Capítulo 2

610 42 11
                                    

No dia seguinte, aproveitei que era final de semana para me demorar um pouco mais na cama.

Depois do episódio com Medina, lembrei que não perguntei à ele sobre o que tinha acontecido com Yasmin, mas realmente não era da minha conta.

Casais são assim. Brigam, transam, se chamam de loucos.

Me peguei pensando um pouco demais nisso enquanto estava enrolada nos meus lençóis brancos.

O sol já entrava pela minha janela no meio da manhã.

Ouvi um barulhinho de mensagem no celular.

Entre as notificações de mensagem de Heather, minha melhor amiga, tinha uma nova mensagem de um número desconhecido.

Abri. Dizia "Obrigado".

Soube que era Gabriel, não era como se eu conhecesse muitos brasileiros aqui na Austrália. Fiquei surpresa, mas tudo bem, era o mínimo que ele deveria fazer depois de ter sido levemente arrogante comigo.

Respondi às mensagens de Heather e pensei em maratonar alguma série durante o dia.

Minha vida social era quase nula. Eu saía com Heather e alguns amigos da faculdade, mas nossa relação era tão melhor virtualmente que eu preferia fazer uma vídeo chamada alegando estar com gripe do que realmente sair de casa.

Eventualmente, alguns me descobriam pedalando sozinha pela praia, mas todos eles já sabiam como a minha mente funcionava, e me davam o devido espaço para ficar confortável. Eu era grata.

Enquanto escolhia qual série assistir, meu pai bateu na porta.

— Bom dia, meu amor — Ele falou da porta, segurando uma xícara de café.

O cheiro era incrível. Meu pai sempre foi um mestre na cozinha. De vez em quando me pego questionando o motivo dele ter escolhido jornalismo ao invés de culinária.

Mas aí eu lembro que ele ama ser jornalista também. E lembro que amo fotografar, eu também não abriria mão do meu amor pelas lentes por qualquer outra função que eu fosse muito boa.

O estágio como assistente de fotografia e visual reacendeu minha paixão pela profissão, depois que eu quase larguei a faculdade pra ficar em casa sem saber que rumo dar à minha vida após o falecimento da minha mãe.

Desde pequena quando eu a observava com a câmera pendurada no pescoço para lá e para cá, eu sabia que queria ser como a ela. Ela conseguia perfeitamente incorporar na fotografia o que não enxergávamos a olho nu, a capacidade dela de produzir algo original que ainda tivesse uma identidade única era surreal, e hoje um pouco mais velha eu percebo o quão talentoso ela era.

Um dos meus objetivos na RIP era ganhar espaço para fazer meu nome e ser reconhecida pelo meu trabalho, era uma forma de agradecer a ela que tanto me inspirou.

Quem sabe um dia.

— Fez panquecas? — Respirei fundo sentindo o aroma familiar que vinha da cozinha e subia as escadas.

— Fiz, mas acho que vou fazer mais algumas pra visita.

— Que visita?

Franzi a testa. Podia ser Steven, seu melhor amigo ou Sara, mas meu pai tinha dito que ela estaria de plantão na redação hoje.

— A sua.

Ele indicou com a cabeça que alguém estava lá embaixo.

— Quem é?

Meu pai fez uma cara engraçada.

— Ele disse que o nome dele é Gabriel. Ele é bem forte.

O que Gabriel Medina tava fazendo na minha casa? Ele não tinha que estar em casa ou sei lá?

Click and Surf | Gabriel MedinaWhere stories live. Discover now