Jang Shin Yu

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O dia começou como qualquer outro para mim, ou devia dizer, para Jang Hyun Seok. Exceto por uma dor persistente no estômago, uma dor que não era comum, mas sim uma pontada aguda que parecia corroer meu interior. Eu sabia exatamente o motivo: o excesso de café puro e forte que eu vinha consumindo na última semana. Meu corpo, não acostumado com essa quantidade absurda de cafeína, estava pagando o preço. Além da dor, a insônia me assolava, mas, como sempre, eu tinha que manter a fachada.

Cheguei ao escritório de Hyun Seok, vestindo o terno impecável que havia se tornado parte do meu disfarce. Ninguém ao meu redor suspeitava do incômodo que eu sentia; para todos, eu estava bem, focado como sempre. Mas a verdade era que eu estava à beira do colapso, a tensão se acumulando a cada segundo.

Enquanto analisava um projeto, Nam Hong Joo entrou em meu escritório. Ela, como de costume, não hesitou em discordar de uma das minhas decisões. Eu sabia, graças a Hyun Seok, que Hong Joo tinha uma tendência a dar suas opiniões mesmo quando não era perguntada. Ela é incrivelmente petulante.

Hyun Seok dizia que muitas vezes ela estava certa e que era importante ouvi-la. Ele confiava nela cegamente. Já para mim, ela não passava de uma suspeita. Tinha algo que ela estava escondendo, tenho certeza, e não podia deixar de vinculá-la aos "incidentes" que ocorreram com meu irmão.

Fora que suas atitudes me irritavam. Não era só a discordância; era o fato de que eu, Jang Shin Yu, estava sendo desafiado o tempo todo por ela. Parecia que ela discordava de tudo que eu dizia. Eu já não a suportava mais, porém, não podia ao menos dizer o que pensava. Afinal, o que Shin Yu pensava não vinha ao caso, apenas o que Hyun Seok queria que valia a pena ser dito.

- Eu não acho que essa abordagem seja a melhor - ela disse, olhando-me diretamente nos olhos, sem qualquer hesitação.

Eu ia explicar o porquê da minha abordagem, mas comecei a sentir os efeitos do café novamente. Eu me segurava para não demonstrar o quanto a dor estava se intensificando. Tentei manter a calma, mas a irritação se misturava com a dor crescente em meu estômago.

Então, uma pontada mais forte me atingiu. Minha visão escureceu momentaneamente, e senti minhas pernas cederem. Pensei: vou cair. Mas, antes que eu pudesse me dar conta, senti um par de mãos firmes me segurando.

- Era Hong Joo? - lembro-me de pensar.

Ela me amparou até o sofá com uma rapidez que me surpreendeu, sua força contrastando com sua aparência delicada. Como era possível que ela conseguisse me amparar com tanta facilidade? Na hora, nem pensei sobre isso, mas depois, essa questão permaneceu em minha mente.

Em nenhum momento sua expressão mostrou qualquer traço de pânico, apenas uma preocupação intensa. Parecia ser treinada para essas situações, como um bombeiro, um enfermeiro ou um médico. Como se tivesse tudo sob controle.

- Vou chamar uma ambulância - ela disse, pegando o celular com a outra mão enquanto me colocava sobre o sofá.

- Não - sussurrei, tentando parecer forte, mas minha voz saiu fraca. Estendi a mão, impedindo-a de continuar, mas era evidente que eu estava sem forças. Ela, no entanto, parecia decidida.

Hong Joo me olhou e fez uma expressão de frustração, mas de complacência. Então largou o celular e, sem hesitar, pegou minha mão, apertando firmemente a área próxima ao polegar.

- Isso vai aliviar a indigestão - disse com firmeza, seu tom não deixava espaço para dúvidas. - Mas, assim que você melhorar um pouco, irá ao médico.

Eu não conseguia desviar os olhos dela. O toque firme e a atenção dela eram surpreendentes, algo que eu não sentia há muito tempo. Meu coração, que há pouco estava sobrecarregado pela dor, agora acelerava, não sei ao certo por quê.

Era incomum para mim estar do lado de quem é cuidado; sempre fora o oposto. Eu era quem se preocupava, quem mantinha o controle. Quer dizer, uma vez, pouco antes da minha mãe morrer, em meio às chamas, alguém fez o mesmo por mim.

Naquele momento, eu havia perdido o controle, havia colocado tudo em risco porque não aguentei xícaras de café. Estava frustrado e preocupado que alguém me descobrisse e eu pusesse tudo a perder. Porém, algo na senhorita Hong me passava um conforto, uma estranha sensação de acolhimento, assim como aquela pessoa que nos salvou do fogo. Algo em mim começou a mudar, embora eu ainda não soubesse exatamente o quê.

Hong Joo saiu da sala, me deixando para descansar. Acho que ela mencionou que diria aos funcionários que eu estava em uma reunião online com os acionistas e que eu poderia dormir um pouco, ou algo nesse sentido. Na verdade, não a ouvi direito, estive muito absorto em meus pensamentos.

Assim que ela se foi, parecia que sua presença ainda estava ali, pairando ao meu redor. Minha mente, que deveria estar focada no disfarce como sempre, insistia em voltar para ela. Eu estava deixando Jang Shin Yu aparecer.

Eu ainda segurava o local da minha mão onde ela havia apertado, como se aquele simples toque tivesse deixado uma marca permanente.

Por um instante, voltei a mim. Dei um tapa leve no próprio rosto, tentando afastar aquela distração.

- Hey! Volte a si! Ela é suspeita, jamais devo confiar em ninguém - murmurei para mim mesmo, tentando me convencer de que era apenas isso.

Mas, por mais que tentasse, uma parte de mim não conseguia se desligar do que havia acontecido. Passei o resto do dia incomodado com tudo isso, mas mesmo assim, eu sabia que não podia baixar a guarda. Não agora, não com tanto em jogo.

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*Capítulo curtinho também, mas espero que gostem, coloquei uma musiquinha dessa vez, me contem se vcs tbm gostam de POV kkk pq eu adoro*

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