Desculpas.

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O sol ainda estava baixo no horizonte, tingindo o céu com um tom alaranjado, mas eu mal conseguia apreciar a beleza da manhã. Meu coração estava pesado, e a raiva que me consumia nos últimas dias parecia agora um fardo insuportável. O "desentendimento" com a Malu ainda ecoava na minha mente, como um eco distante que me lembrava do que havia perdido.

Receber a notícia do acidente dela foi como um soco no estômago. A voz do meu amigo ainda ressoava em meus ouvidos, e eu sentia o mundo girar ao meu redor. "Gabriel, é sério. Ela tá no hospital." Minhas mãos tremiam, e a raiva que eu tinha guardado se transformou em desespero.

O ar parecia ter desaparecido de repente. Eu estava paralisado, as palavras de Leo ecoando em minha mente como um mantra torturante. O que eu havia feito para merecer isso? A briga que tínhamos parecia tão insignificante. Lembrei-me de como ela sempre esteve ao meu lado, sempre me apoiando.

— Você precisa ir vê-la, cara. — Leo insistiu, olhando nos meus olhos com uma intensidade que me fez sentir que eu deveria fazer algo, qualquer coisa. — Não importa o que aconteceu entre vocês, ela precisa de você agora.

— E se eu não for bem-vindo? — Retruquei, a raiva ainda presente, mas agora misturada com uma onda de culpa. O que eu diria para ela? Como eu poderia explicar a falta de comunicação?

— Medina, isso não importa agora. E se você não for? — Pedro interveio, sua voz firme. — Você vai se arrepender.

Como eu poderia ter deixado que um mal-entendido chegasse tão longe?

Aquelas palavras ecoaram em minha mente enquanto dirigia para o hospital. O caminho parecia interminável, e cada semáforo que parava era como um lembrete do tempo que eu havia perdido com ela.

Olhei para a praia, onde o mar quebrava contra as rochas, e percebi que, mesmo sem me falar, Malu sempre esteve presente. Ela era o porto seguro nos meus dias turbulentos, a pessoa que sabia como me fazer rir, mesmo nas horas mais sombrias. E ali estava eu, tão absorvido pela minha própria teimosia que me esqueci do quanto a valorizava.

Lembrei-me de como conheci Malu, aquele dia em que entrei na casa dela pela primeira vez. Eu precisava espairecer, e ela estava lá, com seu jeito leve e acolhedor. Desde o primeiro instante, ela tinha essa capacidade única de fazer todos se sentirem à vontade. O jeito que sorria para os desconhecidos, como se cada um fosse especial, me cativou instantaneamente.

E aquele momento me fez perceber o quanto eu gostava de vê-la feliz. Cada clique da câmera dela era um lembrete de que a vida estava acontecendo, e eu estava ali, perdido em meus próprios problemas. O que aconteceu parecia tão trivial agora. O que eu estava pensando ao parar de falar com ela por causa de algo tão pequeno? Meus sentimentos estavam tão confusos, e eu me arrependia profundamente de ter sido tão duro com ela, de não ter reconhecido quão única ela era.

[...]

Mais um dia no hospital. O cheiro de desinfetante era forte, e o silêncio parecia ensurdecedor. A recepcionista me direcionou até o quarto, e hesitei na porta, ouvindo as máquinas ao fundo. Malu estava lá, pálida e imóvel, em coma. A culpa me atingiu como uma onda feroz. Cada batida do meu coração parecia ecoar em meus ouvidos, cada segundo que passava era uma tortura.

— Irmão, você tá bem? — Leo apareceu ao meu lado, preocupado. — Você não precisa fazer isso sozinho.

— Eu deixei tudo isso chegar longe demais. Sinto tanta falta dela, das nossas risadas em Sydney, do tempo que tivemos juntos... — A dor me consumia, e eu me sentia impotente. O que eu faria se não tivesse mais a chance de ver aquele sorriso novamente?

— É por isso que você precisa falar com ela, mesmo que ela não possa responder. Acredite, isso pode fazer a diferença. Ela sempre foi forte — Leo disse, tentando me confortar. Eu podia ver a preocupação em seu rosto, mas a verdade é que não havia palavras que pudessem realmente me consolar.

Sentei-me ao lado de Malu, segurando sua mão. A suavidade da pele dela era um lembrete doloroso do que eu estava prestes a perder. Eu desejava poder voltar no tempo e corrigir meus erros.

— Me Desculpa. Eu não devia ter deixado a situação tomar conta. Você sempre foi a melhor parte de mim. Eu gosto de você, mais do que eu sabia. Me perdoa por estar tão cego? — Minha voz saia em um sussurro. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu não me importava mais com a aparência que tinha. Eu queria que ela soubesse que eu estava ali, que eu ainda me importava.

— Lembra dos nossos dias em Sydney? — Continuei, a voz saindo em um fio. — Aquelas tardes na praia, as risadas... Eu nunca me senti tão livre. Você tinha esse jeito de fazer tudo parecer mais leve. Você sempre me fez ver o mundo de um jeito diferente.

Leo me observava em silêncio, dando espaço para que eu despejasse tudo o que estava entalado em meu peito.

— Eu não quero que isso acabe assim. Não quero me arrepender do que poderia ter sido.

O tempo parecia estagnar enquanto eu segurava a mão dela. As máquinas ao redor bipeavam, e cada som parecia um lembrete de que ela ainda estava ali, lutando. Eu fechei os olhos, desejando que ela pudesse ouvir meu coração, que pudesse sentir a força do meu amor por ela. Era como se todo o resto do mundo tivesse desaparecido, e só nós dois existíssemos.

— Você se lembra do Luau que você mesma organizou? — Continuei, tentando me ancorar nas memórias que mais gostava. — Você estava tão linda e radiante. Aquela noite foi mágica, e tudo porque você estava lá. Você sempre trazia alegria, Malu. Eu sinto tanto a falta disso.

Olhando para seu rosto sereno, uma onda de saudade me invadiu. Cada lembrança era como um filme que passava na minha mente: as risadas, os olhares cúmplices, as promessas jogadas no universo, um nós que  gostaríamos que desse certo na pratica, mas só funcionava na teoria...

Leo estava quieto ao meu lado, mas eu podia sentir sua presença. Ele era um apoio inestimável, um amigo leal em um momento de desespero. Eu sabia que ele estava ali por mim, e isso me confortava.

Eu me inclinei para mais perto, pressionando um beijo suave em sua mão. O toque quente me deu uma nova esperança, como se aquele pequeno gesto pudesse de alguma forma transferir toda a energia que eu tinha para ela.

— Eu estarei aqui, Malu. Não importa o que aconteça, eu não vou desistir de você.

Leo colocou uma mão reconfortante em meu ombro, e eu sabia que, apesar da escuridão que nos cercava, havia um caminho adiante. Eu apenas precisava acreditar que Malu encontraria sua força e voltaria para mim. E, enquanto isso, eu estaria ali, esperando e lutando por ela.






...

Gente eu tentei o meu melhor! Sou péssima com ponto de  vista masculino, mas tentei entregar o melhor possível para vcs. Espero muitoo que tenham gostado 🥺

Click and Surf | Gabriel MedinaWhere stories live. Discover now