capítulo 41

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AYSHA BAIKER

LOS ANGELES, CA
13.10.2024
07H14AM


Tenho medo das pessoas me acharem estranha...

ALLISON CONTI

Sempre senti como se eu fosse um fardo na vida das pessoas e que elas só me aturassem por respeito e educação.

AYSHA BAIKER

Na maior parte do tempo me acho bonita, mas quando estou sozinha...

ALLISON CONTI

Sinceramente não achei que chegaria a essa idade.
As minhas cicatrizes dizem por si só.

AYSHA BAIKER

Quando eu era mais nova me trancava no banheiro e me forçava a chorar porque uma vez eu li num livro que o corpo humano era em sua maioria feita de água então achei que se eu chorasse o suficiente poderia emagrecer.

ALLISON CONTI

E toda vez que eu me fazia sangrar ficava me perguntando como eu podia fazer aquilo comigo mesma.
Estava me fazendo pior do que todos me faziam mas aí eu cheguei a conclusão...

AYSHA BAIKER

Não faço mais isso, eu perdi muito peso e agora me sinto melhor comigo mesma mas minha mente não me deixa esquecer o que fiz com ela... A antiga Aysha.

ALLISON CONTI

Na verdade eu sou uma pessoa como milhares de outras e aprendi a demostrar menos mesmo que eu sinta demais.

AYSHA BAIKER

Levanto o olhar para as folhas que se penduram em cada galho da árvore acima de mim. Cheguei mais cedo hoje talvez pela vontade de descontar a ansiedade em algo melhor.

Ansiedade.

Só sei que está me matando toda vez que acordo e só penso em ver ela.

É errado sentir raiva? Porque é o que eu sinto cada vez que eu penso nela.

Como pode uma pessoa penetrar e grudar tão fundo dentro da minha cabeça.

Como pode ela ser tão bonita. Extremamente e perfeitamente linda e com uma aparência tão delicada como uma estátua de mármore na Grécia Antiga sendo feito a partir de proporções perfeitas.

Além de ser inteligente. Devo dizer que ela não se enquadra no meu tipo mas quando a conheci o meu tipo virou ela.

E isso me deixa puta.

Já conheci muitos tipos de mulheres, mas sempre foi bem casual, namorei uma vez na quarta série. Tínhamos nove anos e ela tinha franjinha, me chamou pra casa dela para me mostra o quanto a gatinha dela que se chamava Marrie era fofa e me deu um beijo na bochecha. Depois disso a gente decidiu que namorava mas terminamos quatro meses mais tarde.

E aí eu cresci e infelizmente as relações foram “evoluindo” junto comigo e ficaram rasas.

Namorei mais duas vezes e foi trauma atrás de trauma.

Mas quando eu vejo ela...

Depois da praia deixei ela em casa e me lembrei de que não tenho o contato dela.

Acho que é porque os olhos dela sempre me distraem.

O sinal toca, pego minha bolsa e minha coisas quando sinto meu celular vibrar.

Número desconhecido foi adicionado ao grupo. – Faculdade
As aulas já começaram a tanto tempo e agora entra gente transferida...

Assim que penso em guardar meu telefone, ele vibra de novo.

Número desconhecido

Bom dia. Eu entrei agora transferida e o Sérgio me colocou no seu grupo de fotografia.

Só espero que não seja uma pessoa desagradável.

...


ALLISON CONTI

LOS ANGELES, CA
07H31AM

Tento não pensar na ruiva o tempo todo. Nem no jeito que gaguejei quando ela me chamou de linda. Ou no jeito que logo em seguida fiquei a encarando por longos minutos.

Não consigo parar de encarar meu celular.

Esse tempo todo e eu não pedi seu número, não porque eu não queria mas porque nem cheguei a pensar sobre.

O número com o nome “desconhecido” brilha na tela e é como um lembrete de toda aquela droga de “fase”.

Mesmo se eu quisesse não poderia sumir do nada, estava bom demais pra ser verdade. Além do mais, tem um carro me seguindo desde que eu saí de casa.

Hoje é quarta feira – 07h34min e tem literalmente e não pela primeira vez, um carro me seguindo.

Assim que saí pela porta o vi na esquina parado.

Toyota Camry 2015, 4 cilindros e 211 HP

Já é a quinta rua que eu viro e ele aparece bem atrás de mim.

Entro na pista com carros demais pra ser notada.

Olho para o retrovisor e ele ainda está na minha cola.

— Desnecessário.

Seis carros a minha frente tem um modelo igual ao meu, olho para atrás e vejo ele a três carros atrás.

Passo entre as pistas e ouço as buzinas quando passo pra frente do carro no mesmo modelo.

Ativo o piloto automático e solto o cinto de segurança.

Passo para o banco de trás, abrindo o estofado que divide o banco de trás do porta malas.

Assim que chego lá atrás abro a maleta de placa.

Destranco o porta malas e abro apenas o suficiente para retirar a placa.

Troco o gancho e o penduro no lugar.

Depois de trocar a placa volto para o banco do motorista desligando o piloto automático. Assim que enxergo uma rua acelero e viro duas ruas depois.

Por sorte vejo uma garagem fechando e entro com o carro, o desligando em seguida.

Depois de esperar pelo menos 20 minutos, uma senhora aparece na garagem com uma espingarda.

— Eu estou armada!

Saio do carro com as mãos pra cima em sinal de rendição.

— Desculpa, eu confundi com a minha garagem.

— Acha que eu vou cair nessa!? Anda! Sai da minha casa, se não eu atiro!

Ela bate do botão que abre a garagem e eu estro no carro.

Ouço ela engatilhar e saio o mais rápido possível.

Assim que estou na rua olho a minha volta.

Ninguém.

Poxa vovó.


AA: Meus Olhos Verdes Só Enxergam Laranja Onde histórias criam vida. Descubra agora