Vinte e Nove

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Encarei meu reflexo no espelho, sentindo-me completamente estranha a minha imagem

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Encarei meu reflexo no espelho, sentindo-me completamente estranha a minha imagem. Era como se eu não me reconhecesse mais.

Até alguns meses atrás, eu era uma garçonete e dançarina, lutando para conseguir alguns dólares e pagar minhas contas, tentando manter meu pai longe de confusões.

Mas, àquela altura, eu tinha certeza de que estava presa em uma teia muito mais complexa, que eu nunca imaginei existir. Eu me sinto confusa e perdida.

Mas, talvez, eu já deveria ter me acostumado, porque era assim desde que Christopher Wayne apareceu em minha vida. É claro que eu também não poderia jogar toda a culpa sobre ele, porque também tenho minha parcela.

Eu não deveria tê-lo aceitado em minha casa, naquela noite, e menos ainda tê-lo beijado no restaurante, porque, sem saber, estava indo por um caminho que não tinha mais volta.

Com tudo isso, me prendi ainda mais a um jogo que, no fundo, sabia que não poderia vencer. Mas o pior não é isso; o pior é que estou arrastando pessoas junto comigo para este precipício.

William estava apenas fazendo seu trabalho. Ele era sempre tão presente, tão... correto, e gentil. Me corrói saber que enquanto ele está me dando sorrisos verdadeiros e me tratando tão bem como sempre fez, estou enganando-o e prestes a prejudicar sua vida de maneira quase irreparável.

Eu o arrastei para este caos, para um jogo onde as regras são turvas e os jogadores implacáveis. E isso me fazia sentir ainda pior, como se, ao tentar me salvar, eu estivesse condenando outro.

Talvez eu apenas fosse egoísta, porque embora fizesse tudo aquilo consciente, uma parte minha ainda conseguia estar feliz pela possibilidade de ter meu pai de volta. Não aquele pai que estava acostumada na maior parte de minha vida, mas aquele de minha infância.

Aquele que me contava histórias antes de dormir e cozinhava depois de chegar do trabalho, mesmo cansado; aquele que me carregava nos ombros e me acolhia quando eu me machucava, na rua.

Eu poderia julgar Christopher por uma lista enorme de atitudes suas, mas não poderia julgar o fato de ele ter escolhido o legado de sua família naquela noite em meu apartamento, porque, no fim, o que nos resta é nossa família, por mais desajustada que ela seja.

Então, ao ver meu pai no jardim da instituição, tocando seu violão em uma roda de pessoas, eu senti que todo aquele sacrifício valia a pena.

Fiquei ali, distante alguns metros, apenas apreciando aquela imagem que me faltariam dedos para contar há quanto tempo não presenciava.

Aproximei-me lentamente, tentando não interromper a melodia suave que ele tirava das cordas do violão. Cada nota parecia trazer de volta uma pequena parte do homem que eu lembrava, aquele que se perdeu em algum lugar do passado.

FAMÍLIA WAYNE | FINALIZADA Onde histórias criam vida. Descubra agora