Tem alguém aí ?

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Ponto de vista de Nam Hong Joo

Saí do escritório de Hyun Seok com a mente a mil e o coração batendo rápido. A discussão tinha sido intensa, e a raiva ainda me consumia enquanto caminhava pelos corredores vazios do prédio. Mas, à medida que o tempo passava e o eco dos meus passos se dissipava, comecei a sentir outra coisa além da frustração inicial: um profundo arrependimento.

Já se passaram três semanas desde aquela manhã após a invasão na casa de Hyun. Desde então, algo mudou nele. Ele continua agindo como o mesmo Hyun Seok de sempre, mas, por dentro, sinto que ele não é mais o mesmo. Há uma distância sutil, uma mudança que me incomoda.

“Será que eu exagerei?” A pergunta ecoava na minha cabeça enquanto eu observava o chão sob meus pés. O tom ríspido que usei parecia desproporcional agora que o calor da discussão havia passado. Nunca gostei de perder a calma daquele jeito, especialmente no trabalho. A raiva que sentia me parecia um pouco desmedida à luz da situação.

“Talvez eu tenha ido longe demais”, pensei, mordendo o lábio. “Mas ele também não tinha o direito de me tratar daquela forma. Eu estou aqui para ajudar, não para ser atacada.”

O tom seco dele, a forma como me acusou de ser teimosa, ainda doía. Não era apenas a frustração de ter sido desconsiderada, mas a sensação de que estava tentando ajudar alguém que parecia estar se destruindo por dentro. A falta de compreensão da parte dele me deixou ainda mais irritada, mesmo sabendo que ele estava lidando com algo maior.

Enquanto continuava meu caminho, a sensação de frustração se misturava com o desejo de resolver as coisas. Talvez, quando os ânimos se acalmassem, eu pudesse falar com ele de uma maneira mais tranquila. Afinal, eu ainda me importava com o bem-estar dele, mesmo que ele não parecesse perceber isso.

Todas as noites, tenho ido à sua casa religiosamente, mantendo vigilância sobre as redondezas. No entanto, algo estranho tem acontecido. Notei que estou sendo seguida. Alguém me observa e me segue de perto. Para despistá-lo, finjo que vou à livraria e, em seguida, volto para casa apenas para sair de novo, discretamente.

Ainda não descobri quem é, mas já alertei Mi Ra, pedindo para que ela passe um tempo na casa de seus pais. Relutante, ela foi, mas minha preocupação persiste.

Sinto que preciso estar mais próxima de Hyun, passar mais tempo ao seu lado. Afinal, há momentos em que simplesmente não consigo protegê-lo como deveria. Embora nada mais tenha acontecido desde aquele dia e as ameaças tenham cessado, estou com um pressentimento ruim. Após a calmaria, sempre vem a tempestade.

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Ponto de vista de Jang Shin Yu

Estava sentado na  cadeira do escritório, com a cabeça entre as mãos e uma sensação de exaustão se apoderando de mim. O peso das responsabilidades estava me esmagando, e a discussão com Hong Joo ainda ecoava na minha mente. Cada vez mais, eu me via em conflito interno. A raiva que tinha dirigido a ela parecia desproporcional agora que a tensão começava a se dissipar.

Três semanas desde o dia que troquei de lugar com Hyun Seok, e até agora, tudo parece normal. Nada de ruim ocorreu desde então, mas essa serenidade só aumenta minha preocupação com o que pode estar por vir.

Não posso baixar a guarda, não enquanto não tiver certeza que a ameaça acabou. Tenho certeza que esse assassino só está brincando comigo, como um gato brinca com a comida. Eu sei o que ele  quer, pscicopatas sempre fazem isso. Me enlouquecer primeiro para depois me atacar desprevenido. O que mais me frustra é que ele está conseguindo o seu intento.

“Aish!” O murmúrio escapuliu de meus lábios, frustrado e cansado. Eu não pude evitar deixar escapar, ainda que estivesse sozinho no escritório. “Ela me deixa louco. Não consigo me controlar quando estou perto dela!”

Desde que começara a trabalhar com Hong Joo, algo na forma como ela me olhava, sua determinação e o jeito que ela parecia entender o que eu precisava, me deixava completamente fora de equilíbrio.

Eu sabia que eu podia estar indo longe demais ao pensar que ela pudesse estar diretamente envolvida, mas o comportamento dela durante nossa discussão, a forma como parecia sempre estar na linha de frente quando algo estava acontecendo, me fazia questionar suas intenções. Eu sentia que ela estava brincando comigo.

“Preciso me acalmar,” pensei, tentando esfregar as têmporas para aliviar a dor de cabeça. “Não posso deixar essas emoções me dominarem assim.”

O conflito interno estava me consumindo, e a frustração com minha incapacidade de lidar com a situação me fazia sentir ainda mais irritado com Hong Joo. Ela estava certa em alguns pontos, e eu sabia disso, mas a maneira como ela insistia e a forma como me desafiava... tudo isso fazia com que minha paciência se esgotasse rapidamente.

Nessas semanas, havia  começado a investigar ela, a principal suspeita na minha mente. Contratei alguém para segui-la sem que  percebesse, mas os relatórios que recebi são surpreendentemente comuns. Ela leva uma vida aparentemente normal. A única coisa que se destaca é que, todos os dias, após chegar em casa, ela sai e vai até uma livraria, fica uma hora lá e volta logo depois. A única exceção é aos domingos, quando no mesmo horário, ela vai até uma cafeteria próxima à sua casa.

Pesquisei sobre sua vida, antecedentes, e tudo parece em ordem. A única coisa que descobri, e que me faz estranhar um pouco, é que ela não possui família; todos os seus parentes já se foram. Isso é algo que chama a atenção, mas, necessariamente, não levanta suspeitas graves.

Apesar da falta de evidências, continuo observando Nam Hong Joo, tentando encontrar algo que justifique minha desconfiança. No entanto, até agora, não cheguei a nenhuma conclusão concreta.

Então decidi fazer hora extra, com a intenção de segui-la pessoalmente. Queria ver com meus próprios olhos o que ela fazia todas as noites, mas meus planos foram frustrados quando ela também resolveu ficar na empresa.

Sem alternativas, fui para o meu escritório e "fingi que trabalhava". Enquanto eu estava ali, meus pensamentos se dividiam entre a necessidade de proteger meu irmão e a constante desconfiança que Nam Hong Joo me provoca. Essa noite, talvez, eu consiga descobrir algo mais, mas, por enquanto, o mistério permanece.

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Ponto de vista de Nam Hong Joo

Voltei para minha mesa, ja estava bem tarde, a raiva ja havia dissipado no decorrer do trabalho. O senhor Jang mencionou que faria hora extra, então decidi ficar também, aproveitando para terminar alguns relatórios. E quem sabe mais tarde fazer as pazes com ele.

Enquanto estava sentada um som sutil chamou minha atenção. Parecia o som de alguém fechando um zíper.

Rapidamente, tirei meus fones e resolvi ouvir mais atentamente.

Alguém estava ali.

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