𝕰𝖈𝖑𝖎𝖕𝖘𝖊 - 𝐁𝐞𝐧𝐞𝐝𝐢𝐜𝐭 𝐁𝐫𝐢𝐝𝐠𝐞𝐫𝐭𝐨𝐧

01 - 𝕺 𝖎𝖓𝖎𝖈𝖎𝖔 𝖉𝖆 𝖙𝖊𝖒𝖕𝖔𝖗𝖆𝖉𝖆

LONDRES
O INICIO DA TEMPORADA

As carruagens enfileiradas na frente da casa dos Bridgerton brilhavam sob a luz suave do entardecer, como se cada uma delas estivesse determinada a superar a outra em opulência. O ar estava pesado com o aroma de flores frescas e o murmúrio excitado dos convidados. Era o início da temporada de debutantes, e como sempre, Londres se preparava para uma sucessão de festas que, embora ostensivamente voltadas para o romance e a dança, sempre escondiam jogadas de poder, intrigas e pequenas vinganças.

Eu me inclinei para frente na minha carruagem, observando a multidão que já se reunia no pátio. As damas, com seus vestidos exuberantes, riam e acenavam com leques delicados, enquanto os cavalheiros observavam com olhos atentos e calculistas. A atmosfera estava impregnada de expectativas, mas para mim, esse teatro anual parecia cada vez mais vazio. Quem seria "o bom partido" deste ano? Quem será o escândalo? Como essas questões importam em um mundo onde as mulheres ainda têm tão pouco poder sobre suas próprias vidas?

Minha mãe, sentada ao meu lado, ajustou os punhos rendados do meu vestido e lançou-me um olhar severo. "Isabela, tente se comportar esta noite. Você sabe como é importante que você faça uma boa impressão."

Ah, como eu conhecia essa ladainha. "Sim, mãe," respondi, com a voz vazia de emoção. Sabia que qualquer expressão de cansaço ou frustração só a preocuparia mais.

Quando finalmente entramos no grande salão, fui imediatamente envolvida pela cacofonia de risos e conversas animadas. As paredes, decoradas com tapeçarias ricas, pareciam sufocar qualquer som que não fosse de riqueza e privilégio. Eu me mexi desconfortavelmente no meu vestido, sentindo os olhos de várias mães avaliadoras pousarem sobre mim, cada uma delas catalogando minhas possíveis virtudes e falhas.

Mas não eram seus olhares que me incomodavam. Era o dele.

Benedict Bridgerton estava parado do outro lado da sala, conversando casualmente com um grupo de jovens senhoras. Ele não parecia notar minha presença, mas mesmo assim, senti um calor subir pelo meu rosto. Ele sempre teve esse efeito sobre mim, irritante e inexplicável. Com seu sorriso charmoso e seu jeito despreocupado, ele parecia se divertir imensamente com tudo aquilo, como se estivesse acima da superficialidade da sociedade, e não mergulhado nela até o pescoço.

Tentei desviar o olhar, mas meus olhos insistiam em voltar para ele. Nossa última discussão ainda estava fresca na minha mente – uma troca acalorada sobre os méritos da arte moderna, que acabou se transformando em uma competição de quem conseguia ser mais sarcástico. Ele me deixou furiosa, como sempre, mas também... intrigada. Havia algo em Benedict que eu não conseguia ignorar, por mais que quisesse.

"Isabela!" A voz de Eloise me tirou dos meus pensamentos. Minha amiga se aproximou com um sorriso malicioso. "Você parece tão entediada quanto eu. Como consegue ser tão estoica no meio de toda essa bobagem?"

Eu ri, sentindo um pouco do peso nos meus ombros desaparecer. "Estou apenas praticando minha paciência, algo que você sabe que é uma virtude escassa em mim."

Eloise revirou os olhos, mas seus olhos brilhavam de diversão. "Tenho certeza de que esta noite não será tão entediante quanto você pensa. Ouvi dizer que Benedict Bridgerton está aqui."

A provocação em sua voz era inconfundível e foi acompanhada por uma risada maligna. Eu estreitei os olhos para ela. "Não comece, Eloise."

"Eu não estou começando nada," ela disse, inocentemente. "Só acho interessante como você e Benedict sempre parecem... cruzar caminhos."

"Deixe-me lembrar-lhe que nossos caminhos só se cruzam porque ele insiste em pisar no meu."

"Claro, claro," disse ela, com um sorriso que não alcançava seus olhos. "Mas, de qualquer forma, prometo tentar salvar você de qualquer conversa indesejada com admiradores enfadonhos esta noite."

Antes que eu pudesse responder, um braço apareceu ao lado de Eloise, oferecendo-lhe uma taça de champanhe. Eu olhei para cima, encontrando os olhos azuis de Benedict.

"Boa noite, senhoritas," disse ele, com aquele sorriso encantador que me deixava sempre desconfortável. "Eloise, Isabela... espero que estejam desfrutando da noite."

O tom casual em sua voz me irritou. Ele sabia exatamente como me provocar, e eu não estava disposta a dar-lhe a satisfação de ver que conseguia. "O que você quer, Benedict?" perguntei, seca.

Benedict apenas ergueu uma sobrancelha, claramente se divertindo. "Apenas ser cortês, minha cara. Não me diga que já está planejando nossa próxima discussão."

Eu sorri docemente, mantendo meu tom de voz baixo e firme. "Acredite, Benedict, discutir com você é o ponto alto das minhas noites."

Ele inclinou a cabeça, como se estivesse refletindo sobre minhas palavras. "Fico feliz em saber que consigo trazer alguma emoção para sua vida tediosa, Isabela."

Havia algo na maneira como ele disse isso, uma faísca em seus olhos que eu não conseguia decifrar, mas antes que eu pudesse responder, Eloise se intrometeu. "Agora, agora, vocês dois. Não vamos estragar a noite com suas brigas habituais."

Benedict riu suavemente e deu um passo para trás. "Como quiser, Eloise. Mas espero que todos tenham uma noite... interessante."

Ele se afastou, deixando-me com uma sensação de inquietação. Eu sabia que aquela não seria a última troca de farpas entre nós naquela temporada. Algo estava se formando entre nós, algo que eu não conseguia entender completamente, mas que sentia como uma corrente elétrica pulsando no ar sempre que ele estava por perto.

E, enquanto a música começava a tocar e os casais se moviam para a pista de dança, eu me vi desejando – contra toda a lógica – que Benedict me tirasse para dançar. Uma ideia ridícula, eu sabia, mas uma que não consegui afastar completamente.

E assim começou a temporada.