Capítulo 18

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A voz do meu pai ecoou pela casa.

— O café está pronto!

Que merda.

Olhei pro teto depois que Medina abaixou a minha blusa. Minha respiração ainda precisava de controle.

— Desculpa. — Ele falou levantando da cama de costas pra mim.

Me apressei pra recobrar a consciência.

— Não é culpa sua. — Cada palavra parecia alta demais pro silêncio em que estávamos antes.

Gabriel se virou pra mim e eu desviei o olhar quando notei o volume no moletom dele.

— É sim. — O moreno mexeu no cabelo. — Ele me ofereceu um café quando eu cheguei.

Andou pelo quarto até a janela antes de continuar.

— Disse que iria moer uns grãos especiais e que levaria um pouco de tempo a mais que o habitual. — Medina falava meio reticente.
Algo semelhante à frustração e algo mais.

— Ah.

Ele voltou a se sentar na ponta da cama, com uma cara de concentração, e olhou impaciente para a frente de sua calça.

— Eu vou... descer, ok? — O informei, sem realmente esperar uma resposta.

Já era relativamente tarde pra tomar café, mas com meu pai não tinha tempo ruim.

Desci as escadas torcendo para que Gabriel resolvesse aquilo antes de chegar à cozinha e chocar meu pai.

— Oi, princesa, quer café? — Ele me ofereceu animado demais pra hora que era.

— Claro! — Sorri forçado, com todo o meu corpo tenso e dolorido pela interrupção repentina.

O meu ex amigo secreto desceu dois minutos depois, já recuperado do infortúnio, e pegou uma caneca grande de café.

Depois de conversar bastante com Medina, meu pai anunciou que iria se recolher. Eu, extremamente incomodada de estar naquele estado hormonal conversando com eles, fiquei aliviada quando meu pai subiu.

Eu, encostada na mesa, olhava pra tudo, menos pra ele. Não conseguia encará-lo ainda.

Aquilo tinha mesmo acontecido? Onde é que eu tava com a cabeça?

— Filme? — Ele sugeriu depois de um silêncio constrangedor em que percebi que ele me olhava.

Eu assenti e sentamos no sofá, um em cada ponta, o mais longe possível um do outro. Que nem duas crianças brigadas.

Agora Gabriel também não ousava me encarar.

Beirava o patético, mas não sabíamos o que dizer, nem como agir. Toda a intimidade dos toques sumiu em um único segundo.

Nossa situação era tão frágil assim?
Ridículo, mil vezes ridículo. E mesmo
achando infantil, eu congelava cada vez que ele se mexia minimamente no sofá.

Ele podia tanto levantar, ir embora e não voltar mais quanto vir pra cima de mim e terminar ali mesmo o que tínhamos começado.

Eu não tinha certeza para qual time eu tava torcendo.

Dei olhares imperceptíveis na direção dele algumas vezes, mas ele não olhou de volta.

Infelizmente, aquele café me manteve acordada a noite inteira. Isso e a tensão de um Gabriel Medina parecendo inquieto mas ao mesmo tempo imóvel, há pouco mais de um metro de mim. Eu iria cheger na RIP feito um caco.

[...]

A luz da manhã passava pelo vidro da janela quando meu pai desceu. Eu estava na mesma posição exata há horas, Medina tinha se mexido pouco, os olhos vidrados na TV que nem um viciado.

— Bom dia! — O bom humor em pessoa.

— Bom dia, pai. — Respondi.

Ele entrou direto na cozinha e gritou de lá:
"café?"

Olhei pro surfista esperando a resposta dele, com a expressão mais sem emoção do mundo.

— Claro! — Medina respondeu fingindo animação na voz, mas me encarando com um novo rosto.

Havia algo diferente ali.

— Vai ser mais rápido dessa vez! Deixei já moído. — Meu pai respondeu de volta.

— Sorte a minha. — Gabriel murmurou olhando pra TV de novo, com um tom que eu nunca tinha ouvido ele usar.

O resto da manhã na presença do meu pai foi... estranho, e mais estranho que isso era a frieza que Medina tinha assumido ao interagir comigo.

Ele não chegava a ser grosso, era mais como um tom indiferente. Aquilo me incomodou até os ossos, mas eu não o questionaria sobre isso.

No banho, tocar a minha pele era uma experiência totalmente nova. Sentia um formigamento quando lembrava dos dedos dele passeando em mim. Ele estava ali no quarto ao lado, tão perto e tão longe.

Quando entrei no quarto já vestida, o encontrei vazio. Em cima da cama, estava o meu álbum em que eu mexi na noite anterior. Que merda.

Embaixo da última foto na pagina direita havia estava uma palavra na caligrafia de dele.

"Desculpe".

Joguei o álbum de volta na cama e me proibi de pensar no que aquilo significava.

Fui para a RIP e tive um bom dia.

Conheci alguns funcionários novos, ajudei um novo contratado a criar um planejamento de lançamento de sessões, até fiz vídeo conferência com minha chefe que estava viajando.

— Luiza Maria, que bom te ver de volta. — Ela estava com uma camiseta da RIP na cor rosa bebê e um sorriso enorme, claramente se divertindo. — Sabe o que eu tô fazendo?

— Hum... projeto novo?

— E é uma ideia nova, no mínimo interessante! — Ela deu uma risada exagerada e a chamada travou um pouco.

— O quê é? — Franzi o cenho achando graça, mas curiosa.

— Projeto de série envolvendo surfistas locais! Vai dar até pra fazer diário de gravação e já tenho até contato de um canal de TV pra fazer isso funcionar! — Claire saltitava no escritório onde estava.

— Aprovado pelo Scott? — Perguntei sabendo já a resposta. Scott Miller deixava Claire Summer fazer o que quisesse.

Quando ela confirmou, me uni à empolgação.

Era realmente um serviço interessante para uma marca começar a fazer, nenhuma outra do ramo tinha pensado nisso.

Depois dela me explicar os detalhes do novo projeto, eu passei pelo escritório um pra gastar meu tempo livre.

E quem tinha que estar lá? Gabriel Medina, claro. Logo menos ele estaria indo embora, então muito provavelmente estava acertando algumas coisas antes de partir.

Acenei pra Collins e Luke, mas Medina não se virou pra mim, mesmo quando um dos amigos o cutucou para avisar que eu estava por ali.

Tentei não me sentir ignorada. O que estava acontecendo? Eu tinha feito algo de errado?

Os vi mexendo em alguma planilha no excel, e fui embora sem me despedir, já que pareciam estar concentrados em algo importante.

Já em casa, a intervenção de Medina ia acabar com a minha sanidade mental. Que ele fosse embora da Austrália e esquecesse, apagasse completamente da cabeça dele a minha existência.

Me incomodava pensar que, se ele quisesse, eu o deixaria tirar mais ainda de mim. Talvez tudo.

Eu não permitiria que as viagens de vai e vem dele deixassem marcas no asfalto.

...

Não batemos a meta de votos, mas a de comentários sim e eu não poderia deixar de aparecer aqui!

Muito obrigada pelos votos e comentários , um agradecimento especial para as divas @Vickym30 @ddaengchwitae @justinmeubb @rich90s @lalabsii @aliensuperstarxx @YasminPereira010 <3

Obg por sempre comentarem e interagirem aqui ❤️

Prometo voltar logo, bjssss

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