Prologo

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Eu o conheci na situação mais sem noção possível.

Estava cansada. A jornada longa de um dia de trabalho no escritório havia me deixado exausta, e o último toque de uma sexta-feira à noite me fez ansiar pelo conforto da minha casa.

Eu amava trabalhar na RIP, uma das melhores marcas de surfwear da Austrália e do mundo.

Era, com certeza, o ponto alto da minha vida.

Quando o amigo de infância do meu pai, Steven Bell, gerente de marketing e fotografia na RIP me ofereceu um estágio lá, eu senti que era impossível minha vida dar errado a partir dali. Ali eu começava a ter algo que eu prezava e queria manter. Um motivo para acordar todos os dias. Eu ainda me odiava, claro, mas eu finalmente achei uma inspiração pra tentar virar o jogo.

O escritório estava quase vazio quando eu estava saindo, e mal percebi a presença de um estranho até que ele apareceu correndo em minha direção. O rosto dele estava marcado pela frustração e pelo cansaço, e a forma como se dirigiu a mim era quase desesperada.

Olhando pra trás, eu queria ter fingido demência naquela hora, mas como eu ia adivinhar que ele seria o gatilho para as minhas visitas ao céu e ao inferno?

— Você é a Maria Luiza, certo? — A voz  dele era urgente, quase ofegante.

Eu parei, um pouco surpresa, mas a situação se tornou menos esquisita quando eu percebi quem era. Gabriel Medina — O surfista brasileiro mundialmente famoso que foi recém contratado pela RIP para lançar a nossa nova coleção. Ele estava conosco há algumas semanas e era a primeira vez que eu o via pessoalmente.

— Sim. — Respondo simples, arrumando minha bolsa debaixo do braço.

— Estou tentando falar contigo tem quase uma hora. — Ele disse de maneira grosseira e eu respiro fundo, controlando minha vontade de revirar os olhos.

Pego meu celular no bolso de trás da calça e vejo 10 ligações perdidas de um número desconhecido. Era ele quem estava ligando incansavelmente.

— Se não podia esperar, talvez devesse ter arrombado a porta.

Ele me olhou, não com a cara arrogante de antes, mas ligeiramente surpreso, apesar da sua expressão mais aparente ser de cansaço.

Esses caras são muito mal acostumados.

—  Abre a porta. — Ele falou mais duro que antes, mas sabendo que eu não ia simplesmente abaixar a cabeça pra ele, independente de quem fosse.

Abri a porta de vidro e entramos.

— Você precisa buscar algo? Faça isso rápido, está tarde. — Tentei falar no tom mais neutro possível.

— Talvez leve algum tempo, eu não sei.

— Quanto tempo é algum tempo? — Eu quis saber.

— Você tem algum lugar importante pra ir? — Ele voltou a sustentar o olhar superior.

— Eu estava prestes a jantar com o meu pai depois de um longo dia trabalhando. —coloquei as mãos na cintura.

Ele me olhou sem emoção alguma e entrou no escritório.

Eu resolvi sentar em uma das mesas. Mandei mensagem para o meu pai avisando que talvez demorasse mais do que esperava, e ele logo respondeu.

"Tudo bem, meu amor, Steve está aqui"

[...]

Um bom tempo se passou enquanto eu mexia no celular e checava se Gabriel já tinha terminado de procurar o que quer que fosse.

Click and Surf | Gabriel MedinaWhere stories live. Discover now