𝕰𝖈𝖑𝖎𝖕𝖘𝖊 - 𝐁𝐞𝐧𝐞𝐝𝐢𝐜𝐭 𝐁𝐫𝐢𝐝𝐠𝐞𝐫𝐭𝐨𝐧 ✓

23 - 𝕬 𝕿𝖗𝖆𝖉𝖎çã𝖔 𝖊 𝖆 𝕿𝖊𝖓𝖙𝖆çã𝖔

LONDRES
A TRADIÇÃO E A TENTAÇÃO

Os dias após o baile de noivado passaram como uma névoa, lentos e confusos. Minha mãe, Lady Cavendish, estava totalmente envolvida nos preparativos para o casamento, e parecia que cada detalhe exigia sua atenção. Eu, por outro lado, sentia um vazio crescente ao meu redor. A tradição da minha família ditava que, após o noivado formal, os noivos não poderiam se ver até o dia do casamento. "Isso aumenta o desejo e a necessidade do homem", minha mãe insistia com convicção. "Ele valorizará ainda mais o momento em que estiver com você no altar."

Embora essa tradição me parecesse antiquada e absurda, eu respeitava as crenças da minha mãe e sua determinação. No entanto, não era fácil. O pensamento de Benedict, seu sorriso suave e o toque de suas mãos, estava sempre presente na minha mente. Eu tentava, de todas as maneiras, manter-me ocupada e afastar a ansiedade que vinha com a distância.

Passei a dedicar-me mais intensamente aos meus artigos, especialmente a um que eu já vinha trabalhando há meses. Ele abordava a questão da desigualdade das mulheres no ambiente de trabalho, algo que vinha me incomodando profundamente. Sentei-me à minha mesa com o manuscrito diante de mim, os dedos ansiosos para continuar escrevendo.

Peguei a pena e comecei a ler em voz alta, como sempre fazia quando queria sentir o peso das minhas palavras.

"'As mulheres, desde o início dos tempos, foram relegadas a um espaço onde suas capacidades eram diminuídas, ignoradas e, em muitos casos, completamente apagadas. No entanto, com a Revolução Industrial, a participação da mulher no mercado de trabalho se tornou inegável. Entretanto, o espaço que nos foi dado é o pior possível. Enquanto os homens dominam os cargos mais altos e lucrativos, a nós, mulheres, restam os trabalhos mais extenuantes, sem dignidade e, frequentemente, sem os direitos básicos. Trabalhadoras são forçadas a trabalhar por horas a fio em fábricas insalubres, recebendo uma miséria por seus esforços, enquanto os homens, com funções menos demandantes fisicamente, recebem o dobro, senão o triplo, por suas horas de trabalho. E ainda assim, a sociedade tem a audácia de nos considerar incapazes de ocupar posições de destaque. Essa visão precisa ser transformada, e a sociedade precisa reconhecer que, quando uma mulher trabalha, ela não o faz apenas por si, mas por todas as mulheres que vieram antes dela e que virão depois.'