capítulo 8

493 54 0
                                    

ALLISON CONTI

LOS ANGELES, CA
30.08.2023
15H20 PM

Interrogatório: Registro de perguntas e respostas.

— Um aspecto muito importante, que é habitualmente negligenciado, mas deveria ser mais observado é a forma de registro em ata das perguntas e respostas das partes e testemunhas nos respectivos interrogatórios. — O professor diz e aponta para um dos garotos sentados no canto para que ele continue.

— A forma mais popular deste registro é o formato que vou denominar “policial”, no qual, na medida em que o depoente é interrogado, registra-se tão-somente a sua resposta, normalmente precedida pela partícula “que”. Outro formato, muito mais fiel à realidade da audiência, é o formato “pergunta-resposta”, no qual o magistrado reproduz integralmente a pergunta apresentada pelo advogado, seguida da resposta da testemunha. — O garoto lê em seu notebook.

— Vejam, em comparação, estes dois formatos de registro utilizando-se, como exemplo, as questões apresentadas pelo Sr. Carter, consignando-se em vermelho o registro no formato “pergunta-resposta” e em branco no formato “policial”: — O professor diz apontando para o quadro branco.

– Se a testemunha, após o registro de saída, retornava para trabalhar? Sim.
“que, após o registro de saída, a testemunha retornava para trabalhar”. — policial
– Se todo o período de trabalho estava registrado? Não.
“que nem todo o período trabalhado era registrado”. — policial

— Ou seja, um leitor da ata pode vir a ter a impressão de que a testemunha asseverou que após o registro de saída retornava para trabalhar ou que nem todo o período trabalhado era registrado, o que é muito distinto do outro formato utilizável, o “pergunta-resposta”, no qual se percebe que a narração foi toda elaborada pelo advogado, restando à testemunha apenas a confirmação da afirmação que é, em verdade, do advogado. — O professor continua. —Aliás o formato “pergunta-resposta” faculta ao magistrado, inclusive, em algumas situações, permitir a realização da pergunta, deixando claro o modo como formulada, o que lhe possibilita, posteriormente, fazer a sua crítica e desconsiderar a resposta pelo mesmo fundamento pelo qual a indeferiria.

— Srta. Conti.

— Outra vantagem ainda repousa na desnecessidade de reproduzir a pergunta, no caso de indeferimento, o que acaba sendo um transtorno no formato "policial", mas que é bastante cômodo no formato “pergunta-resposta”, na medida em que o próprio Secretário de Audiências vai reproduzindo a pergunta na medida em que esta é formulada, sendo que o Juiz ao indeferi-la tem, apenas, que fundamentar, já estando ela consignada. — Continuo já tendo todo o conteúdo gravado na cabeça.

— Eu adoto um modelo híbrido no qual as perguntas efetuadas pelo Juízo são consignadas no formato “policial”, e as dos advogados são registradas no formato “pergunta-resposta” e ainda precedidas pela informação de qual o advogado que está apresentando os questionamentos. Ainda, no curso do interrogatório das partes, se há perguntas incidentais realizadas pelo Juízo, estas são, ademais de registradas no formato “policial”, ainda destacadas pela utilização dos tipos em itálico, de modo a permitir uma identificação imediata de cada uma das situações. — Finalizo.

O sinal bate indicando o final da última aula e todos recolhemos nossos materiais.

Assim que estou perto da porta o professor me chama.

— Srta. Conti, você conseguiu gravar o conteúdo de ontem pra hoje?

— Na verdade comecei a estudar sobre direito assim que fui informada de que teria que fazer esse curso. Meus pais são bastante rígidos no quesito estudo.

— Entendo, por mais que não queira esse curso você tem talento. Pude ver isso só nessas primeiras semanas, se você se esforçar sei que será uma ótima advogada Srta Conti.

Ele diz e se vira arrumando sua mesa. Fim de papo, essa é a minha deixa.

Saio do prédio vendo todos os alunos de outros cursos fazerem o mesmo.

Vejo de longe Cole sentado no capô de seu carro junto com os garotos do time enquanto Carla Moore dá descaradamente em cima dele. Sasha está ao seu lado e não faz nada além de desviar o olhar.

Me aproximo deles colocando as mãos nos bolsos do meu moletom.

— Allison! — Cole diz se desvencilhando da loira e passando o braço pelos meus ombros. — Oi!

— Oi, Cole. — Digo pela cara que a loira faz. — Oi Sasha, oi meninos. — Digo e eles sorriem para mim.

— Eu também estou aqui. — A loira diz.

— Ah, oi. Qual o seu nome mesmo? — Pergunto irônica mesmo já sabendo a resposta.

— Carla.

— Oi Carla. — Digo sorrindo.

Ela faz uma carinha de nojo e se vira pra Sasha.

— Vamos Sasha, acho o cúmulo termos que frequentar esse lugar tão mal frequentado. — Diz arrastando Sasha.

— Foi mal. — Sasha diz baixinho esquenta é arrastada pra longe.

Tiro o braço de cole dos meus ombros o encarando.

— Sério isso?
— E vocês, não são amigos dele? — Digo falando com os quatro meninos ali.

— Qual foi Allison, a gente não tem nada haver com isso. — Um dos meninos que eu suponho se chamar Richard diz e os outros concordam.

— É. E o que você tem a dizer? — Me viro pro meu amigo. — É por isso que você não consegue nada, como quer que a menina te dê bola se você dá confiança pra amiga dela?

— Quem disse que eu quero alguma coisa com ela? — Ele diz ficando bravo.

Sorrio negando com a cabeça e me afasto deles. Os homens realmente não pensam.

Assim que fecho a porta do carro vejo a ruiva parada na calçada falando ao telefone.

Dirijo parando o carro alinhado a calçada e abaixando o vidro do carro.

— Sim, tá bom. Vou te esperar aqui. — Ela diz desligando e virando em minha direção. — Oi, Allison. — Diz sorrindo e se abaixa perto da janela.

— Oi ruiva, como você está?

— Estou bem, estou esperando a Sam. E você, como está?

— Bem. — Digo e olho para o meu celular. — Querem carona?

— Ah, não. Só estou esperando a Sam, ela está com a chave do meu carro. — Ela diz e ficamos em silêncio. — Você está no curso de moda? — Pergunta para quebrar o silêncio.

Sorrio porque as pessoas sempre supõem isso.

— Não, estou em direito.

— Direito? Uau, nunca iria adivinhar.

—E você em artes eu suponho. — Digo olhando para o meu celular. — Visuais ou cênicas?

—Sim, artes visuais.

— O que vai fazer no sábado? — Tomo coragem pra perguntar. A fitando.

— Ah, eu trabalho no sábado. — Ela diz enquanto ajeita seus óculos.

— Entendo. — Digo sem saber se é uma desculpa ou ela realmente vai trabalhar. Ela não parece uma pessoa que dá desculpas. — Enfi-

— Mas vou estar livre no domingo. — Diz vermelha. — Se você estiver livre.

— Vou estar. — Vejo Sam vindo ao longe. — Até mais, ruiva.
Digo fechando o vidro e indo embora.

__________________________

AA: Meus Olhos Verdes Só Enxergam Laranja Onde histórias criam vida. Descubra agora