Capítulo 3

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Passei o domingo com Heather e o resto da semana me perguntando se Medina ia me mandar um oi ou algum meme.

Ele até foi no escritório duas vezes, mas uma eu tava no almoço e a outra a gente se viu de longe e ele me deu um sorriso. E também ele tinha outros compromissos na Australia, não tinha necessidade de ficar todos os dias no escritório, muito menos integralmente.

Não contei sobre ele à ninguém. Cheguei a pensar que aquele sábado tinha sido coisa da minha cabeça. Tudo alucinação.

Assisti um podcast onde ele foi convidado e Medina se derreteu ao falar de Yasmin. Fiquei feliz por eles. Apesar dos problemas, parecia real e estável.

Me diverti assistindo, ele parecia leve e despreocupado.

Assim que o podcast terminou, como se soubesse que eu estava o acompanhado ele me mandou um meme e eu respondi, sem me prender naquilo ou esperar resposta.

Assim que o podcast terminou, como se soubesse que eu estava o acompanhado ele me mandou um meme e eu respondi, sem me prender naquilo ou esperar resposta

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Foquei em outras coisas. Não é só porque eu tenho poucos amigos que eu preciso ficar procurando por novos. O que vier tá bom, e se não vier tá bom também.

[...]

Sexta à noite, Medina estava no escritório, provavelmente resolvendo burocracias.

Conversávamos eu, Collins, Melissa e Luke sobre o lançamento da próxima coleção. As fotos seriam na semana seguinte e eu estava torcendo para ser chamada dessa vez, eu queria tanto participar, nem que fosse só para segurar uma lente.

— Fica tranquila, Malu, vai dar certo! — Melissa me animou, após eu comentar o quanto queria ir no ensaio. Eu era a única estagiária no meio deles.

— Eu faço questão te dar o meu lugar, fiquei sabendo que querem lançar outra coleção com o Owen, preciso conhecer ele pessoalmente antes de morrer. — Luke comentou, de todos nós ele era mais fascinado pelo mundo do surf.

— Vou falar com a Claire, pode deixar que esse ensaio vai ser teu! — Collins disse, arremessando uma bolinha de papel e acertando em cheio na lata de lixo.

Quando eu estava de saída do escritório, deixando meus amigos que ficaram até mais tarde, Medina perguntou discretamente se poderia passar na minha casa. Disse que não tinha problema, era sempre eu e meu pai, era bom ter mais uma companhia.

[...]

O celular do meu pai tocou e ele foi atender na sala. Quando voltou, avisou que tinha um plantão de urgência na redação por conta de alguns desastres naturais no oeste do país.

— Não se preocupe, minha linda, Sara estará lá também, eu devo cochilar um pouco na casa dela que é mais próxima antes de ir para o meu próprio plantão habitual.

Concordei com a cabeça, pensando se aquilo não afetaria a saúde dele. Muitos plantões. Pelo menos ele tinha Sara para compartilhar os problemas da redação.

— Toma cuidado! — Dei um abraço nele.

— Claro, meu amor. — Ele se virou pra Medina. — E você, cuide da minha garota!

Gabriel tinha algumas mudas de roupa no carro e foi buscá-las. Eu fui tomar banho.

Enquanto assistíamos a um filme, a energia acabou. Chovia e ventava muito do lado de fora.

Eu me arrepiava a cada trovão, odiava tempestades. Na Austrália, qualquer garoa poderia virar uma enchente, e eu não me sentia muito bem no meio de... tanta água.

Problemas de viver na ponta do mundo, num pedaço de terra no meio do oceano.

Já era bem tarde, quando sugeri de ir me deitar. Eu não sabia se Medina pretendia dormir na minha casa, mas eu não tava preocupada com isso. A tempestade do lado de fora tinha toda a minha atenção.

— Já que estipulamos que nada disso aqui é estranho, eu vou dormir aqui, tudo bem? — Ele pediu enquanto massageava o meu pé por cima da meia. Naquela altura, eu já tinha percebido que as massagens eram a forma de carinho dele. Um agradecimento.

— Sem problemas. — Concordei.

Eu pulei com o trovão que se seguiu e Medina notou o medo no meu olhar.

Ele não sabia o porquê do meu medo, mas eu não ia contar meus traumas dessa forma, pouco me importava com o que ele tava achando.

Então, ele se deitou do meu lado, tomando cuidado para não encostar em mim sem a minha permissão.

Em qualquer outro momento eu teria evitado aquele movimento dele, mas o vento e a chuva faziam tanto barulho que eu só queria algo fizesse tudo isso parar.

Ele capturou meu olhar assustado.
Nos entendemos ali e ele me abraçou para me acalmar.

— Obrigada. — Aconcheguei minha testa no pescoço dele, enquanto regulava a minha respiração inalando o seu perfume.

— De nada.

Ficamos em silêncio por um tempo.

Eu olhei aquela cena de fora e me perguntei mil vezes o que Gabriel Medina estava fazendo na minha casa. Na minha vida.

Por que tentar fazer uma amizade logo comigo?

Eu tinha pouco pra oferecer. Não era a mais engraçada, a mais talentosa ou algo do tipo. Eu, literalmente, não era a melhor em nada e aquilo tudo não fazia sentido.

Apesar da falta de razão da presença dele, eu agradeci ao universo por não estar sozinha naquela noite.

Então, eu entendi que eu era um passa tempo.

Uma forma mesmo de Medina sair da realidade por algum tempo. Não era a melhor das relações, mas ainda assim eu estava ok com o fato de ser uma distração, uma pausa do mundo real.

Era bom ser capaz de tirar alguém da sua realidade. Criar um mundo novo pra ela, mesmo sem esforço.

Todo precisamos de um pouco disso, certo?

— Por que você está aqui? — Perguntei com a voz abafada enquanto minha respiração batia na gola da camisa dele.

Ele pensou antes de responder.

— Eu sinto que estou distante do mundo quando você está perto.

— É que eu te trato como gente, não como uma pessoa famosa. — Refleti.

E aquilo fazia todo sentido.

— Às vezes a gente esquece do mundo real.

— O mundo real é um porre. Queria poder sair da realidade, viver outra vida ou ser outra pessoa de vez em quando.

Ele se afastou um pouco para me olhar nos olhos.

— Estar aqui pra mim é como ser outra pessoa. — Ele me fez um carinho no cabelo — Você pode tentar ser outra pessoa aqui comigo também.

Ri.

— Quem eu posso ser na minha própria casa além de mim mesma?

— Quem você quiser ser. — Ele falou como se desse uma receita simples. — Quem você gostaria de ser comigo?

Eu pensei sobre a pergunta dele e imaginei no fundo da minha mente qual tipo de resposta ele esperava.

Estar tendo aquela conversa com Medina também me fazia sentir desconectada do mundo, ou de quem eu achava que era.
Ele estava virando um pedacinho escondido da minha vida que ninguém sabia sobre. Eu não falaria com Heather sobre ele, e Gabriel não comentaria sobre mim com seus amigos, não falaria das receitas do meu pai e não contaria da noite da tempestade com ninguém.

Ser um segredo era... bom.

— Eu gostaria de ser sua amiga.

Medina sorriu pequeno.

Click and Surf | Gabriel MedinaWhere stories live. Discover now