdidos. Não temos dinheiro e a nossa despensa está a esvaziar depressa demais.


- Oh meu Deus! - exclamo. Quando encaro os olhos de Andrew, estes encontravam-se marejados de lágrimas e algumas já molhavam a sua pele branca como a neve. 


- Mas há pior. Apenas me lembro de uma vez o meu pai bater na minha mãe mas isso foi há muito tempo quando eu tinha quatro anos, ainda estávamos na Suécia.


- Desculpa interromper, mas estavas na Suécia? És de lá?


- Eu nasci lá e a minha mãe é sueca também, mas o meu pai é australiano. Porém o meu irmão já nasceu cá, na Austrália. Vou continuar. Ele só lhe bateu uma vez, mas ontem foi o pior. Ele bateu-lhe sem parar até as marcas roxas preencherem o frágil corpo da minha mãe. Ele descarregou toda a raiva nela. Descarregou tudo o que sentia numa inocente. Numa inocente lutadora. Eu tentei pará-lo. Eu juro que tentei, mas ele tem uma força dos diabos e eu não consigo pará-lo. Eu fui empurrado e bati contra o sofá e depois vi o meu irmão. Ele só tem 12 anos e então quando o vi à porta da sala, escondi-me com ele atrás do sofá. Tapei-lhe os ouvidos mas tenho a certeza que ele ouviu a discussão toda. Eu nunca vi o meu pai assim. Eu não sei o que fazer.


- Mas porque bebeste? Isso não ajudou não ajuda nem vai ajudar.


- Eu bebi para esquecer. Eu só queria esquecer esta última noite porque apenas me consigo lembrar da minha fraqueza e da minha covardia porque não consegui deter o meu pai e agora a minha mãe está no hospital e o meu pai foi preso. Eu não consegui dizer nada ao inem porque eu não queria prender o meu pai. Além de tudo ele é o meu herói. Ele é o exemplo que tenho. Todos nós, todos nós que somos filhos olhamos para os nossos pais como um exemplo e por isso eles deviam ter cuidado porque eles são os nossos ídolos e ao fazer isto tudo, eu não sei o que achar. O meu irmão foi quem disse que ele tinha batido na mãe e a assistente social assim melhor ele ficar com os meus avós mas como eu já tenho 17 anos eles deixaram-me escolher e eu preferi ficar porque eu detesto os meus avós. Eles não são carinhosos nem amorosos para nós. Tudo porque não gostam do genro que a filha lhes arranjou. No entanto nós não temos culpa. A culpa não é nossa!


- Oh Andrew! - abraço-o e ele chora nos meus braços novamente. Sinceramente não sabia o que fazer nem o que pensar. Estava simplesmente em choque total.

Australian Love Affair 1 - AcabadaOnde histórias criam vida. Descubra agora